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Ford anuncia Focus elétrico e esboça futuro SUV

<b>Bill Ford, presidente do conselho e bisneto de Henry Ford, no evento em Detroit</b> - Claudio de Souza/UOL
<b>Bill Ford, presidente do conselho e bisneto de Henry Ford, no evento em Detroit</b> Imagem: Claudio de Souza/UOL

CLAUDIO DE SOUZA

Editor de UOL Carros<br>Em Detroit (EUA)

14/01/2011 03h40Atualizada em 14/01/2011 14h03

Neste começo de 2011 a Ford dos Estados Unidos tem alguns bons motivos para comemorar. Em retumbante apresentação à imprensa, feita nesta semana numa arena esportiva anexa ao pavilhão de eventos que recebe o Salão de Detroit, a marca do oval azul surfou na onda da recuperação do segundo lugar em vendas nos EUA – perde da General Motors, mas passou a Toyota – e celebrou publicamente até a recente criação de centenas de novos empregos no país, feito nada desprezível numa economia nacional combalida.

Das três grandes fabricantes automotivas ianques, a Ford foi a única que atravessou a crise financeira iniciada em 2008 sem quebrar (caso da GM) ou ser absorvida por uma companhia estrangeira (caso da Chrysler, hoje “aliada” à Fiat).

  • Claudio de Souza/UOL

    Focus 100% elétrico e baseado no modelo europeu será lançado este ano nos EUA

As vendas internas da Ford cresceram 19% em 2010, e pela primeira vez desde 2004 um modelo da empresa (Focus) superou a marca de 200 mil unidades. Atitudes aparentemente temerárias, como mostrar ao mundo com meses de antecedência a nova geração de um de seus carros mais importantes (o Focus europeu, que a partir do novo modelo passará a ser fabricado e vendido também nos EUA -- o que explica parte da ousadia), e de em plena investir para consolidar o uso de plataformas globais (como a do New Fiesta), parecem agora fazer mais sentido.

A Ford promete apostar pesado em novas formas de propulsão, e por isso fez do futuro Focus elétrico uma de suas estrelas no Salão de Detroit. Previsto para chegar às lojas locais ainda este ano, juntamente com as versões convencionais a combustão (todas fabricadas aqui no Estado de Michigan), o Focus Electric usa bateria de íon-lítio e é, segundo a descrição da Ford, 100% elétrico, com possibilidade de recarga em tomada de energia comum. Numa estação de 240 V, que deve ser comprada em separado, o processo levará de três a quatro horas. Na tomada de 120 V demora mais, só que a marca preferiu não divulgar quanto.

Também não divulgou, por sinal, a autonomia do Focus Electric, limitando-se a dizer que ela será suficiente para cobrir as necessidades diárias de deslocamento do motorista médio. Os alvos do Focus Electric são o Chevrolet Volt, que conta com um motor a combustão para ajudar na geração de eletricidade -- por isso definido como “carro elétrico de autonomia estendida” (EREV, na sigla em inglês criada pela GM) -- e o Nissan Leaf, este um 100% elétrico que tem na curta autonomia e no longo tempo de recarga um sério obstáculo ao sucesso comercial.

MINIVANS VERDES
Outros dois veículos com propulsão alternativa são as minivans C-MAX Energi (com “i” mesmo, em vez de “y”) e C-MAX Hybrid, cujo modelo de base jamais foi vendido no Brasil. Ambas serão fabricadas em Valência, na Espanha, mas vendidas na Europa apenas em 2013. Aos EUA, chegam um ano antes.

A primeira combina motor elétrico e a combustão, no que parece ser, de acordo com a ainda escassa descrição da Ford, um sistema muito semelhante ao do Volt -- mas com maior autonomia, de 800 km contra cerca de 600 km do hatch da Chevrolet. O motorista pode recarregar a bateria diariamente (por exemplo, em casa, durante a madrugada), mas também pode usar a C-MAX Energi apenas com o motor a combustão. O que, obviamente, não faria o menor sentido.

Já a C-MAX Hybrid não precisa de recarga externa; seu sistema certamente é o mesmo do Fusion Hybrid já vendido no Brasil, em que o motor a gasolina assume a propulsão do veículo a partir de uma certa velocidade, ao mesmo tempo colaborando com a recarga interna da bateria que volta a ativar a propulsão elétrica oportunamente.

Aqui em Detroit não foram citados os preços desses carros. O que foi feito, isso sim, foi destilar ironia para cima do Leaf e (bem menos) do Volt. Uma estratégia agressiva que contou até com a projeção para a imprensa de um filme estrelado pelo dublê de ator (ele é o reaça que vira gay no filme Tudo pode dar certo, de Woody Allen) e ambientalista Ed Begley, defendendo a Ford como o estado da arte em propulsão elétrica.

O SUV DO FUTURO
Outra atração importante da Ford em Detroit é o conceito Vertrek, um nome meio esquisito para balizar o futuro dos SUVs compactos da montadora (ressalve-se que, para nós, esse carro seria um SUV médio).
 


Ao contrário do que foi especulado, o tal Vertrek não antecipa o substituto ou a nova geração do Kuga, SUV lançado pela marca inicialmente na Europa em 2007 e que também foi ventilado como possível novo EcoSport brasileiro. Segundo a Ford dos EUA, na verdade o Vertrek buscou inspiração no Kuga e depois exacerbou o estilo Kinetic, cuja proposta é fazer com que o carro pareça em movimento mesmo quando parado.

 

Destacam-se os conjuntos ópticos dianteiro e traseiro bastante reduzidos, o ensaio de usar saída dupla de escape (algo mais comum em carros com cilindros em V) e também o curioso interior com quatro bancos individuais -- os dois de trás são iguais aos dois da frente, uma ideia difícil de sair do papel, a não ser que houvesse uma terceira fileira de assentos, o que não é o caso.

Como as rivais sulcoreanas da Ford souberam emular muito bem o estilo Kinetic, tornando as linhas de seus SUVs mais fluidas e delgadas, o Vertrek não chega emocionar pelo lado da novidade. Mas, se ele de fato substituir o quadradão e "land-roveresco" Ford Explorer -- palpite recorrente aqui em Detroit --, já terá feito um grande bem aos olhos do consumidor.

Viagem a convite da Anfavea