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Avaliação: BMW X2 tem cara de "pistola", mas anda bem ou é só marrento?

Leonardo Felix

Do UOL, em São Paulo (SP)

09/07/2018 04h00

Versão sDrive20i M Sport X, R$ 250 mil, seduz pelo visual invocado e pela boa dinâmica; faltam espaço e tecnologia

Ele é baixinho, largo, musculoso, cheio de curvas e faz cara de malvado. Na cor dourado Galvanic, como a da unidade avaliada por UOL Carros, fica ainda mais chamativo. Até nos fez lembrar alguém... Sim, para UOL Carros o BMW X2 é a cara do "canarinho pistola", mascote da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia.

Não fomos os únicos. A divisão brasileira da BMW concordou e até tentou oficializar a comparação entre os dois personagens, olha só, só que a matriz alemã (cuja seleção já está eliminada do Mundial, frisemos...) acabou vetando.

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Seja como for, o pequeno crossover intimida com tanta marra, mas será que em movimento é tudo isso que pinta? Nossa reportagem rodou com um exemplar da versão de topo sDrive20i M Sport X, de R$ 246.950, por mais de 530 quilômetros ao longo de uma semana e responde a essa pergunta no vídeo que abre este artigo.

Hatch, SUV, perua ou o quê?

Basta olhar às ruas para constatar que as fabricantes estão passando do ponto nessa história de "crossover". Alguns modelos, inclusive da BMW -- como os desengonçados X4 e X6 --, abusaram tanto da mistura de conceito que acabaram transformados em geringonças sem proposta clara.

O X2 sofre um pouco desse mal -- discorreremos sobre isso logo adiante --, mas do ponto de vista estético essa miscelânea toda caiu bem demais para ele. A altura de hatch -- 1,54 metro, 7 cm abaixo do irmão de plataforma X1 --, a linha de cintura elevada e a largura típicas de SUV, o teto levemente "acupezado" e o balanço traseiro discretamente espichado, como o de uma perua, convivem harmoniosamente.

Quem sofre é o espaço interno. Apesar dos bons 2,67 metros de entre-eixos -- mesma medida do X1 --, o X2 provoca certo aperto para quem senta no banco de trás, especialmente em relação à cabeça. Afinal, além do teto baixo, a segunda fileira de assentos é um bocado alta (e dura). Porta-malas de 370 litros tem volume típico de um hatch médio, ficando aquém dos bons 460 litros do Volvo XC40 ou dos excepcionais 577 litros do Jaguar E-Pace. Foi o preço a se pagar por tanto estilo.

Agora, para quem está sentado na parte da frente da cabine a vida é mais fácil. Bancos são bastante confortáveis e padrão de acabamento é o que se espera de um BMW. Ainda, há porta-copos, porta-objetos e até porta-celular escamoteável disponíveis de forma abundante no console central.

BMW X2 traseira - Divulgação - Divulgação
X2 é todo "diferentão": linha de cintura alta e ascendente, teto baixinho, traseira esticada e curvilínea, caixas de roda com arcos assimétricos e molduras criativas nas laterais
Imagem: Divulgação

Ele anda bem

Em movimento o X2 agrada ainda mais. Não espere o desempenho de um "foguetinho" esportivo, mas esteja certo que o motor 2.0 4-cilindros turbo a gasolina de 192 cv (a 5.000 rpm) entrega respostas vigorosas -- graças aos 28,6 kgfm de torque entregues logo a 1.350 giros -- e ótima elasticidade. Não é à toa que modelo vai de 0 a 100 km/h em apenas 7,7 segundos, de acordo com a BMW. Pena que o ronco não tenha nada de especial.

Câmbio automatizado de dupla embreagem e sete velocidades oferece respostas empolgantemente rápidas, e suspensões independentes nos dois eixos (McPherson e multibraço, ambas com barras estabilizadoras) se mostram firmes na medida certa sem ser duras demais, apesar dos pneus de perfil um bocado baixo -- 235/45 calçando rodas aro 19.

Por outro lado, a tração unicamente dianteira coloca os pés do condutor no chão e faz lembrar que o X2 ainda é um veículo, de certa forma, "comum". Direção elétrica, mais leve do que deveria, ajuda a cortar a sensação esportiva ao volante, pois interfere bastante na estrada e por vezes provoca sensação de anestesia. Sua maior vantagem é ser uma grande aliada na hora de manobrar pela cidade. Também incomodou o nível de ruídos de rolagem dos pneus que invadiu a cabine em rodovia, desproporcional ao bom isolamento em relação a motor e vento.

Consumo é de carro compacto. Em circuito misto rodamos exatos 532,8 km com apenas um tanque de combustível (e ainda sobraram dois litros para contar história), perfazendo 10,8 km/l. Tudo isso pegando trânsito e estrada bastante movimentados, o que demanda retomadas constantes, e com ar o tempo todo ligado. Se a ideia for viajar "de boas" usando o controle de cruzeiro, o X2 será capaz facilmente de bater 15 km/l.

BMW X2 - Divulgação - Divulgação
X2 foi mais um modelo a aderir à chamativa iluminação dinâmica dos painéis, com seis opções de cores: laranja, bronze, branco, verde, azul e lilás
Imagem: Divulgação

Só não anda sozinho

Falando em controle de cruzeiro, a ausência de tecnologias semiautônomas decepcionou. Absolutamente nenhuma assistência ativa de condução foi trazida ao Brasil, nem mesmo frenagem emergencial ou piloto automático adaptativo. Nesse ponto o crossover deve um bocado à concorrência, em especial ao XC40, que custa menos e é capaz de ler placas, manter o carro na faixa de rolagem e até contornar curvas de raio longo sozinho.

O que o pequeno invocado traz, nesta versão, é uma central multimídia tátil e capacitiva de 8,8 polegadas. Ela é fácil de mexer e representa um alento para quem, antes, tinha de apelar a seletor giratório e botões no console se quisesse configurar itens de conectividade de um BMW. Só não está perfeita porque a tela flutuante fica muito recuada no painel, longe do alcance dos braços. O head-up display colorido no para-brisa pinta como um "mimo" bem-vindo, embora não indispensável.

Digerindo tudo que o X2 tem a oferecer, a conclusão é de que ele é um carro para quem aprecia, mesmo, o prazer de dirigir. Podemos até dizer que ele tem mais marra visual do que dinâmica, mas ainda assim o crossover sabe ser "pistola" na medida certa quando exigido.