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Fusão de FCA e Renault abre espaço para maior fabricante de carros do mundo

Eugênio Augusto Brito

DO UOL, em São Paulo (SP)

27/05/2019 16h32

Resumo da notícia

  • Negociação envolve apenas FCA e grupo francês
  • Se fusão for aprovada, acaba com atual Renault-Nissan-Mitsubishi
  • Mas há também hipótese de atual aliança se fundir totalmente à FCA
  • Se considerada esta última hipótese, grupo gerado seria maior do mundo
  • Empresa faria 15 milhões de carros por ano e seria imbatível em quase todas as áreas

Você já sabe que FCA (Fiat Chrysler Automobile) e Renault estão discutindo, por meio de seus conselhos deliberativos na Europa, a negociação para uma "fusão 50/50" (na qual os grupos unem forças, sem que um se torne controlador da outro). A proposta foi feita pelo alto-clero da FCA diretamente aos franceses do Grupo Renault (cujo governo francês é o principal acionista). Se aprovado, o novo grupo teria potencial para investir R$ 22 bilhões (5 bilhões de euros) em novas tecnologias ao ano e fazer 9 milhões de veículos de passeio.

Mas isso o colocaria como terceiro ou quarto colocado no ranking global?

UOL Carros apurou que, de fato, o que a FCA quer -- ainda que de forma ainda velada -- é alcançar posto ainda maior: o objetivo é se converter na maior fabricante de carros do planeta, com potencial de entregar 15 milhões de unidades a cada ano, desbancando por praticamente 50% a capacidade do Grupo Volkswagen, do Grupo Toyota e da atual aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

FCA-Renault em terceiro ou quarto?

Ainda em estágio de apreciação pelo conselho diretor do Grupo Renault, o acordo de fusão proposto pela FCA tem uma consequência imediata, caso aprovado por ambas partes e também por órgãos reguladores: ele acabaria com a atual forma da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, associação que entregou 10,3 milhões de unidades em 2018.

Não haveria espaço para as duas estruturas (a nova FCA-Renault e a atual Renault-Nissan-Mitsubishi) seguirem suas atividades ao mesmo tempo, como UOL Carros e diversos outros órgãos especializados apontavam ainda no domingo e na manhã de segunda-feira.

"O que foi apresentado às 7h05 de Paris, pelo board da FCA ao Grupo Renault foi a proposta de fusão da nossa empresa com o grupo francês", afirmou a UOL Carros representante da FCA.

Se a Renault topar fechar negócio, terá de abrir mão da aliança franco-japonesa nos moldes atuais. Seria, assim, o definitivo fim da "era Ghosn", em alusão ao império automotivo criado pelo empresário brasileiro Carlos Ghosn, considerado um gênio da administração desde meados dos anos 1990 até recentemente, mas que desde o final de 2018 enfrenta a Justiça japonesa em processo por fraude financeira, com ocultação de rendimentos e uso da estrutura das empresas em benefício próprio e da família.

Com isso, uma "FCA-Renault" seria menor que a atual aliança, teria cerca de 9 milhões de unidades (8,7 milhões na conta da FCA), mas o suficiente para assumir o terceiro lugar atualmente ocupado pelo trio franco-nipônico.

"Estamos considerando exatamente o número de nossa proposta, o que resultaria em fusão e criação do terceiro maior fabricante de automóveis, em vendas globais, com volume consolidado de 8,7 milhões de unidades", aponta a FCA.

Sem a Renault, a aliança se reduziria às japonesas Nissan-Mitsubishi e suas subsidiárias. Não há números cravados, mas o total de vendas em potencial baseado nos últimos anos acabaria caindo para cerca de 6,4 milhões, o que deixaria esse hipotético grupo ainda à frente da Ford, atrás da Hyundai-Kia.

Mas há outra hipótese...

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Segundo fontes ligadas à história, mas que que preferiram se manter no anonimato, embora as negociações envolvam apenas as diretorias de FCA e Grupo Renault, nada impede que, em caso de fusão aprovada, o acordo seja estendido também ao restante dos atuais aliados da Renault (Nissan e Mitsubishi).

Se aceito, o hipotético negócio em sua forma mais ampla criaria aquele que seria o maior grupo automotivo jamais formado no planeta. UOL Carros brincou com o nome logo acima, mas esse grupo reuniria força o bastante para entregar 15,1 milhões de unidades de carros de passeio por ano.

"FCA-Renault-Nissan-Mitsubishi" (para resumir) seria uma empresa 50% maior que o atual Grupo Volkswagen (líder global), que o Grupo Toyota (segundo colocado) e mesmo que a atual Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

"O anúncio permite uma segunda construção, em função da própria fusão e também da projeção de que FCA e Renault estivessem inseridas no contexto da Aliança já existente entre Renault e demais empresas. Neste caso, a colocaria como maior do que a atual líder, com potencial de entrega de 15 milhões de unidades. Essa projeção, neste cenário, incluiria a participação das marcas japonesas", apontam fontes ouvidas por UOL Carros.

Esse colosso automotivo teria força para ser o maior -- e quase imbatível -- grupo fornecedor de projetos elétricos, de modelos de marca premium e de SUVs no planeta, além de ter força considerável também no segmento de utilitários (picapes compactas, médias, grandes, bem como SUVs grandes derivados).

Ainda incerto, esse grupo seria coordenado da Europa, mas com ramificações em todos os continentes e atuação forte nos EUA, na Europa, na China, no Japão e mesmo no Brasil.

Em nosso país, um "mastodonte" automotivo como esse coordenaria praticamente 31,7% de participação, considerando diferentes segmentos -- o total da rede subordinada ao mega-grupo seria de mais de 1.300 concessionárias das diferentes marcas. A atual líder, GM, coordena "apenas" 18% do mercado de carros no Brasil, com mais de 600 lojas.

De toda forma, aponta a fonte ouvida por UOL Carros, alianças costumam "manter as marcas funcionando de forma independente", com sinergias para corte de custos em desenvolvimento. Já fusões pedem a definição de um grupo diretor, de alguém que seja líder de projeto, o que poderia inviabilizar a participação mais ampla de outros membros

Também foram procurados dirigentes da Nissan para que dessem sua leitura do caso. A empresa emitiu o seguinte posicionamento oficial: "A Nissan não vai comentar o caso neste momento. Vamos monitorar de perto as negociações".

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