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Detroit exibe carros de sonho, enquanto público real quer SUVs

David Welch

Da Bloomberg, em Detroit (EUA)

12/01/2016 17h52

Buick Avista, Mercedes SLC, Hyundai Genesis G90... . Eles são alguns dos carros que mais chamam a atenção no Salão de Detroit em 2016. Só tem um problema: os modelos que os fanáticos por carros querem ver não são os que as pessoas estão comprando. O público come com os olhos os belos cupês e sedãs colocados em exposição, mas, na hora de comprar, escolhe espaçosos SUVs.

"Você vê um sedã interessante, um lindo cupê e mais alguns sedãs", disse Jack Nerad, analista executivo de mercado da empresa de precificação de automóveis Kelley Blue Book. "Só que não é isso que o mercado está comprando. É realmente intrigante".

- Leia também: Honda terá novo SUV... para o Brasil

Em 2015, melhor ano da história do setor automotivo dos EUA, as vendas de carros de passageiros caíram 2,2%, mas as vendas dos chamados light trucks -- picapes, minivans e SUVs -- subiram 13%. As vendas de SUVs e Crossover, como o pequeno Buick Encore (que dá origem ao Chevrolet Tracker) e o BMW X5, aumentaram 19%, segundo a empresa de pesquisa Autodata.

Este é o paradoxo que vem à tona nesta edição do Salão de Detroit.

O que é quente em Detroit

A Mercedes-Benz contratou a cantora de indie pop Ryn Weaver para fazer uma apresentação no lançamento do roadster SLC, um belo modelo de 363 cavalos de potência que substitui o SLK -- há ainda o novo Classe E, cheio de tecnologia. Mas as vendas de carros comuns da Mercedes caíram nos EUA no ano passado, enquanto as de SUVs subiram.

A Hyundai organizou seu próprio baile de debutante para a Genesis, sua nova divisão de luxo, que exibiu o sedã G90. Entrar no mercado de luxo não é nada fácil, mas a Hyundai está perseguindo essa meta com o tipo de sedã longo e elegante que os amantes de carros endinheirados adoram. Os bancos podem ser ajustados de 22 formas diferentes. O carro conta com um motor V8 de 425 cavalos de potência e, segundo a Hyundai, uma dirigibilidade melhor que a do Mercedes S550.

A Lexus, da Toyota Motor, também revelou um dinâmico veículo de desempenho: o cupê esportivo LC 500, que vai de 0 a 100 km/h em menos de 4,5 segundos, ou seja, é mais rápido que o Mercedes SL550, e que será vendido a partir de US$ 100.000 quando for colocado à venda, em 2017. Também está no rumo do Brasil.

Scion C-HP Concept - Mark Blinch/reuters - Mark Blinch/reuters
Toyota mostra conceito de SUVinho... mas carro real ainda demora um pouco
Imagem: Mark Blinch/reuters

Gasolina a R$ 2,14 ajuda?

Os carros mais potentes devem estar vendendo bem, com o preço da gasolina em baixa -- o barril de petróleo bruto atingiu o nível mais baixo em 12 anos, e com isso o custo médio da gasolina nos EUA é de menos de US$ 2 por galão (US$ 0,53 ou R$ 2,14 por litro).

Mas isso não está ajudando as marcas de luxo a venderem modelos que não são SUV. Um exemplo é o Mercedes Classe E, um modelo de tamanho médio vendido a partir de US$ 53.000, aproximadamente -- no Brasil, a versão mais em conta da nova geração deve chegar por não menos de R$ 300 mil. Em um mercado aquecido e com gasolina barata, suas vendas caíram 25%, para pouco menos de 50.000 carros. As vendas do rival BMW Série 5 tiveram um declínio de 16%, para 44.000 carros. O sedã Cadillac CTS sofreu uma queda de 37%, para menos de 20.000 carros, porque seus antigos compradores passaram a olhar para o outro lado da concessionária em busca do crossover SRX.

"Os SUVs parecem ser a bola da vez", disse Uwe Ellinghaus, diretor de marketing da Cadillac. "Eles são mais práticos e versáteis e agora são completamente aceitos pelas corporações e pelos consumidores de luxo".

Isso quer dizer que alguma empresa automotiva poderia ter dado mais brilho ao salão com um bom SUV crossover ou com algum outro utilitário esportivo.

A falta de lançamentos de SUVs é "apenas uma anomalia dos cronogramas", disse o presidente executivo da Ford Motors, Bill Ford, "porque o segmento SUV está crescendo muito rapidamente e há muitos modelos proliferando".