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Carro com mais de 100 mil km: vale ou não a pena?

Hodômetro de um JAC J3 indicando mais de 100 mil quilômetros rodados - Reprodução
Hodômetro de um JAC J3 indicando mais de 100 mil quilômetros rodados
Imagem: Reprodução

Felipe Carvalho

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

10/05/2018 12h00

"Caçador de Carros", o consultor Felipe Carvalho analisa o medo que comprador tem de carro muito rodado

Você está dirigindo seu carro tranquilamente e observa que o painel marca 99.999 km rodados. Tudo vai bem, até que os próximos mil metros são completados. No momento que o hodômetro "vira" os 100.000 quilômetros, seu carro explode e tudo vai pelos ares.

Noto que é esse o temor que passa na cabeça de muitos motoristas, já que tantos deixam de lado outros quesitos importantes para sacramentar a qualidade de um carro apenas pelos números que aparecem no painel.

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O que acontece de fato aos 100 mil?

Cientes disso, alguns vendedores de carros, sejam pessoas físicas ou jurídicas, optam por adulterar a real quilometragem de um veículo que está vendendo para torná-lo mais atraente aos olhos do comprador. Ora, alguém gosta de ser enganado dessa forma? Claro que não! Porém, isso também acontece pela falta de conhecimento e "viralização" dessa bobagem de que carro muito rodado é ruim.

Como "Caçador de Carros", vivencio diariamente casos que provam que um dono zeloso sempre terá um bom carro nas mãos, independentemente do tempo de uso ou da quilometragem atingida.

Tenho inúmeros casos para relatar, mas, como sempre faço, falo daqueles mais recentes que ainda estão quentes na memória. Vou citar brevemente dois que aconteceram no começo deste mês de maio. Foram duas avaliações de carros bem distintos para clientes diferentes.

O primeiro foi um Fiat Fiat Siena 2007 Tetrafuel, aquele que pode rodar com três combustíveis diferentes, mas a Fiat gosta de dizer que são quatro: GNV, etanol e gasolina (seja a nossa, seja a gasolina mais pura da Argentina). Estava listado em um desses classificados gratuitos: bancos rasgados, desgastes internos acima do normal, pintura ruim e mais uma série de pontos não condiziam com os 113 mil km acusados no painel. Divida isso pelos 11 anos de uso e temos uma média baixa para carros que rodam com GNV. Claro que algum criminoso adulterou esse hodômetro na esperança de enganar um comprador desavisado. Não sei quanto rodou de fato, mas arrisco o triplo. Carro reprovado!

O segundo caso foi de um exótico Volvo  S80, também 2007. A avaliação do sedãzão de luxo sueco foi a pedido de um cliente que queria algo além do trivial. Avaliei atentamente todos os itens da minha vistoria e já estava me apaixonando pelo carro, quando liguei o painel e tive a surpresa de ver generosos 170.000 km. Nível de conservação acima da média e rico histórico de manutenção, com datas e quilometragens condizentes com a realidade contribuíram para a incontestável aprovação.

Esses dois casos mostram que quem faz o carro é o dono. Quando bem cuidado, qualquer carro moderno passa tranquilamente pela barreira dos 100, 200 ou 300 mil quilômetros. E não são raros os casos que vão além disso esbanjando saúde. Sou prova disso, pois tenho prazer de acumular quilometragens nos meus carros, que continuam firmes e fortes.

Quer saber como não cair nas pegadinhas de carros maquiados e poder levar para casa a melhor opção do modelo usado que está querendo? Então siga essas importantes dicas:

1. Histórico de manutenção

É importante ter notas fiscais de serviços que foram feitos ao longo da vida do carro, sejam eles feitos em concessionária ou em oficinas particulares. Neles, constam as datas e as quilometragens, com intervalos que devem ser condizentes com o que está acusando no dia da avaliação do carro. Além disso, é possível saber se o cronograma de manutenção foi seguido à risca com possíveis trocas preventivas de peças.

Em carros mais modernos, é possível checar esse histórico no próprio computador de bordo do carro. Quando o carro não tem esse histórico ou pior, quando o livreto de manutenção foi extraviado, a suspeita de adulteração é grande.

2. Desgastes de uso

O interior de um carro pouco rodado deve estar próximo de quando ele era novo. Portanto não se deixe enganar com carros que tenham quilometragens baixas, mas que ostentem volantes desgastados, bancos cansados e manoplas e pedais lisos. O exterior também deve ser condizente, ou seja, faróis e lanternas opacas e pintura queimada não combinam com carros que rodaram pouco.

3. Desgaste dos pneus

Você sabia que os pneus têm data de fabricação? Identificando isso é possível evitar ser passado para trás. A data vem logo depois da inscrição "DOT". São quatro números, sendo que os dois primeiros indicam a semana e os dois últimos o ano de fabricação do pneu. Em um carro com baixa quilometragem, é preferível que os pneus sejam os originais, com data da fabricação igual ao do carro.

Caso não tenha, é preciso checar o motivo da troca, que pode levantar a suspeita de quilometragem adulterada. Tome cuidado com a banda de rodagem, que pode ter sido riscada para parecer que o pneu está novo, quando, na verdade, já passou da marca limite de uso.

Para finalizar, meu apelo é para que você leitor comece a valorizar a qualidade de um carro bem cuidado pelo dono anterior. Não queira depreciá-lo por conta de uma possível alta quilometragem. Nossos carros em geral são robustos, mas não inquebráveis. Só assim para esse quesito deixar de ser importante e o ato da adulteração em si seja combatido.

* Felipe Carvalho é administrador de empresas, consultor e primeiro "caçador de carros" profissional do país. Seu canal no YouTube dedicado a avaliações de achados automotivos tem mais de 100 mil inscritos.