Chery terá SUV menor que HR-V com preço de hatch popular
Não seria exagero dizer que a Chery deu muito azar ao entrar no Brasil -- à parte os erros estratégicos cometidos no meio do caminho, um deles já explicado por UOL Carros. Ambiciosa, inaugurou em 2014 uma fábrica em Jacareí (SP) com capacidade de produzir até 150 mil carros por ano, um número bastante robusto.
À época os diretores da empresa já falavam em anexar um complexo de motores, com tecnologia para produzir unidades com turbocompressor, e um centro de pesquisa e desenvolvimento para mercados brasileiro e da América Latina.
Dois anos depois, a marca chinesa sofreu duros golpes vindos de diferentes flancos, que atrofiaram as operações.
Por um lado, veio a restrição do Inovar-Auto para comercialização de importados. Do outro, a queda nas vendas de zero-quilômetro afetou de maneira vertiginosa o segmento de hatches compactos, justamente onde a fabricante iniciou sua operação nacional, com uma configuração reestilizada do Celer.
Em busca de novos ventos
Quando o vento sopra contra o jeito é se deixar levar pela maré. No caso da Chery, a chance de sobreviver a este período turbulento do país será apostar na grande "modinha" do momento: o mercado de SUVs compactos.
Por isso a montadora acelerou o desenvolvimento do Tiggo 3X (também conhecido como Tiggo 1), membro menor da família de utilitários-esporte -- formada ainda pelo Tiggo 3, já oferecido no país, vindo do Uruguai; pelo Tiggo 5, de porte médio e que não chega antes de 2017, também nacionalizado; e pelo suvão Tiggo 7, existente só na China --, para mostrá-lo no Brasil ainda este ano.
Montado sobre a plataforma do próprio Celer, o "Tigguinho" já foi visto por UOL Carros no Salão de Pequim deste ano e está mais para um crossover aventureiro do que necessariamente um SUV.
De porte menor do que Honda HR-V, Nissan Kicks e afins -- possui 4,20 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,57 m de altura e 2,51 m de entre-eixos --, o modelo deverá ser mostrado no Salão de São Paulo, em novembro, e ganhar as ruas na virada para 2017, com produção local em Jacareí, onde já são feitos Celer e New QQ.
Foi numa rodovia próxima ao complexo fabril da empresa que o leitor Quenaz da Cruz Eller flagrou uma unidade do crossover, já quase sem camuflagem, rodando no início desta semana.
Novo segmento
Com nome ainda mantido sob segredo para o mercado nacional, o Tiggo 3X deve ter preço inicial posicionado entre R$ 50 mil e R$ 60 mil, abaixo dos SUVs compactos da moda e mais barato, inclusive, quando comparado a hatches aventureiros como Chevrolet Onix Activ, Hyundai HB20X e VW CrossFox.
Sairá mais em conta até do que seu rival mais direto no mercado, o Honda WR-V, outro a ser apresentado no evento. Pode-se dizer que a faixa de preços competirá com versões de topo de compactos convencionais, como os próprios HB20 e Onix, além de Fox e o novo Fiat Uno, entre outros.
Aliás, vale aqui dizer que este segmento de "mini-SUVs" (o Kwid, ainda menor, poderia ser chamado de "micro-SUV" se seguirmos esta lógica), já deveria ter participação de JAC T3 e Lifan X50, ambos projetos atrasados devido às dificuldades econômicas vividas por suas respectivas marcas.
Mecânica do Celer, pacote superior
Com o "Tigguinho" a Chery tentará aprimorar a receita do Celer. Trem-de-força manterá o motor 1.5 flex de 109/113 cv e 14,3/15,5 kgfm, deixando desempenho similar ao do Kicks -- prioritariamente urbano, portanto, isso se o peso colaborar. Tração será sempre dianteira.
Transmissão manual de cinco marchas deve compor as versões mais básicas. Caixa CVT não cairia mal para a configuração de topo, sendo uma opção bem melhor do que o velho câmbio automático de quatro velocidades do atual Tiggo.
Lista de equipamentos deverá trazer itens básicos de conforto -- direção assistida, ar-condicionado e trio elétrico --, mas espera-se a estreia de central multimídia mais atualizada. As imagens do flagra deixam escapar, ainda, a presença de filete contínuo de LED nas lanternas traseiras, bem como nicho para luz de posição diurna (provavelmente halógena) no para-choque frontal.
Protetores espalhados por para-choques, portas e caixas de roda acentuarão o estilo pseudo-aventureiro, assim como as barras longitudinais de teto e as suspensões elevadas. Rodas de liga leve serão maiores que as do Celer e terão cinco pontos de fixação, contra quatro do hatch.
Visual bebe bastante da fonte de outros veículos asiáticos: vincos da tampa do porta-malas e até a pintura acobreada lembram o atual HB20; já as lanternas traseiras ressaltadas mostram inspiração nos modelos mais recentes da Nissan, como o Kicks, embora com desenho um pouco mais convencional.
Procurada, a assessoria da Chery no Brasil confirmou "ter intenção de apresentar o modelo no Salão do Automóvel de São Paulo" e admitiu que "o projeto faz parte da estratégia geral da marca no país", mas informou que "ainda está avaliando as opções que terá disponível em nosso mercado".
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