Brasil é último em ranking de "políticas de governo" sobre carros do futuro
Brasil tem pior resultado em "política e legislação" entre 20 países avaliados; apontamento é da consultoria KPMG
O Brasil não está preparado para receber carros autônomos. É o que indica um levantamento feito pela consultoria KPMG, que avaliou 20 países escolhidos por representatividade econômica e investimentos em veículos autônomos. Considerando apenas o cenário de políticas de governo para carros autônomos e também modelos elétricos (seja a elaboração de leis ou a oferta de incentivos para pesquisa e fabricação), um dos quatro temas avaliados, o país é 20ª e último colocado.
O ranking foi elaborado com base em quatro pilares essenciais para que um país tenha condições de receber os carros autônomos: tecnologia e inovação, infraestrutura, receptividade da população e política e legislação. Foi neste último que alcançamos o pior resultado. O atraso do governo federal para definir os planos do setor automotivo com o "Rota 2030" contribuiu para fazer o país perder espaço nessa corrida.
Em outros itens até fomos um pouco melhor. Em "receptividade da população", por exemplo, ocupamos o 14º lugar. Entretanto, no aglomerado dos quatro itens nosso país terminou num pouco empolgante 17º lugar, ficando à frente apenas de Rússia, México e Índia.
Novas regras, que devem incluir definições sobre infraestrutura, desenvolvimento e venda de carros comuns, modelos elétricos e também autônomos deveriam ter sido definidas no segundo semestre de 2016 para serem publicadas no Diário Oficial até dezembro. O conjunto anterior de regras, criado pelo governo da presidente afastada Dilma Rousseff, perdeu a validade na virada para 2018 e desde então a indústria de automóveis segue sem uma diretriz.
"O programa é crucial para consolidar a posição do Brasil no desenvolvimento de novos produtos, inclusive para o mercado global. Incentivos fiscais semelhantes são comuns em países que possuem políticas de desenvolvimento industrial e a falta de estímulos locais certamente trará redução de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica no Brasil a médio e longo prazo. É relevante para o país a urgência na aprovação", declarou Wiliam Kalegari, da KPMG.
Foram analisadas no estudo diversas variáveis, como a quantidade de pontos de recarga de carros elétricos, o número de medidas tomadas para acelerar o desenvolvimento da condução autônoma e os incentivos dados pelas autoridades para regulamentar estes tipos de veículos ainda futuristas para o país, mas que estão se tonando comuns em outros mercados. O ranking completo pode ser visto aqui.
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Faltam infraestrutura e leis
Segundo o levantamento da KPMG, os quatro últimos colocados da lista estão "muito atrás" dos outros 16 países. Todos são grandes mercados atuais de automóveis, mas aparentemente pouco receptivos às novidades e atrapalhados na gestão governamental de novas e necessárias tecnologias.
E temos, como dito, a pior nota entre todos os países no quesito política e legislação, ocupando a lanterna: 20º lugar. Os demais resultados também não são bons: 19º (e penúltimo) lugar em infraestrutura e 18ª posição em tecnologia e inovação. Nem na receptividade da população estamos bem, conquistando um discreto 14º lugar.
O Brasil também figura na última posição do ranking de participação de carros elétricos ao lado da Rússia, embora a consultoria destaque que "alguns modelos híbridos sejam importados para lá". No Brasil, neste momento, apenas os híbridos Toyota Prius, Ford Fusion Hybrid e Lexus CT 200h são comercializados. O BMW i3 está com vendas suspensas até a definição do governo, enquanto o supercarro híbrido i8 passou a ser apenas negociado via leasing, contrato de uso com tempo de duração determinado.
O Brasil também perdeu pontos pela falta de pontos de recarga de carros elétricos e só não foi o último colocado em infraestrutura viária porque a Rússia tem estradas piores.
Luz no fim do túnel?
A situação poderia ser melhor (ou menos incômoda, se preferir) se o governo já tivesse "acordado" para os carros elétricos e autônomos. Enquanto ainda se discute quando (e se) o "Rota 2030" realmente sairá do papel -- o Ministério da Indústria e Comércio diz que não há mais impedimento e que o anúncio será feito ainda em fevereiro, mas o Ministério da Fazenda cala sobre o assunto -- o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) anunciou em 30 de novembro de 2017, que regulamentará questões técnicas de carros elétricos e até autônomos nos próximos quatro anos.
Ainda assim, o tema faz parte das discussões do novo programa automotivo que substituiria o "Inovar-Auto".
Durante o anúncio de investimentos de R$ 1,2 bilhão na ampliação da fábrica da GM em São Caetano do Sul, o ministro-interino do MDIC, Marcos Jorge, reiterou que carros híbridos e elétricos podem pagar IPI de 7% (a alíquota atual é de 25%), o que é um começo.
Holanda passeia no futuro
A Holanda é a nação mais preparada para receber os carros autônomos na opinião da KPMG. O país ficou entre os quatro primeiros colocados em todos os critérios principais, sendo líder em infraestrutura -- especialmente pelas excelentes condições da malha viária holandesa, classificada pelo Fórum Econômico Mundial e o Banco Mundial como uma das melhores do mundo.
O país facilita a vida de quem possui um carro elétrico oferecendo 26.789 pontos de recarga, ou 19 pontos para cada 100 km de estradas. Apenas China e Reino Unido possuem mais do que três pontos espalhados pela mesma distância.
Os holandeses também são a segunda nação mais receptível aos veículos autônomos, ficando atrás apenas de Cingapura. Parte deste feito pode ser creditado ao fato de 25% da população do país residir em áreas que já testam a condução autônoma. Estados Unidos, Suécia e Reino Unido completam o "Top 5" de países "amigos" dos carros autônomos.
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