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Chevrolet Sonic durou pouco, mas coleciona fãs com sua "cara de Lancer"

Divulgação
Imagem: Divulgação

Fernando Miragaya

Colaboração para o UOL, do Rio (RJ)

11/01/2019 07h00

Tem dono que até "reformou" o compacto premium da GM por completo, só para ter um

Quando foi lançado no brasil, o Chevrolet Sonic chegou com pompa de "carro premium" e parecia que ia ser famoso. Contudo, o modelo compacto importado ficou pouco mais de dois anos à venda por aqui. Fracasso?

Se depender da legião de fãs que elogiam principalmente o design esportivo, a dirigibilidade arrojada e o custo/benefício exemplar, nem um pouco. O sucesso do modelo no pós-loja é tamanho, que até mesmo exemplares (bem) acidentados têm alta procura no mercado de usados.

O estilo era o forte do hatch e do sedã apresentados pela General Motors à imprensa brasileira em pleno Salão de Detroit de 2012 -- para muitos, a frente lembra o Mitsubishi Lancer, com toda sua carga esportiva. Logo virou desejo de várias pessoas.Começou sendo importado da Coreia do Sul para encarar sobretudo o Ford New Fiesta -- valores orbitavam entre R$ 46.200 e R$ 56.100; Depois, passou a vir do México.

Entre os fãs estão o operador de máquinas José Roberto Monteiro de Paula e o empresário João Pedro Rykaszewski. Morador de Itaguaí (RJ), Monteiro teve que se contentar com o Corsa zero-quilômetro à época, carro que cabia no orçamento.

Já Rykaszewski, morador do Rio, apesar de atuar no ramo veicular, só "namorava" o compacto premium da GM. "O Sonic era um sonho que eu tinha, pela cara de mal e pelo porte dele, diferente de todos os carros", afirmou.

O tempo faria o empresário e o operador de máquinas concretizarem seus sonhos.

Chevrolet Sonic LTZ Rafael Stefano  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rafael Stefano pintou trocou rodas, escape e pintou para-choque "para ficar mais parecido com o Lancer"
Imagem: Arquivo pessoal

Vida curta, longa vida

Em 2013, quando passou a ser importado do México, ganhou promessa de custo/benefício melhor. As vendas do Sonic, porém, não empolgavam e a manutenção tinha fama de ser cara como a do Cruze.

O banho de água fria veio com as cotas de importação do país latino, em 2014 -- que estabelecia limite de veículos mexicanos trazidos versus os exportados para lá. A GM se viu na encruzilhada entre o Tracker e o Sonic. Já estávamos no início da onda SUV e o Tracker, claro, levou a melhor.

Os últimos Sonic foram vendidos em setembro de 2014. Mas foi aí que o carro caiu no imaginário de muita gente e se tornou um seminovo atraente.

"Quando era zero, o Sonic não tinha o bom custo/benefício que tem atualmente. E é um dos melhores, pois traz muitos equipamentos, motor moderno que entrega boa potência e acabamento bom", destacou o gerente de usinagem Cláudio Vital, paulista que hoje vive em Curitiba com seu Sonic Sedan LTZ 2012/13 com câmbio manual.

Vital comprou o seu em abril de 2018, mesma época em que o José Roberto Monteiro realizou seu sonho antigo por obra do destino. Depois de ter o Corsa roubado, ele aproveitou o dinheiro do seguro e levou para a garagem um hatch LTZ 2013/14 automático.

É esportivo?

O Sonic atrai atualmente, inclusive, quem não conhecia o carro quando era novo. O engenheiro civil Rafael Dias Stefano estava de olho em um Ford Focus seminovo. Em junho de 2017, foi a uma concessionária no Rio de Janeiro, mas não encontrou o modelo. Foi quando o vendedor o orientou a dar uma olhada em outros usados da loja e ele se encantou com o design do Sonic hatch à venda.

"Aquela frente, a silhueta, a maçaneta escondida me chamaram tanto a atenção que confesso que nem vi o símbolo da Chevrolet. Achei que era um esportivo e pensei: 'não ganho para isso, sou estagiário'. Já estava indo embora e voltei só para perguntar ao vendedor, por curiosidade, o preço do modelo", lembrou Stefano.

Não pensou duas vezes em comprar a versão LT automática ano 2013. Aproveitou e deixou o carro do seu jeito: pintou parte do para-choque ("para ficar mais parecido com o Lancer") e as rodas de preto brilhante, trocou escapamento e adesivou o teto.

"Não conhecia o Sonic e achei o carro legal e diferente, com cara de esportivo. Desse dia em diante foi só paixão. Tem pegada boa, faz curva de forma excelente, tem motor com torque. Não é um esportivo, mas passa a sensação de esportividade".

Chevrolet Sonic João Pedro Rykaszewski - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"Cara de mal" e porte do Sonic atraíram João Pedro Rykaszewski, faltava a condição de ter um
Imagem: Arquivo pessoal

Restauração

Fora de linha, pouco tempo à venda, importado… Aspectos que, por si só, poderiam desestimular o mais emocional dos compradores não parecem desanimar os recentes donos do Sonic.

"Não ligo muito para isso. Gosto de aproveitar o que o carro tem a me oferecer. Infelizmente, no Brasil, ele não rendeu como o esperado, mas é vendido até hoje nos Estados Unidos", pondera o representante de vendas Luan Monteiro de Brito, que adquiriu seu hatch LTZ 2012 automático há oito meses.

