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Ford e Volkswagen juntas? Relembre os carros da Autolatina, que durou pouco

Praticamente um "Santana da Ford", o Versailles recolocou a marca no segmento de sedãs - Divulgação
Praticamente um "Santana da Ford", o Versailles recolocou a marca no segmento de sedãs
Imagem: Divulgação

Vitor Matsubara

Do UOL, em São Paulo (SP)

21/06/2018 04h00

Acordo durou menos de uma década e teve reflexos negativos para a marca americana

A indústria automotiva brasileira não vivia um bom momento no fim dos anos 1980. A falta de lançamentos era um dos motivadores dos resultados ruins obtidos pelo setor na América do Sul, especialmente Brasil e Argentina -- os dois maiores mercados do continente.

Diante deste cenário, Volkswagen e Ford decidiram se unir no país para economizar custos de produção. Nasceu a Autolatina.

Agora, três décadas depois, Volks e Ford voltam a discutir uma aliança para desenvolvimento de veículos, agora globalmente. Mas quais foram os frutos da Autolatina -- que muitos detratores apelidam de "Autolatrina"? Foi tudo ruim? Teve pontos altos?

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O "casamento" de 1987 teve a Volkswagen no controle com 51% das ações, cabendo à Ford os 49% restantes. Mesmo sendo a parte minoritária no acordo, a Ford assumiu o risco pela chance de ganhar participação de mercado -- algo que nunca aconteceu durante ou após o fim da aliança.

Deste casamento nasceram cinco modelos que entraram para a história da indústria automotiva brasileira -- só que não por um bom motivo -- além de compartilhamentos de mecânica.

Motor da Volkswagen, carro da Ford

Ford Escort XR3 - Divulgação - Divulgação
Escort ganhou motor AP de origem VW -- e o apelido "Escortwagen"
Imagem: Divulgação

Antes de desenvolver produtos próprios sobre plataformas iguais, a Autolatina promoveu um compartilhamento de motorizações entre modelos Ford e Volkswagen.

Apenas a marca norte-americana foi beneficiada com a decisão. O Escort XR3 trocou o criticado CHT pelo AP 1800 do Gol GTS, em 1989. Ele tinha 99 cavalos declarados e câmbio de Golf. A segunda geração, enfim, trouxe o AP-2000 de origem VW ao XR3.

O motor de 1,8 litro também foi aplicado em outras versões do Escort, como a Guarujá, que tinha carroceria de quatro portas.

Até a picape Pampa aproveitou o conjunto, que na época também equipava a Saveiro. Entretanto, os engenheiros da Autolatina precisaram fazer algumas modificações para encaixar o motor no cofre da Pampa. Resultado: a Saveiro tinha 8 cv a mais.

O compartilhamento também incluiu o motor AE-1600 com Ford Escort e VW Gol.

Volkswagen Apollo/Ford Verona

Volkswagen Apollo - Divulgação - Divulgação
Apollo tinha quase o mesmo visual do Ford Verona
Imagem: Divulgação

O primeiro produto da Autolatina foi o Volkswagen Apollo, nada mais do que um Ford Verona com logotipos da marca alemã.

Para se diferenciar de seu "quase clone", o Apollo era vendido apenas com o motor AP 1.8, associado ao câmbio mais curto do Escort XR3. A calibragem dos amortecedores também era mais rígida, aproximando-o do comportamento dinâmico de um Volkswagen. O interior tinha diferenças mais significativas em relação ao Verona, trazendo painel e volante com desenhos próprios.

Lançado em 1990, o Apollo era vendido nas versões GL e GLS. A configuração de entrada tinha para-choques pretos e acabamento mais simples. Grande parte dos itens opcionais do Verona eram oferecidos de fábrica no Apollo GLS, incluindo rodas de liga leve, ajuste lombar dos bancos, rádio e vidros elétricos. A generosidade, porém, vinha acompanhada de um preço 20% maior.

O modelo teve vida curta no mercado nacional, saindo de cena em 1992. Em seu lugar veio o Logus, outro fruto da Autolatina, este baseado no Ford Escort.

Ford Versailles-Royale/Volkswagen Santana-Quantum

Ford Versailles - Divulgação - Divulgação
Versailles era um Santana com apenas duas portas
Imagem: Divulgação

A Ford estava sem representante no segmento de sedãs executivos após o fim do Del Rey. Somente após a aliança com a VW é que a empresa voltou à briga com o Versailles em 1991.

