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Sindicalista critica: papel de Doria não é ser corretor de imóveis da Ford

Operário na linha de montagem da Ford em São Bernardo do Campo (SP) - Rodrigo Paiva/Folhapress
Operário na linha de montagem da Ford em São Bernardo do Campo (SP)
Imagem: Rodrigo Paiva/Folhapress

Alessandro Reis

Do UOL, da Redação

21/02/2019 20h23

Resumo da notícia

  • Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos diz que governo deve priorizar empregos
  • Segundo líder sindical, Ford busca investidores há 2 anos, sem sucesso
  • Modelo de joint-venture adotado na Turquia para caminhões seria alternativa no Brasil

Wagner Santana, o Wagnão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, criticou hoje (21) o anúncio do governador João Doria (PSDB) de que irá ajudar a buscar um eventual comprador para a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP), cujo fechamento foi anunciado pela montadora na última terça (19).

"O governador tem papel a cumprir que não é ser corretor imobiliário da Ford nem de resolver os problemas da companhia. Seu papel é garantir a manutenção dos empregos na fábrica", avaliou hoje o dirigente sindical em entrevista a UOL Carros. Wagnão ficou fora da reunião realizada pela manhã no Palácio dos Bandeirantes, da qual participaram Doria, Lyle Watters, CEO da Ford América do Sul; Rogélio Golfarb, vice-presidente da empresa; Henrique Meirelles, secretário da Fazenda e Infraestrutura; e Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo.

Foi após essa reunião que João Doria fez o pronunciamento de que busca uma solução com a Ford para a venda da fábrica durante o ano de 2019 e a manutenção dos empregos. Santana alega que pediu para participar do encontro, mas não foi atendido pelo gabinete do governador. Por sua vez, Doria alegou na coletiva de que precisava se inteirar do assunto, mas que haverá outras reuniões entre os envolvidos e o próprio sindicato.

"Não foi feito o convite porque não era o momento de ter ainda o sindicato participando de reuniões, mas será. E o sindicato será convidado, sim, para ter uma conversa conjunta. Não só com o governo, mas com a Ford, mas no momento oportuno. Primeiro precisávamos ter o diagnóstico correto para saber em que campo a nossa conversa ocorreria, em que nível e em que perspectiva. Reafirmo que saímos de uma reunião de forma positiva e não de uma forma negativa. Agora temos um cenário melhor, inclusive informações mais tranquilizadoras para os trabalhadores do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo", disse.

O sindicalista criticou as declarações de Doria. "Para mim, esse anúncio não traz novidade nenhuma. Há quase dois anos a Ford busca um parceiro ou comprador dessa fábrica, sem sucesso, para mantê-la em funcionamento", disse o dirigente. De acordo com Wagnão, uma das estratégias tentadas pela montadora é encontrar um investidor para assumir a produção da atual linha de caminhões, mantendo a marca Ford, de forma terceirizada, como hoje acontece na Turquia, a única fábrica, além de São Bernardo, que ainda produz caminhões da marca.

Esse é o modelo adotado na Turquia, que hoje é o único a fabricar caminhões da companhia no mundo, por meio de uma joint-venture. Segundo o dirigente, em dezembro a última tentativa de parceria não avançou, e agora veio o anúncio do fechamento. Ainda em relação à iniciativa do governador de auxiliar a Ford nessa tarefa, Wagnão falou que "não adianta encontrar um comprador que não se comprometa a manter os empregos, isso não é ajudar".

Hoje o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC anunciou que nos próximos dias irá até a sede global da Ford em Dearborn, nos Estados Unidos, para tentar reverter o fechamento da unidade de São Bernardo. Na próxima terça (26), os trabalhadores participam de assembleia em frente à fábrica às 6h30 e, durante a tarde, o sindicato, a prefeitura local e representantes da Ford têm reunião marcada com o Ministério Público do Trabalho de São Bernardo.

Procurado, o governo de São Paulo informou que não irá se manifestar sobre as críticas do sindicalista.