"Todo mundo me chamou de maluco, me alertou. Mas pesquisei em todo lugar, abordei donos de Sonic na rua. Tem que botar na balança e correr certos riscos, pois é a possibilidade de comprar um carro completo por um preço bem mais em conta", faz coro José Roberto Monteiro.

Chevrolet Sonic João Pedro Rykaszewski batido - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Pedro Rykaszewski viu no Sonic batido a chance de ter um
Imagem: Arquivo pessoal
Imagine, então, se o Sonic estiver semidestruído. O sonho de ter o modelo foi capaz de superar até essa barreira. Lembra do João Pedro Rykaszewski, que citamos logo no começo? Pois bem, em 2017 ele trabalhava em uma agência de automóveis e vendeu um LT 2013/14 com câmbio manual para um cliente. Meses depois, o modelo chegou a informação de que a unidade quase teve perda total em um acidente.

Foi a oportunidade de comprá-lo por um preço muito baixo.

Foram seis meses e R$ 5 mil para praticamente restaurar o hatch. Rykaszewski confessa que teve certa dificuldade em encontrar peças externas e que recorreu a sites de compra e venda e concessionárias.

"Muita gente pensa em peças baratas. Eu penso no conforto e no design com apelo esportivo. E paguei barato em um carro que valia mais. Não tive medo, até porque era um sonho. De lá para cá a única coisa que fiz foi trocar uma mangueira do radiador. Mais de um ano sem dar nenhum tipo de problema", garantiu.

Itens da carroceria podem até ser complicados, mas muitas peças são fáceis de achar, segundo os proprietários. Por ser feito por uma derivação da mesma plataforma, o Sonic compartilha componentes de suspensão e freios com Spin e Cobalt, por exemplo.

Já o elogiado motor 1.6 16V de 120/116 cv era da mesma linha Ecotec 1.8 16V dos primeiros Cruze nacionais. 

Tem até quem compraria um Sonic zero-quilômetro no exterior -- o modelo é vendido em países latinos, como Aveo -- se tivesse dinheiro. Mesmo depois do facelift de 2016 o fazer perder a cara de malvado.

"Sou operador de equipamentos pesados e quando entro nesse carro ele se torna um brinquedo para mim. Se eu tivesse acertado a 'Mega-Sena da Virada', pegaria esse carro zero bala direto na GM. Melhor: pegaria um 2019 e colocaria a carcaça do antigo", assegurou José Roberto Monteiro.

Tem problemas?

Sim, existem problemas com o Sonic que valem atenção. Os exemplares coreanos rendem dor de cabeça aos donos. Há relatos de bobinas queimadas sem motivo, velas com pouca durabilidade e problemas no coletor de admissão. Para quem quer fugir da mão de obra cara das concessionárias, a dica é procurar mecânicos que conheçam bem o automóvel da GM.

"Tive um problema com o Sonic e tive que procurar outro profissional, mais qualificado Tudo na concessionária é muito caro, era um problema que poderia ser resolvido rapidamente, se o meu mecânico de confiança soubesse mexer no carro", explicou Luan de Brito.

Outras queixas comuns dizem respeito à frente baixa, algo típico de carro importado, que raspa com facilidade em rampas até pouco íngremes.

E o design elogiado acaba cobrando a conta dos passageiros do banco traseiro: o vidro traseiro é amplo e invade bastante a terceira coluna, o que rende nucas queimadas em dias de sol quente.

O consumo é alvo constante de críticas. Os proprietários dizem que dificilmente fazem médias melhores que 6 km/l na cidade, com etanol, e 8 km/l.

Cláudio Vital, porém, garante que dosando o pé, já fez até 17 km/l com gasolina na estrada. "O consumo de um carro pode variar 40%, dependendo de como você anda. Eu vejo o consumo do Sonic como normal", disse.

A propósito, falta indicador de consumo instantâneo no computador de bordo e indicador de temperatura do motor no quadro de instrumentos, que tornou-se um capítulo à parte.

Inspirado em painéis de motocicletas, o mostrador tem coloração azul mescla de informações digitais e analógicas e seu estilo compacto era um diferencial no lançamento. Nem todo mundo gostou, mas alguns fãs elogiam.

"O painel é sem comparação. Na época, os instrumentos de outros carros eram muito padrão, não tinham graça alguma", disse Luan de Brito. "O painel foi um motivo que chamou a atenção. Curto para caramba", reforçou Vital.

Raio-X

+ Boa safra: 2013.
+ Melhor versão: LTZ é a mais completa.
+ Boa compra: LTZ automática 2014.
+ Pontos positivos: conjunto mecânico, posição de dirigir e equipamentos.
+ Pontos negativos: nível de ruído do motor, porta-malas e consumo.
+ Evite: as versões com câmbio manual de cinco marchas.
+ Atenção: ao ar-condicionado, que costuma apresentar problemas no condensador e não gelar direito.
+ Atenção 2: há relatos de câmbios (manual e automático) que simplesmente travaram depois dos 50.000 km.
+ Atenção 3: botão da manopla do câmbio automático, que se desprende com facilidade.
+ Atenção 4: a versão esportivada Effect tem o mesmo conjunto mecânico. Costuma ser mais cara e as chamativas rodas também dão custo maior.
+ Recalls: houve chamadas para reparos e eventuais trocas da tubulação e do tanque de combustível, assim como dos anéis de vedação da bomba de combustível. Também teve convocação para substituição do cilindro de ignição dos modelos com câmbio manual.