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Fabricar tinta de um carro é como "preparar um bolo"; entenda receita

Vitor Matsubara

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/07/2018 04h00

Tal qual na cozinha, processo para crar uma nova tonalidade depende muito de usar as medidas corretas

Os ingredientes são retirados de um armário e separados em uma bancada. A balança ajuda a medir a quantidade de cada ingrediente com precisão. Depois basta misturar e despejar o conteúdo no recipiente certo.

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Poderia ser a cozinha de uma padaria, mas estamos dentro da fábrica da PPG Automotive. Líder mundial em tintas e revestimentos, a empresa fundada em 1883 está presente no Brasil desde 1994 e é a principal fornecedora de tintas para a indústria automotiva. Atualmente, várias montadoras utilizam produtos da PPG.

Dando pitaco

Antes de tudo, vale frisar que a empresa não cria novas cores. Esta responsabilidade é da montadora, que procura a fabricante de tintas apenas para produzir a nova cor proposta.

Porém, isso não significa que a empresa não ajude no processo. "Todo ano damos sugestões de cores que fazem parte de uma coleção de cores criada por nós. Mas fazemos o que o cliente pedir", revelou Odair Destro, gerente de produto de tintas automotivas da PPG para a América do Sul.

O primeiro passo é realizar testes para atingir a tonalidade desejada. Além dos procedimentos realizados por químicos, a PPG tem um sofisticado robô parecido com os utilizados nas linhas de montagem das grandes montadoras. Ele é capaz de reproduzir as configurações dos robôs de cada montadora, permitindo que a empresa simule como a cor será aplicada na carroceria.

"Nossa preocupação é garantir a especificação certa para cada cor. Fazemos vários testes para ver se conseguimos chegar na tonalidade desejada. Imagina se alguém compra um carro e a cor dele muda daqui a alguns anos? Se descobrirmos que não vamos chegar na cor certa ou identificamos chance de problemas de resistência às condições climáticas, temos a obrigação de avisar o cliente antes da produção"

Chevrolet Spin Activ - Divulgação - Divulgação
Empresa não escolhe cor, apenas atende o pedido -- mas não sem antes dar pitacos
Imagem: Divulgação

Cozinheiro amador

Fazer uma tinta é um processo que exige atenção. "Parece muito com a receita de um bolo. Cada tinta tem uma especificação com a quantidade certa de cada componente químico", afirmou Ricardo Vettorazzi, gerente técnico do Laboratório de Repintura da PPG Brasil.

Os produtos utilizados na fórmula de cada tinta são armazenados em um grande depósito abastecido diariamente. Aditivos, solventes, resinas e pigmentos são alguns dos "ingredientes" básicos. Água também pode ser utilizada nas tonalidades a base d’água.

Um banco de dados armazena as composições das cores de cada montadora. Os produtos são despejados em uma espécie de batedeira gigante que mistura o conteúdo.

O passo seguinte é a adição dos pigmentos responsáveis por determinar a cor e também efeitos de textura ou tonalidade, como a pintura metálica ou perolizada. Eles são espalhados na tinta por pequenas bolinhas dissolvidas na mistura.

Para evitar que o produto final tenha pequenas imperfeições ou corpos estranhos, a tinta passa por uma espécie de coador para torná-la mais lisa e uniforme.

As tintas são envasadas automaticamente e dois funcionários se encarregam de rotular e armazenar as latas em caixas de papelão. Agora a tinta já está pronta para ser enviada ao cliente -- seja ele pessoa física ou jurídica.

Laboratório da PPG 1 - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Balança ajuda a não passar a quantidade exata de cada ingrediente
Imagem: Murilo Góes/UOL

Chapa quente

A PPG não mostrou como realiza os testes de durabilidade, mas revelou que os laboratórios da empresa conseguem simular condições climáticas de várias partes do país. Assim, eles podem analisar se a tinta sofrerá com possíveis intempéries, como chuva e calor excessivo.

Foi através destes testes que eles comprovaram que algumas cores realmente esquentam mais do que outras. "Nossos testes indicam que o preto aumenta a temperatura interna do carro em até 10 graus se comparado com tons mais claros", revela Vettorazzi.

Ao contrário do europeu, que é mais receptivo a cores chamativas como amarelo e azul, o consumidor brasileiro não gosta de ousar na hora de escolher a cor do seu carro. "A escolha das cores é uma decisão muito regional. Algumas tonalidades vêm de fora, mas a maioria delas é escolhida pela filial de cada marca", garante.

E qual seriam as tonalidades mais procuradas? "Prata ainda é a cor preferida, mas o cinza também é bem desejado e branco está na moda".

Carro cinza - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Conservador: prata é uma das cores mais escolhidas
Imagem: Murilo Góes/UOL

Cores fortes? Gostamos

A facilidade de revenda não é o único motivo da predileção por tons acromáticos -- que respondem por 87% das vendas de automóveis no país.

No ano passado, UOL Carros questionou empresas especializadas na produção de paletas de cores automotivas e descobriu uma tendência inusitada: em tempos de crise, o consumidor pende para cores mais conservadoras. Mas basta uma melhora no cenário econômico para o brasileiro ousar um pouco mais. Nesta condição, vermelho desponta como cor favorita.

Se você optou por fugir da maioria escolhendo uma tonalidade mais vibrante, tome cuidado apenas para não bater o carro.

"Cores fortes, como vermelho, azul e laranja, estão entre as mais difíceis de serem repintadas. Atingir a mesma tonalidade na lata e nas peças plásticas também é difícil para qualquer profissional especializado em repintura", conclui Odair.

Ford Fiesta - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Vermelho não é a primeira opção dos clientes -- a não ser que o país esteja bem
Imagem: Murilo Góes/UOL