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Fiat Argo? Donos que gostam de Punto e Bravo falam o que a marca deve fazer

Germano e dois Punto: design era destaque, mas falhas de acabamento não podem se repetir no Argo - Arquivo Pessoal
Germano e dois Punto: design era destaque, mas falhas de acabamento não podem se repetir no Argo Imagem: Arquivo Pessoal

Karina Craveiro

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

26/05/2017 04h00

Todos falam de design, qualidades e problemas crônicos dos modelos que serão substituídos

O árbitro paralisa o jogo. Saem de campo Punto e Bravo, jogadores consagrados, que entraram para o time da Fiat no Brasil em 2007 e 2011, respectivamente. No lugar dos dois, entra a maior aposta da marca para o campeonato 2017: o inédito Argo.

Se parte da torcida se anima com a escalação do novo hatch "premium", fãs dos outros dois modelos lamentam. Para eles, a saída é precoce -- ambos têm muitas histórias de vitórias (mas também de derrotas) para contar, sempre saudosas.

Quem ainda quer comprar um Punto zero, por exemplo, terá dificuldades até em achar o carro nas lojas, aponta o site Carsale.

Versátil

Pelo leque amplo de versões, o Punto é um carro democrático e que atende vários bolsos, além de perfis distintos, que vão de famílias aos solteiros, diz o consultor automotivo Rafael Salari Spitaletti, da Car Hunter's, empresa que ajuda consumidores a encontrar um novo carro.

Segundo o especialista, o Punto fez seu nome no mercado de usados, embora algumas versões não tenham tanta liquidez. "A 1.8 HLX não é tão bem vista pelo alto consumo do motor. O pessoal também foge das unidades com câmbio automatizado Dualogic. Já a versão 1.4 Attractive é a mais procurada", resume.

Há ainda o Punto "mosca branca": pouco rodado. Ainda assim, a alta quilometragem não é um problema para o mercado do modelo.

Fiat Bravo Raphael - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Raphael Poncio gosta do motor 1.8 do Bravo, justamente o de manutenção mais complexa na linha
Imagem: Arquivo pessoal

Reputação não é o forte do Bravo

Sobre o Bravo, Spitaletti diz que é um modelo de pior mercado na comparação com o "irmão menor". "Não é tão barato assim, por um pouco mais é possível comprar um carro do mesmo tamanho e de uma outra marca com melhor reputação", comenta.

Para Pedro Luiz Scopino, administrador da Auto Mecânica Scopino, a mecânica dos dois carros é simples e em conta. De toda a gama, no entanto, o motor 1.8 E-torq tem manutenção mais complexa, com peças caras, e raramente vendidas para pronta entrega.

Ele expõe ainda que quase sempre faltam componentes para o câmbio automatizado Dualogic, seja para Punto ou Bravo. "No mais, são carros confiáveis", resume.

Curiosamente, está previsto que o Argo assuma esta versatilidade de versões: conforme UOL Carros apurou, deverá ter configurações com motor 1.0 e 1.3 Firefly, além de uma mais forte, possivelmente com o já defasado motor 1.8 E-torq.

Além disso, ainda não está descartado o uso do câmbio automatizado da Fiat (que trocou o nome Dualogic, já visado, pela sigla GSR). Mas haverá câmbio automático tradicional de seis marchas, sinal de que a Fiat aprendeu algo com a desvalorização de Punto e Bravo.

Xodó de Giorgetto Giugiaro

O Punto ainda aparece no site da Fiat com preços que variam entre R$ 53.310 e R$ 69.680. Apesar disso, a Fiat vende só unidades de estoque, que são cada vez mais raras. Posicionado acima do Palio, destacou-se ao longo de sua jornada pelo design moderno -- a criação é do designer italiano de automóveis Giorgetto Giugiaro.

Pela quantidade de motorizações (atualmente 1.4, 1.6 e 1.8) e também de versões disponíveis (na lista atual entram Attractive, Essence e BlackMotion), donos de Punto destacam versatilidade, design e conforto como pontos mais fortes. Por dentro, acabamento e funcionalidades foram classificados como bons, enquanto o espaço para ocupantes foi citado como "suficiente". Reclamações apareceram na parte mecânica e de performance.

O paraibano Germano de Albuquerque Neto ficou triste com a notícia do fim do Punto, apesar de estar confiante e curioso sobre o Argo. "Como dono e entusiasta da marca não consigo entender essa estratégia de 'matar' o carro. O Punto tem um nome forte, é um carro bem resolvido, aceito pelos brasileiros e que vendeu muito bem", lamenta.

O estudante se apaixonou pelas linhas do Punto quando ainda nem podia dirigir. Convenceu seu pai a comprar o primeiro modelo da família, um 1.8 HLX, em 2008. Quando fez 18 anos, escolheu o Punto 1.4 Attractive Série Itália como primeiro automóvel. Hoje, são duas unidades na garagem: um 1.8 Sporting com câmbio automatizado Dualogic 2013 e um 1.4 T-Jet manual 2012, ambos na cor Amarelo Interlagos.

"O T-Jet é o xodó da casa, usado somente aos finais de semana e para viagens. Passa a semana coberto com uma capa na garagem. O Punto Sporting e o Fiat Mobi (nosso outro carro) são os de uso diário", enumera o estudante, que criou em 2013 o perfil de entusiastas @puntoclube no Instagram, com quase 41 mil seguidores.

