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Ford compra estação de trem para tornar Detroit a cidade da mobilidade

Prédio da antiga Estação Central de Detroit será base de centro de mobilidade da Ford - Rebecca Cook/Reuters
Prédio da antiga Estação Central de Detroit será base de centro de mobilidade da Ford
Imagem: Rebecca Cook/Reuters

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

19/06/2018 04h00

Ideia é desbancar atual sede global da tecnologia, o Vale do Silício, e desenvolver transporte do futuro

Há dois meses, a matriz da Ford anunciava que estava desistindo de fabricar carros de passeio comuns -- Fiesta, Focus, Fusion, Taurus -- para se dedicar a vender nos Estados Unidos apenas modelos mais lucraticos, como SUVs, picapes, elétricos e o Mustang. Agora, a gigante de Detroit faz outro movimento curioso para seu futuro: comprou uma estação de trem centenária para montar um centro de pesquisa em tecnologia e mobilidade capaz de competir com o Vale do Silício, na Califórnia. A região central da cidade, onde fica a estação, deverá ser povoada por start-ups, universidades, centros tecnológicos, mais veículos autônomos e elétricos.

Novos detalhes serão dados nesta terça-feira, mas de acordo com a agência "Automotive News" o prédio da Estação Central de Michigan será a base para um centro de pesquisas e de engenharia da mobilidade, onde a Ford espera ter 5 mil empregados diretos e indiretos e definir o futuro de seus carros elétricos e autônomos, bem como de outros projetos ligados ao transporte.

"A Estação Central de Michigan é um poderoso símbolo da decadência de Detroit e também de seu ressurgimento, mas nosso investimento em Corktown está longe de ser meramente simbólico", afirmou Bill Ford Jr., presidente da Ford, chefe de seu conselho diretor e bisneto do fundador Henry Ford. "Estamos fazendo uma grande aposta no futuro da Ford e no futuro do transporte", declarou o executivo.

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Sonho de criança

Além da estação de trem, que vai abrigar uma espécie de campus da Ford em seus 18 andares, a fabricante já comprou ou pretende comprar 50 propriedades na região de Corktown, área que já foi região próspera de Detroit, mas que agora é um conjunto de prédios e galpões abandonados.

Numa área equivalente a 170 campos de futebol, além da estação, há uma antiga fábrica de cobre (chamada apenas de "A Fábrica"), onde já funciona a base de projeto e fabricação dos futuros carros elétricos, além de três quarteirões com prédios menores que abrigarão edifícios ligados à Ford, start-ups e parceiros, com empreendimentos mistos (residenciais e comerciais).

Para ligar esta nova região de Corktown à sede da Ford em Dearborn, a 20 quilômetros de distância, a Ford pretende instalar linhas de ônibus autônomos, sem motoristas. Tudo será usado como prova de força da empresa, que quer ser vista como referência em mobilidade para os próximos anos. 

Perto da área fica ainda o Ford Field, arena criada há alguns anos para trazer o time de futebol americano de Detroit de volta ao centro da cidade. 

Ford trem Detroit Bill Ford - Paul Sancya/AP - Paul Sancya/AP
Bill Ford Jr. dentro do prédio da estação de trem: projeto praticamente pessoal do executivo é prova de força da Ford como definidora de tecnologias de mobilidade do futuro
Imagem: Paul Sancya/AP

Não há estimativa dos valores investidos pela Ford na região, mas segundo a mídia norte-americana o antigo dono do prédio da estação de trem gastou US$ 8 milhões (cerca de R$ 30 milhões) apenas para reparar suas 1.100 janelas quebradas e instalar um elevador de carga. A restauração do prédio da estação deve levar quatro anos e o dinheiro para parte do projeto vem de percentual da verba de US$ 1,2 bilhão (R$ 4,5 bilhões), definida para renovar as instalações da sede da Ford (Dearborn). Outra parte sairá de incentivos fiscais dados pelos governos de Detroit (municipal) e de Michigan (estadual).

Segundo Bill Ford Jr., o projeto começou como especulação há alguns anos e envolvia a estação de trem, que o executivo costumava usar nas viagens da família à Califórnia, quando era criança. Agora, a ideia é desbancar justamente a Califórnia como centro de tecnologias do futuro.

"Sempre tive essa visão de que construiríamos o futuro da Ford, especialmente no que se refere à autonomia, em um cenário urbano, porque é onde esses veículos serão implantados e é aí que precisamos realmente testá-los", afirmou o executivo.

Ford trem Detroit 2 - Divulgação - Divulgação
Em quatro anos, antiga estação será transformada em campus para estudo e criação de projetos de tecnologia e mobilidade
Imagem: Divulgação