Brasil virou exportador global de Kombi; parece bom, mas gera polêmica
Uma rápida busca no Google aponta meia dúzia de empresas que se dizem especializadas em vender Kombi para o exterior. A página na internet do Import Kombi Export tem visual um tanto tosco, mas se comunica com clientes em inglês, alemão e espanhol. E diz ter a missão de entregar a amada van entre cinco e sete dias.
Sem números oficiais, é difícil fechar dados concretos sobre a exportação de um modelo aposentado como a Kombi. Outra empresa do ramo, a Cool Kombi diz já ter despachado 178 unidades, segundo seu site.
Porém, o mercado local de unidades usadas está bem aquecido: foram quase 73 mil operações de revenda em 2016, além de outras 43 mil no primeiro semestre deste ano, segundo a Fenabrave. E isso pode dar uma ideia do porte do negócio.
Fato é que não há timidez quando o assunto é preço. Um dos anúncios, em inglês, é tentador: "Camper 1973 for sale. Cheap! Only US$ 16.500. Ready to go". Traduzindo para o português "PT-BR": Kombi 1973 à venda. Barata! Só R$ 52.150. Pronta para embarcar".
Talvez esteja em conta, mesmo. Segundo outra agência, a Combi Brésil, um modelo similar varia entre 25 mil e 50 mil euros (entre R$ 100 e R$ 200 mil). No Brasil, a mesma Kombi em melhores estados de conservação e originalidade gira em torno de R$ 100 mil. E faz só quatro anos desde que a Kombi deixou de ser produzida.
"Patrimônio nacional"
Mercado em alta, produção inexistente, polêmica no ar: um dia a Kombi brasileira vai sumir do mapa, entrar em extinção?
Essa polêmica surge a partir daquilo que alguns adoradores do modelo chamam de "evasão de patrimônio histórico". Em uma página do Facebook dedicada à Velha Senhora, é lançada a pergunta: aprova ou desaprova o envio de Kombis para o exterior?
Um fã responde:
Totalmente Contra. Kombi fabricada no Brasil é um patrimônio nacional."
"Não aprovo, são nossas Kombis, nossa história, construída pela nossa gente! É parte da nossa história indo pra fora do nosso país! O nosso povo pode valorizar mais", lamenta outro.
Há quem discorde.
"Não vejo com maus olhos a exportação de carros brasileiros. O fato de eles terem sido fabricados aqui, povoado nossas ruas, não quer dizer que eles estão amarrados ao nosso país. Deveríamos, por outro lado, facilitar o ingresso de carros provenientes de fora. Essa troca de diferentes carros acrescentaria muito à nossa cultura geral e à nossa cultura automotiva, pois somos muito centrados nos modelos de fabricação nacional", afirma Eugenio Chiti, que é especialista em Romi-Isetta, o primeiro carro nacional.
"Vale lembrar que fabricamos mais de 1,5 milhão de exemplares. Portanto, há ainda um bom estoque a circular por nossas ruas, inclusive dos modelos com as icônicas janelas divididas", conclui.
Dono de uma Safari (motorhome produzido pela Karmann-Ghia) 1985 que ainda usa em viagens pelo país, José Barazal Alvarez faz ainda uma observação pertinente: “exportar não é acabar com a Kombi. Acabar com ela é o que estão fazendo alguns proprietários, ao rebaixar suspensão, abrir (na lataria) janelas onde não há e submetê-la a qualquer tipo de customização”.
Bem na fita
Na contramão da tese do patrimônio perdido, um clássico brasileiro em ruas estrangeiras pode fazer bem à imagem da indústria nacional.
"Graças às exportações de modelos para os quais ninguém pagava nada, tem gente lá fora comprando e dando visibilidade ao produto brasileiro. Esse discurso nacionalista não faz sentido", avalia Roberto Suga, presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos e também colecionador.
Para o comerciante Maurício Marx, trata-se de uma negociação como outra qualquer: "Tem gente que diz que não pode mandar para fora Kombi, mas importa carro dos EUA. Isso é incoerência".
Ele complementa a argumentação:
Não é legal ver um Willys Interlagos em um concurso de elegância na França? Ou um encontro de Puma no interior da Alemanha? É sensacional levar a bandeira do Brasil para esses países."
Há um porém, segundo Chiti: "O único senão é que, em muitos casos, nossos carros e em especial a Kombi, não vão rodar no mundo como 'made in Brazil'. Na maior parte dos casos, vão passar como se fossem 'made in Germany'. Chato, não?".
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