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Museu da Renault na França tem primeiro carro da marca e "pai do Corcel"

Ricardo Ribeiro/UOL
Imagem: Ricardo Ribeiro/UOL

Ricardo Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Flins-sur-Seine (França)

27/10/2018 08h00

Com 750 veículos, Le Garage empresta carros para exposições em todo o mundo e pode receber pequenos grupos de convidados

A mais antiga fábrica da Renault em atividade não produz apenas o elétrico Zoe e parte da demanda pelo Clio 4, além do Nissan Micra. A unidade de Flins, a cerca de 40 km do centro de Paris, também abriga um grande acervo histórico da marca. É ele que UOL Carros vai te apresentar hoje.

Chamado de "Le Garage" ("A garagem", em francês), ele não é considerado museu, mas pode receber visitas de convidados. Na parte principal, tem exposição de cerca de 90 modelos, trocados periodicamente, inclusive com lances temáticos. Atualmente, o espaço destaca os 120 anos da Renault, fundada em 1898.

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No total, são 750 veículos, que são emprestados para exposições e eventos por todo o mundo. Preservação, gerenciamento do transporte e novas aquisições ficam a cargo da equipe Renault Classic.

O departamento afirma que ainda busca verba dentro do grupo para montar efetivamente um museu, mais amplo e aberto ao público.

Primeiro Renault

O "Le Garage" conta com sete réplicas e um modelo original do primeiro veículo produzido pela Renault, o Type A. Em 1887, Louis Renault, 19 anos, apaixonado por mecânica e pela nascente indústria automobilística, trabalhava como projetista na Delaunay-Belleville e montou uma oficina no jardim da casa de campo de sua família, onde criou o Type A.

Renault Type A, do século 19 - Ricardo Ribeiro/UOL - Ricardo Ribeiro/UOL
O "Le Garage" conta com sete réplicas e um modelo original do primeiro veículo produzido pela Renault
Imagem: Ricardo Ribeiro/UOL

O veículo, inicialmente não destinado para vendas, ficou pronto no Natal de 1898 e Louis levou alguns amigos para dar uma volta no bairro de Montmartre, em Paris. Desafiado, o carro subiu a íngreme rua Lepic. O desempenho impressionou alguns presentes, que encomendam diversas unidades, alguns até pagando um sinal.

Foi dessa maneira que nasceu a história da Renault como fabricante.

Leve e bem desenhado, o modelo já adotava soluções modernas, como motor na dianteira, transmissão curta de cardan e caixa de velocidades com direção direta, esta patenteada por Louis Renault. A unidade exposta no museu é uma das réplicas, uma vez que a original esteve no estande da marca no último Salão de Paris.

Pai do Corcel

Entre tantas raridades, o "Le Garage" exibe um modelo de particular ligação emocional com os brasileiros, o pai do Ford Corcel. Chamado de Renault 12, ele foi desenvolvido para agradar uma ampla variedade de consumidores internacionais, com linhas suaves e elegantes. É um dos primeiros carros da marca com ambições globais, lançado em 1966.

Enquanto isso, no Brasil, a subsidiária da norte-americana Willys, além do Jeep, começou a licenciar e produzir modelos Renault, como o Dauphine (1959) e Alpine 108 (ou Willys Interlagos, de 1961). A empresa, porém, ficou "mal das pernas" e foi comprada pela Ford, em 1967, com todo o projeto do Renault 12 em casa.

Após um acordo com a Renault, a Ford usou o 12 para criar o Corcel, em 1968.

A Renault não tinha fôlego para atuar em muitos mercados e acabou priorizando a Argentina, onde chegou a fabricar o 12. No entanto, o Corcel acabou fazendo sucesso no Brasil, muito mais do que o 12 entre os argentinos.

No total, foram produzidas 4 milhões de unidades do 12 em França, Espanha, Argentina, Romênia e Turquia. A unidade exposta no museu é de 1977.

Renault 12 - Ricardo Ribeiro/UOL - Ricardo Ribeiro/UOL
Local também exibe um modelo de ligação emocional com brasileiros, o pai do Ford Corcel. Este é o Renault 12
Imagem: Ricardo Ribeiro/UOL

Táxi de Guerra

Já para quem gosta de história, é interessante dar uma espiada no Type AG, que ficou conhecido na França como "Táxi de la Marne", episódio presente no currículo de história do país.

O AG foi o primeiro táxi de Paris, em 1906. Em 1914, o governo requisitou 1.300 deles para levar 6.000 soldados para la Marne, região do rio de mesmo nome. Era maneira mais rápida de fazer o deslocamento na época, em momento decisivo da Primeira Guerra.

A imagem dos táxis deixando a capital e outras localidades, assim como a chegada do reforço, elevou a moral dos cidadãos e das tropas. O reforço garantiu a vitória na Batalha de la Marne, que impediu o avanço das forças da Alemanha. O governo pagou as tarifas das corridas no final da guerra.

Le Garage 12 - Ricardo Ribeiro/UOL - Ricardo Ribeiro/UOL
Local também exibe modelos usados em ralis e competições histórias, além de uma série de modelos turbinados
Imagem: Ricardo Ribeiro/UOL

Museu é variado

Entre modelos usados em antigos ralis e competições histórias, ou mesmo com o Renault 4 cv, "alterego" do Citroën 2 CV, o museu também deixa entrever curiosidades da rivalidade entre Louis Renault e André Citroën, fundador da fabricante concorrente de mesma nacionalidade.

Em outro corredor, o museu guarda a primeira geração do Clio, conhecido compacto da marca, e uma série de modelos turbinados, dos mais antigos, aos dos anos 1990, área em que a Renault foi pioneira.

Há até protótipos do passado, como Projeto 900, um estudo sobre espaço interno, que poderia ter dado origem a uma "Kombi da Renault", em 1959, mas que ficou mais parecido com um carro invertido e nunca ganhou as ruas.

Como chegar

Local: Le Garage
Endereço: Boulevard Pierre Lefaucheux, 78415, Flins-sur-Siene, Aubergenville, França (Fábrica da Renault)
O acervo não está aberto regularmente para o público. É preciso entrar em contato com o time Renault Classic (https://en.renaultclassic.com/)