"Motor Mercosul" não surge com Chevrolet Spin 2019: faltou ação do governo
Solução de engenharia está pronta, mas falta acordo de regulação entre Planalto e demais países
Não basta assinar o "Rota 2030", é preciso de fato tecer políticas que viabilizem carros mais eficientes, mais seguros e modernos no Brasil -- seja com regulamentação local, seja com incentivo à troca por modelos mais econômicos (o mero incentivo à fabricação ou importação não se mostra tão eficiente), seja com acordos com outros mercados. E o Planalto ainda falha nestas medidas, como mostra a história que contaremos agora.
Em fevereiro de 2018, após anunciar mais de R$ 3 bilhões em investimentos no Brasil, a General Motors estava confiante de que seria a primeira fabricante automotiva a colocar um entregar um modelo capaz de rodar tanto no Brasil (ou seja, com motor flex, sendo movido a gasolina E27 e/ou etanol E95), quanto no restante do Mercosul, principalmente na Argentina (onde os motores são abastecidos com gasolina E10 (com mais ou menos 10% de etanol adicionado). A "mágica" estava na reprogramação da central eletrônica (para aceitar qualquer variação de combustível dentro dos intervalos mínimo e máximo de etanol) e em recalibragem mínima do motor em si (em alguns casos, nem isso). UOL Carros contou isso com exclusividade: o novo Spin seria o primeiro modelo com este motor.
Não estava só: simultaneamente, a Volkswagen acreditava que também poderia ter solução semelhante.
Para ambas e para qualquer fabricante instalada no Mercosul, ter motores capazes de "ler" e aceitar qualquer uma das misturas de combustível disponíveis nos países significaria viver no melhor dos cenários: redução de custos de produção/aumento da lucratividade (uma só linha atendendo a diferentes clientes); redução dos gargalos de produção (não é preciso parar de fazer o carro com motor do Brasil para fazer o carro com motor da Argentina); ampliação da oferta/ganho em escala, com uma linha produtiva servindo, com pouquíssimos ajustes tanto à venda local, quanto à exportação.
Tudo lindo. Só faltou combinar com o governo. Ou o nosso governo combinar com o de outros países: esta semana, a GM apresentou a linha 2019 do monovolume Chevrolet Spin sem fazer qualquer menção à atualização -- o "motor Mercosul". A Volkswagen, por sua vez, já havia calado há tempos sobre o assunto. Por quê?
Veja mais
+ Rota 2030: tudo o que você precisa saber
+ Chevrolet Spin 2019: preços e equipamentos
+ Quer negociar hatches, sedãs e SUVs? Use a TabelaFipe
+ Inscreva-se no canal de UOL Carros no Youtube
+ Instagram de UOL Carros
+ Siga UOL Carros no Twitter
3 medidas em conjunto
UOL Carros foi atrás dos motivos para o silêncio da GM sobre o "motor Mercosul". Obtivemos resposta clara.
"Esse motor vem, mas talvez não agora, pois tem um trabalho não só de engenharia, mas com o governo [federal] sobre emissões", afirmou Marcelo Bertocchi, diretor da engenharia de produtos da GM.
De acordo com Bertocchi, "é preciso combinar diferentes especificações, diferentes regulações e diferentes emissões", num tripé de atuações no qual fabricantes, órgãos ambientais e o setor de relações internacionais do governo precisam, cada um, fazer sua parte. "A GM, assim como outros membros da indústria, está fazendo esforços nesse sentido junto aos governos", concluiu.
Segundo o engenheiro, a solução (do lado da fabricante) é simples, tem implantação rápida e não depende do lançamento de um novo motor, exatamente como apontamos na abertura deste texto. O que é complicado é a regulamentação ambiental e a vontade política, tanto que isso não aconteceu.
Diferentes padrões
UOL Carros lembra que as diferenças entre carros que rodam no Brasil para os que rodam na Argentina e nos demais países do Mercosul não estão apenas na capacidade de consumir combustível mais ou menos puro.
A principal está no nível de poluição emitido: isso mexe não só com acordos internacionais, mas com regras sanitárias, ambientais e até econômicos, com padrões que perpassam diferentes níveis institucionais.
No Brasil, seguimos o padrão de emissões Proconve-7, que define níveis de emissões para diferentes veículos automotores e combustíveis. O padrão mais avançado do mundo (ou seja, que cobra menores emissões e consumo) é o Euro-6 (definido para União Europeia e países signatários). A Argentina tem padrão equivalente ao Euro-6. No Brasil, adoção de regimes semelhantes ao Euro-6 está em negociação, mas sem data clara para implementação (fala-se, mas sem certeza, em intervalo que vai de 2023 a 2026).
Traduzindo: embora o Brasil afirme que abastecer carros com etanol ou com gasolina contendo alguma mistura de etanol semelhante à atual melhore níveis de emissões, a Argentina segue um padrão geral mais "limpo" que o nosso. E a negociação para motores comuns passa pela equalização dessa diferença pelo governo.
Bertocchi confirma que a indústria automotiva nacional discute há tempos a "regulação única que atenda às emissões para ambos mercados", tanto com o governo do Brasil, quanto com o governo da Argentina.
No começo do ano, o presidente da GM para América do Sul, o argentino Carlos Zarlenga, já havia indicado "conversas em estado muito avançado". Pena que, na prática, nada ou muito pouco tenha mudado, mesmo com o "Rota 2030".
Resta a ideia de que as discussões possam seguir e evoluir -- ainda que o período eleitoral no Brasil vá emperrar, de fato, qualquer negociação que envolva acordos políticos. Para a GM, como a solução de engenharia pronta, fica fácil aplicá-la a qualquer novo modelo. Se não foi com a Spin, pode ser com novidades da linha Onix, Cobalt e mesmo Cruze (que terá remodelação de meia vida lançada em breve e é fabricado na Argentina). Mas só se o governo quiser.
Viagem a convite da General Motors do Brasil
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.