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Nissan amplia investigação sobre Ghosn para incluir aliança com Renault

Laurence Frost

Da Reuters

20/11/2018 14h22

Empresa holandesa administrada pelos franceses teria adquirido imóveis sem razão comercial

A investigação realizada pela Nissan que culminou na prisão de Carlos Ghosn pode ter novos desdobramentos em breve. Isso porque a empresa também pretende analisar os relatórios financeiros da aliança Renault-Nissan. A informação foi confirmada por fontes ligadas à montadora à agência de notícias Reuters.

Na última segunda-feira (20), o CEO da Nissan, Hiroto  Saikawa, informou ao alto escalão da Renault que há evidências de uso indevido de recursos da Renault-Nissan  BV, filial holandesa da parceria administrada pela Renault. O caso pode ter ligação com a informação divulgada pelo jornal japonês “Nikkei”. O diário afirma que R$ 68 milhões foram gastos na aquisição de imóveis no Rio de Janeiro, Beirute, Paris e Amsterdã "sem nenhuma razão comercial legítima".

Procuradas pela reportagem da Reuters, Renault e Nissan não se pronunciaram sobre o assunto.

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Crise no relacionamento

Além de revelar a fraude financeira realizada por Ghosn (que teria declarado ganhos abaixo da realidade por vários anos), Saikawa afirmou que o brasileiro deve ser demitido da empresa. O executivo foi detido em Tóquio juntamente com o diretor Greg Kelly, e ambos não tiveram oportunidade de se pronunciar publicamente desde então.

Estabelecida há 19 anos e ampliada em 2016 com a aquisição da Mitsubishi Motors, a aliança Renault-Nissan é marcada por algumas crises, inclusive com o governo da França, principal acionista da Renault com 15% das ações.

Diante da pressão das autoridades francesas, Ghosn (que também é presidente e CEO da Renault) se comprometeu a trabalhar para garantir os interesses da indústria local e tornar a aliança “irreversível”.

As medidas não foram bem recebidas em Tóquio. Mesmo vendendo quase 60% a mais de veículos do que a Renault, a Nissan permanece como sócia minoritária na hierarquia da aliança, possuindo apenas 15% das ações e sem direito a voto nas decisões.

França teme o futuro

Representantes do governo da França se mobilizaram para defender a aliança desde a surpreendente prisão de Ghosn no Japão -- que ironicamente ocorreu às vésperas da realização de uma série de eventos para celebrar os 160 anos de relações diplomáticas entre França e Japão.

O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que o país permanecerá “extremamente alerta quanto à estabilidade da aliança”, que hoje forma o maior grupo da indústria automobilística global.

O Ministro das Finanças, Bruno Le Maire, já havia afirmado que o futuro da parceria seria a maior prioridade do governo. Ele também pressiona o conselho administrativo da Renault para nomear um líder interino, sob a justificativa de que Ghosn “não ocupa mais uma posição capaz de liderar a Renault”.

Várias fontes ligadas ao assunto afirmam que uma reunião marcada para esta terça-feira (20) deve oficializar o diretor Philippe Lagayette como substituto de Ghosn. O diretor de operações da Renault, Thierry Bollore, também deve se fortalecer dentro da empresa.