 

Sporting do @caiobrunobaltazar! #PuntoClube #MeuFiat

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Lições de quem conhece

Germano destaca ainda o volante multifuncional com "boa empunhadura e botões todos à vista e de fácil uso" e os bancos de formato concha na versão T-Jet, que "seguram bem o motorista em curvas mais acentuadas".

Ressalvas ficam para a quantidade de plásticos duros no painel, para o teto solar, que não "filtra" com eficiência os raios e deixa o interior do carro muito quente, e a iluminação dos botões do ar-condicionado, que queima com facilidade. "É uma dificuldade imensa substituir a lâmpada queimada, até mesmo nas redes de concessionárias".

O que não pode faltar no Argo para o estudante? "Um interior impactante, materiais de qualidade na construção, bastante itens de série, estilo próprio e por último, mas não menos importante, um preço competitivo".

Problemas recorrentes

O Punto 1.4 ELX 2010 da jornalista Karina Alméri é sua paixão. Foi comprado zero, tem bancos de couro customizados com costura vermelha, a mesma da carroceria -- e já está com 100 mil km rodados. "Eu o amo porque acho bem bonito e gostoso de dirigir. Já meu marido não gosta porque diz que o carro é muito pesado para o motor 1.4", conta.

Moradora de Jacareí (SP), roda com o hatch diariamente e diz que nunca teve dor de cabeça com o carro. Tem certeza, Karina? "O ar-condicionado! Reclamei diversas vezes na concessionária, ele passou por testes e tudo o que tinha para ser feito. Fora da concessionária consegui arrumar, mas não completamente, pois ele nunca funcionou da maneira que eu acho que deveria funcionar", relembra.

Entre os atributos do modelo ela destaca, olha aí, o design. Diz que o porta-malas sempre foi o suficiente para seu uso, mas não o considera grande.

Já a publicitária Soraya El Dib (30) vive dias pouco felizes ao lado de seu Punto 1.4 ELX, comprado zero-km em 2008. "Quero trocá-lo urgente. Fiquei um pouco traumatizada com o tanto de problema. Vou priorizar carros que não dão dor de cabeça para a próxima compra", afirma, rumo à oficina.

"Estou voltando com ele para o mecânico pela 57ª vez. Desta vez é o motor esquentando e um vazamento. Meu noivo tem um Toyota Corolla antigo que não deu nem 1/5 dos problemas que o meu Punto teve", lamenta. 

À época que elegeu o Punto no lugar de um Citroën C3, a imponência do modelo da Fiat foi o que chamou de cara a sua atenção. "Gostei da parte interna dele também. Vinha com computador de bordo, que hoje não é nada demais, som embutido, com motor 1.4. Fiquei feliz com a escolha".

Depois de rodar mais de 100 mil km, considera-o pouco resistente. "As teclas do som começaram a descascar com o tempo. Os botões da chaves-canivete também já estragaram umas três vezes sem nenhum outro motivo além de uso. Parece um carro que foi feito para durar dois anos. Já ouvi de outras pessoas que têm Punto que nunca tiveram problema com o carro. Dei azar", lamenta. A paulistana avisa que tem receio de conhecer o Argo, mas estaria aberta ao encontro.

Fiat Punto Soraya - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Soraya El Dib só teve dor de cabeça: "Punto é pouco resistente"
Imagem: Arquivo pessoal

Bravo, o breve

A pegada esportiva é unânime, mas o Bravo teve a produção encerrada depois de seis anos de mercado. O do petroleiro Raphael Poncio é um 1.8 Essence Dualogic com apenas 31 mil km rodados. Foi o segundo dono do modelo de cor prata, que é tirado da garagem em Duque de Caxias (RJ) apenas aos finais de semana.

"O que mais gosto é do motor 1.8. O que menos gosto são as colunas dele, muito largas, prejudicam muito a visão", disse. Sobre o habitáculo, Poncio ressalta que motorista e carona têm muito espaço, mas quem anda atrás se sente apertado, por causa do túnel central e da saída de ar-condicionado. Já o porta-malas, segundo ele, é amplo e se parece com o de um sedã. Poncio ainda fica com seu Bravo por mais um ano, e espera que o Argo seja um substituto à altura.

O empresário Kim Machado, porém, nem quer saber de qualquer coisa sobre o Argo. Dono de um Bravo 1.8 Absolute, acha "péssima notícia" a substituição tão rápida. "Isso tende a desvalorizar e ter o custo da manutenção bem mais elevado", opina o morador de Ribeirão Preto, que usa o Bravo desde 2012. "Comprei com a intensão de pegar um Punto, mas quando entrei no carro, vi o ótimo acabamento e espaço interno [do Bravo]", relembra.

"Tive alguns problemas elétricos com o carro, como os vidros fechando e abrindo sozinhos quando trava o carro pelo alarme. Os espelhos também pararam temporariamente de rebater ou a regulagem parava de funcionar, e com dois anos de uso, o cartão SD do navegador deu problema. Tive os arquivos corrompidos e até hoje a Fiat não me deu solução para a troca", enumera.

O que não pode faltar em seu próximo carro? "Tem de ter motor confiável, itens de segurança, espaço interno e bom porta-malas", completa. Só que, no caso de Machado, não será um Argo.

Para a Fiat, fica a lição do que não fazer em campo com seu novo jogador.