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Automóveis deixam negociações bilaterais Brasil-México no limbo

Esteban Israel

Em São Paulo

17/02/2012 18h02

A pressão do Brasil para deter o forte déficit que enfrenta no intercâmbio de automóveis com o México deixou no limbo as negociações bilaterais de livre comércio previstas para este mês, ao mesmo tempo em que desnudou as dificuldades que enfrentam as duas maiores economias da América Latina para se integrarem.

Não se sabe como ficaram as conversas programadas para o fim de fevereiro, mas todos assumem que foram postergadas diante do afundamento do acordo de livre comércio de automóveis, que deveria servir como modelo.

"Evidentemente que esta negociação sobre o setor automotivo afeta a dinâmica do acordo estratégico", disse à Reuters a secretária de Comércio Exterior do Brasil, Tatiana Prazeres. "Seguimos com interesse num acordo mais amplo com o México, mas agora estamos negociando este setor, especificamente", acrescentou.

Alarmado por um aumento de mais de 700% em seu déficit comercial com o México, para US$ 1,17 bilhão em 2011, o Brasil deu este mês um golpe na mesa e exigiu negociar o acordo automotivo.

A medida busca devolver competitividade à indústria brasileira, afetada pela forte apreciação do real que levou a um aumento das importações de automóveis mexicanos, mais baratos.

E o México, que recentemente parecia entusiasmado com um acordo de livre comércio para reduzir sua dependência dos Estados Unidos, já indicou que levará a negociação com cuidado. Juan Francisco Torres Landa, especialista em comércio exterior do escritório Barrera Siqueiros y Torres Landa, na Cidade do México, disse que "é importante não gerar um tratado de livre comércio onde a mesa está inclinada", disse.

"De alguma maneira, é melhor que estas assimetrias surjam agora e não durante a vigência do tratado, para que não contamine o ambiente de negócios", acrescentou.

INTERESSES COMPLEMENTARES
Os negócios entre as duas nações triplicaram na última década, para US$ 9 bilhões em 2011, mas ainda representam menos de 2% do comércio exterior dos dois países.

A ruptura do acordo automotivo lançaria ao mar o negócio bilateral de automóveis e autopeças que no ano passado somou US$ 4,3 bilhões (47% do comércio bilateral) e demonstraria que as maiores economias da região não estão preparadas para a integração.

Brasil e México levaram anos em torno de uma ideia de um tratado de livre comércio. Em tese, o Brasil deveria ganhar um mercado de 112 milhões de habitantes para seus produtos agrícolas e um trampolim para os Estados Unidos. O México, por sua parte, reduziria sua exposição aos vaivéns da ecomomia dos Estados Unidos, que absorve cercada de 80% das exportações.