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Montadoras inglesas prepararam "saída de emergência" por conta do Brexit

Orgulho, sim. Prejuízo, não: BMW avisou que pode tirar fábricas da Mini do Reino Unido, caso cenário piore por conta da política - Divulgação
Orgulho, sim. Prejuízo, não: BMW avisou que pode tirar fábricas da Mini do Reino Unido, caso cenário piore por conta da política
Imagem: Divulgação

Ricardo Ribeiro

Colaboração para o UOL, de Kranidi (Grécia)

27/03/2019 07h00

Resumo da notícia

  • Marcas esperam prejuízo, montam estoque e podem mudar fábricas para Europa
  • Jaguar Land Rover pode ter rombo de 2,5 bilhões de euros com Brexit
  • BMW já avisou que planeja tirar Mini do Reino Unido
  • Ford é outra que ameaça fechar suas fábricas restantes

Em uma semana de movimentos sem fim no parlamento britânico, fabricantes de carros com operações no Reino Unido voltaram a alertar que a incerteza sobre a saída da União Europeia preocupa as empresas e prejudica as vendas. Planos de emergência estão sendo feitos: incluem maior estoque de peças, paralisação temporária da produção e, para algumas marcas, até a possibilidade de reduzir linhas ou fechar fábricas, no caso de um "Brexit" sem acordo.

Embora também esteja fazendo estoque de peças na Inglaterra, a Lotus declarou nesta semana que seu plano de expansão prevê a abertura de uma fábrica na China para seu próximo lançamento. A marca de esportivos foi assimilada pela gigante chinesa Geely (mesma dona da Volvo Cars) em 2017.

A BMW, que já passou para a Europa parte da produção de motores que são destinados a Alemanha, cogita reduzir a produção da Mini em Oxford, na Inglaterra. "Nós planejamos em termos de cenários. Vocês sabem que podemos produzir modelos Mini na Holanda. Somos flexíveis", é uma afirmação que o chefão da marca, Harald Krueger, vem fazendo desde o ano passado.

Já a Aston Martin tem planos para fazer o novo Vantage na Europa, não no Reino Unido.

Entre as marcas mais generalistas que atuam no Reino Unido, a Honda moveu aprovações regulamentares de novos veículos para a Bélgica e a Nissan desistiu da produção do X-Trail na Inglaterra, embora também motivada pela queda nas vendas de modelos diesel.

A Ford, que vem de um série de cortes na Europe e em todo o globo, já declarou que não descarta novas demissões ou mesmo encerrar suas três fábricas no Reino Unido, onde faz apenas motores e transmissões, em caso de um Brexit sem acordo.

Range Rover Evoque 2020 - Divulgação - Divulgação
Evoque acabou de ser lançado pela JLR: grupo pode ter rombo acima dos 2,5 bilhões de euros
Imagem: Divulgação

JLR em queda

A Jaguar Land Rover, que deve ser uma das mais afetadas, se prepara para utilizar mais a fábrica que abriu na Eslováquia.

A empresa tem a maior parte da sua produção no Reino Unido e seu maior mercado é a Europa continental, onde vende mais carros até do que na China -- atual "galinha dos ovos de euro' para quase todas as marcas. Por isso mesmo, a JLR (Jaguar Land Rover) vem registrando queda nas últimas semanas.

"É difícil fazer planos ou previsões em uma situação que muda, literalmente, a cada cinco minutos. Mas temos a nossa fábrica na Eslováquia, que tem ganhado maior relevância. E já foi pensado uma espécie de compensação de produção e tarifas, se necessário, no contexto de uma relação comercial entre Reino Unido e União Europeia", explica Richard Agnew, diretor de comunicação da JLR.

Cota para carros ingleses? Pode ser

De fato, europeus pensam na criação de cotas para importação de carros do Reino Unido -- algo como Brasil e México praticavam até este ano. O problema é que, na realidade, nada está decidido. Assim, as marcas ainda evitam qualquer afirmação detalhada sobre o que efetivamente será alterado nas suas fábricas no Reino Unido.

Mas tanto a JLR, quanto a maioria dos fabricantes sempre foi favorável à permanência na União Europeia ou, ao menos, de acordo que garantisse a permanência do Reino Unido no mercado único europeu e a livre circulação de trabalhadores qualificados.

Além dos impactos no deslocamento e permanência de funcionários de variadas nacionalidades em empresas que são globais, as montadoras temem que uma saída sem acordo acabe em taxas de importação, estimadas algo entre 10 e 12%.

Após o referendo do Brexit, a JLR, que é de propriedade do grupo indiano Tata, já tinha declarado que a saída da União Europeia sem acordo ameaça a competitividade da empresa e sua capacidade de investir no Reino Unido. Na época, estimava um prejuízo de 2,5 bilhões de euros e, dois anos de negociações depois, projeta rombos maiores.

Há dois meses, a JLR, demitiu 4.500 funcionários, a maior parte postos de gerência no Reino Unido. A montadora prepara um estoque de peças, mas, como utiliza 25 milhões de partes vindas da Europa por dia, é algo para dias e não semanas.

"A Audi, por exemplo, pode produzir fora da Alemanha, como já o faz, mas continua com seu centro de desenvolvimento em Ingolstad. O mesmo com a BMW ou a Volkswagen. Como uma marca britânica, não vejo o centro de desenvolvimento da Jaguar Land Rover saindo do Reino Unido. Agora, fabricação é uma outra questão", desvia Agnew.

Ford Focus 2019 - Divulgação - Divulgação
Novo Focus com placa inglesa: Ford pode fechar últimas fábricas no Reino Unido
Imagem: Divulgação

"Brexit pode matar lucros"

Em janeiro deste ano, o presidente da Bentley, Adrian Hallmark, afirmou que um Brexit sem acordo "matará" os lucros de marcas de luxo no Reino Unido. A marca do grupo Volkswagen prepara estoque de peças e até de veículos novos.

A extensão de prazo solicitada pelo governo de Theresa May, na última semana, atrapalhou os planos de contingência das montadoras. A ampliação de estoque de peças e as paralisações nas linhas de montagens para evitar transtornos nas primeiras semanas após o "Brexit", uma vez que muitas partes peças chegam da Europa continental, vinham sendo elaboradas há meses com a data do dia 29 de março. Agora, seria 22 de maio.

A BMW, que antecipou sua manutenção das férias de agosto para abril, informou que não vai alterar novamente, uma vez que os preparativos já estão feitos. O que significa que a fábrica de Oxford vai parar por um mês, mas estará em pleno movimento no "Brexit". A montadora alemã também procurou armazéns para estocar peças dos dois lados do Canal da Mancha.

Já a Toyota diz que seu estoque pode durar apenas algumas horas e um "Brexit" sem acordo pode interromper a produção do Corolla, em Burnaston, e de motores, em Deeside. A Vauxhall, versão inglesa da Opel, agora sob controle da PSA Peugeot Citroën, diz que seu estoque de peças é limitado a dias.

Bentley também fez estoque de peças e até de veículos novos. A Aston prepara um estoque de motores de cinco dias, vai trazer peças de avião e cogita usar outros portos, além de Dover (Inglaterra), onde uma saída sem acordo pode levar caos ao desembaraço de cargas. E tudo isso custa caro.

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