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Falamos com o chefão da Nissan: "Gasolina é entrave a híbrido no Brasil"

Tecnologia híbrida paralela, elétrico puro (como o Leaf da imagem) e mais: Nissan prepara eletrificação completa no Brasil - Divulgação
Tecnologia híbrida paralela, elétrico puro (como o Leaf da imagem) e mais: Nissan prepara eletrificação completa no Brasil
Imagem: Divulgação

Fernando Miragaya

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

25/02/2019 07h00

Resumo da notícia

  • Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil, vê elétricos mais viáveis que híbridos
  • Kicks é "forte candidato" a receber tecnologia eletrificada até 2022
  • Substitutos de March e Versa também serão eletrificados
  • SUV X-Trail está nos planos da marca, mas não na versão híbrida

A Nissan do Brasil pegou a eletrificação como estratégia principal. A fabricante aproveitou uma tarde chuvosa no autódromo e Interlagos, em São Paulo (SP), para evidenciar novamente suas alternativas nesse mercado, ressaltando a importância do tema também no país, bem como promovendo um pequeno test-drive com alguns modelos híbridos e elétricos.

Durante o "Intelligent Mobility", o presidente da Nissan, Marco Silva, deixou claro que algumas destas soluções estão próximas do nosso mercado. E não estava fazendo referência apenas ao elétrico Nissan Leaf, que já está em pré-venda por R$ 178.400 e começa a ser entregue em maio.

O executivo falou, sobretudo, da tecnologia E-Power, atualmente disponível no compacto japonês Note, que se move por motor elétrico com bateria abastecida por um motor a combustão. É essa tecnologia que já está sendo adaptada para modelos fabricados no Brasil -- o primeiro modelo será o Nissan Kicks E-Power, mas o sedã médio Sentra também está na mira. 

Não só vendas: Silva falou sobre o suporte técnico para a comercialização do Leaf. como também sobre o projeto movido a hidrogênio a partir do nosso etanol. Por outro lado, praticamente descartou a vinda da versão híbrida do SUV médio-grande X-Trail.

No plano, o executivo adiantou ainda possibilidades sobre a nova linha de compactos que substituirão March e Versa atuais. Confira nosso bate-papo com o presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva: 

Marco Silva Nissan - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Marco Silva, presidente da Nissan: "Adaptação para gasolina do Brasil ainda é entrave a híbridos"
Imagem: Murilo Góes/UOL

UOL Carros: O Brasil começou a adotar tardiamente os híbridos no país. Neste cenário, investir direto em carros elétricos, "pulando" os híbridos [nota do editor: o sistema E-Power não é considerado um híbrido pela Nissan, uma vez que as rodas são movimentadas por apenas uma fonte motriz -- o motor a combustão abastece gerador, que abastece as baterias. E apenas a energia das baterias movimenta as rodas. É similar ao sistema do americano Chevrolet Volt, mas diferente do Toyota Prius, por exemplo, no qual tanto o motor a combustão, quanto as baterias podem acionar as rodas] . É mais prático para a Nissan?

Marco Silva: Para o Brasil, isso é uma grande possibilidade. Para ter híbrido tem que ter desenvolvimento para nossa gasolina e talvez não valha a pena pelo volume do produto. Tem que levar em consideração ainda o ciclo de tecnologia, além de outros critérios, como estar dentro da nossa linha de desenvolvimento e ser um modelo que tenha continuidade no mercado.

Lembrando que a Nissan vai lançar, até 2022, oito novos produtos globais 100% elétricos.

Dentro desse plano de eletrificação da Nissan, tem o Note E-Power que está aqui no Brasil em testes. Essa tecnologia será aplicada à nova linha de compactos que vai substituir March e Versa em 2020? Ou o Kicks é o favorito para estrear a solução no país?

A gente quer fazer com que eles compartilhem uma plataforma modular global e que toda essa linha seja compatível com o E-Power. O Kicks é um forte concorrente para receber a tecnologia e isso já está em desenvolvimento. Nosso planejamento é ter o E-Power até 2022.

O Nissan Note E-Power está há quatro meses em testes no Brasil, a Nissan está em uma segunda fase de desenvolvimento de motores para o sistema. O E-Power é uma grande solução, parte de uma evolução com várias possibilidades. Uma delas seria um motor que não necessariamente precisa ser o 1.2 do Note. Pode ser um 1.0 ou até menor, e é isso que a gente está desenvolvendo. Vamos ajustar para a nossa realidade.

Nissan Note E-Power em teste para Kicks - Divulgação - Divulgação
Tecnologia híbrida E-Power está em testes no Note (acima), mas deve ser adotada no Kicks
Imagem: Divulgação

Falando de elétrico puro, o Leaf, já está em pré-venda com 15 unidades encomendadas. Como está o processo de capacitação da rede e como o cliente vai receber este carro?

O Leaf precisa ter orientação correta e essa orientação faz parte do pacote para quem compra o carro. Terá todo um conteúdo técnico. Estamos trabalhando a questão do carregador elétrico, que tipo de instalação elétrica a residência deve ter.

Vender um Leaf é bem diferente. Temos de garantir qualidade e treinamento, com profissional qualificado para mexer na bateria, capacitação e ferramentas específicas antes que o carro comece a ser entregue. 

Vocês mostraram aqui o X-Trail Hybrid e a Nissan já confirmou planos de vender o SUV no país. A versão híbrida está nos planos?

O X-Trail sim, a tecnologia é uma hipótese. Não sei se a híbrida é a mais apropriada para o Brasil. Estamos colocando na ponta do lápis. Adoraria vender esse carro ainda esse ano. Ele viria de países com os quais o Brasil não tem nenhum acordo [a geração atual do SUV é fabricado no Japão e na Rússia] Por isso, para mim, a questão deste veículo é da tecnologia, este é o caminho. E que não passa obrigatoriamente por esta versão híbrida.

E como está o desenvolvimento do protótipo da van NV200 movida a hidrogênio a partir de etanol? Há previsão de o veículo voltar para testes no Brasil e da tecnologia ser usada aqui?

Terei em breve uma conferência com engenheiros japoneses para saber os próximos passos do Solid Oxid Fuel Cell (SOFC). Essa tecnologia SOFC é muito importante para o Brasil e o projeto está indo para a segunda fase de desenvolvimento, quando terá participação de uma instituição do país. Ou seja: o Brasil vai participar ativamente. O veículo, inclusive, foi montado aqui e rodou no país durante um ano. 

Mas há um prazo para esse veículo movido por célula de combustível a partir de etanol ganhar as ruas?

Há uma previsão de que nos próximos seis anos se terá uma tecnologia SOFC de uso comercial, que possa ser produzida em escala e vendida com preço viável. O mais importante é que esse projeto não parou e está em evolução. Temos de avançar nesta tecnologia. E o foco é no Brasil.

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