Derivado do Santana, o carro tinha diferenças visuais mais visíveis do que a dupla Apollo/Verona. Sedãs como o Taurus e o Sierra foram referências de design para o Versailles, que não tinha grade frontal.

Traseira alta e mais quadrada do que o Santana ressaltava o desenho das lanternas "ligadas" por uma régua vermelha acima do lugar da placa.

A cabine também se distanciava do Santana, ainda que peças como os botões dos controles de ar-condicionado fossem iguais. Ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos e travas elétricas eram oferecidos na versão mais cara.

As motorizações, porém, eram compartilhadas entre os sedãs. As versões mais baratas do Versailles tinham o AP 1.8 de 99 cv, enquanto a topo de linha Ghia vinha com o 2.0 de 125 cv na configuração com injeção eletrônica (oferecida como opcional) movida a gasolina.

Em 1992 estreava a perua Royale. Derivada da Quantum, ela tinha apenas duas portas -- uma forma de diferenciá-la de sua irmã da VW. A capacidade do porta-malas era de 695 litros nas duas peruas e a Royale custava 5% a menos.

Porém, as baixas vendas fizeram a Ford "esquecer" a dupla Versailles/Royale, que foi atualizada apenas em 1995. Além de novos faróis, lanternas e grade frontal, ambos passaram a vir com injeção eletrônica e a perua ganhou carroceria de quatro portas.

A oficialização do fim da Autolatina, porém, veio no mesmo ano. Os modelos resistiram até 1996, quando foram substituídos por Mondeo e Mondeo S.W.

Volkswagen Logus-Pointer/Ford Escort

Volkswagen Logus 2 - Divulgação - Divulgação
Logus tinha apenas duas portas para evitar concorrência com o Ford Verona
Imagem: Divulgação

Logus foi o primeiro fruto da aliança com design próprio. Projetado pelo estúdio Ghia em conjunto com os designers da Volkswagen, o carro tinha estilo atraente e apenas duas portas -- novamente um recurso para evitar concorrência direta com um modelo Ford, o Verona. Plataforma, motorizações e suspensão vinham do Escort. 

O Logus surgiu nas versões CL, GL e GLS, sendo a primeira vendida com o motor AE 1.6 e as duas últimas com o AP 1.8. Exclusividade do motor mais forte era o carburador eletrônico, que dispensava o uso do afogador. O câmbio tinha acionamento por cabos no lugar do tradicional varão.

Melhorias foram aplicadas a partir de 1994, quando a VW trouxe o AP 1.6 para o CL e o AP-2000 na versão GLS -- a injeção eletrônica chegaria alguns meses depois.

No ano seguinte surgia o Logus Wolfsburg Edition, oferecendo rodas de liga leve, pneus esportivos, faróis maiores e lanternas com luzes de ré escurecidas. Esta versão era vendida apenas com o motor 2.0 de 115 cv -- e foi a mais interessante da curta trajetória do Logus.

No mesmo ano estreava o Pointer, um belo hatch de quatro portas que também aproveitava a base do Escort. Seu lançamento, inclusive, deveria ter acontecido poucos meses após a chegada do Logus, mas a Volkswagen decidiu adiá-lo para oferecer a injeção eletrônica em todas as versões.

O Pointer era vendido nas versões CLi, GLi e GTi. As duas primeiras tinham o motor AP 1.8 de 99 cv, reservando ao esportivo a “honra” de ter o motor 2.0 de 116 cv -- que futuramente seria oferecido como opcional na GLi.

O GTi tinha direção hidráulica, travas elétricas, vidros elétricos, rádio toca fitas com equalizador, retrovisores elétricos, bancos esportivos Recaro e suspensão mais firme. CD player e teto-solar eram opcionais.

Porém, o sucesso de importados como o Fiat Tipo e a posterior chegada do Volkswagen Golf atrapalharam a trajetória do Pointer. Mais do que isso, o fim da Autolatina determinou a despedida dos dois modelos.

Volkswagen Pointer - Divulgação - Divulgação
O belo Pointer tinha até versão GTi com motor AP 2000
Imagem: Divulgação