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Honda WR-V chega a R$ 79.400 para derrubar (novamente) o Ford Ecosport

Eugênio Augusto Brito<br>André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP) e Foz do Iguaçu (PR)

13/03/2017 20h14Atualizada em 13/03/2017 20h56

Ele vai brigar em preço com modelo da Ford e atrair quem não pode pagar pelo HR-V

De 2013 para 2014, a Honda começou a ouvir seus clientes aqui no Brasil para saber como montar o quebra-cabeças para ter um SUV compacto campeão, desde o nome até o nível de equipamentos. Era o nascimento do HR-V por aqui, ainda que o modelo só fosse chegar às lojas um ano depois para destronar Ecosport e Duster. Já naquela época, afirmam os executivos da marca, ficou claro que o mercado precisava de um modelo ainda menor e mais barato, um mini-SUV com preço que as pessoas pudessem pagar. Foi o embrião do WR-V, que começou a ser desenvolvido em segundo plano desde então.

Praticamente quatro anos depois, o WR-V estreia respaldado pelo bom histórico da Honda: a marca lidera o segmento de SUVs no Brasil há dois anos, de forma absoluta. Seu objetivo, curiosamente, é o mesmo do irmão mais velho: como já aconteceu com o HR-V, a meta do WR-V é bater o Ecosport, mas em situação diferente. Se o HR-V estabeleceu um novo patamar de conforto e itens de série, o WR-V chega para suprir a vontade de quem não pode (não quer) pagar mais de R$ 90 mil num SUV.

Atualmente, quem pode pagar quase R$ 100 mil acaba investindo no HR-V (vende quase 7 mil carros ao mês), depois no Jeep Compass Flex (que é maior, mas tem bom preço de entrada), Jeep Renegade, Nissan KicksHyundai Creta.

Quem não consegue assinar um cheque desse tamanho acaba se contentando com Ecosport e Duster, já defasados em termos de equipamentos e de cuidados na rede de concessionários. Os preços dos rivais: Ecosport de R$ 72.800 a R$ 89.300 (na configuração 1.6, manual ou automático), com o Titanium 2.0 A/T a R$ 94.700; Duster indo de R$ 67.990 (1.6 manual) a R$ 85.070 (2.0 automático).

E é justamente esse público que a Honda quer atrair. E com estes preços, a partir de 24 de março:

- Honda WR-V EX: R$ 79.400
Traz LED diurnos, ar-condicionado, airbags frontais e laterais, câmera traseira, cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes, computador de bordo, controle elétrico de vidros/travas/retrovisores, fixação de cadeiras infantis Isofix, freios com freios antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de frenagem (EBD), rodas de alumínio aro 16 pol e pneus 195/60, sistema de áudio com tela de 5 polegadas e interface Bluetooth, sistema de bancos Ultra Seat e volante ajustável em altura e distância com comandos de áudio e telefone.

- Honda WR-V EXL: R$ 83.400 
Acrescenta ao pacote anterior: painéis e bancos coloridos, tela multimídia de 7 polegadas com GPS, apps ligados à internet (via celular), cartão SD, além de airbags de cortina, entre outros itens.

Como agradar 

São planos ambiciosos: primeiro, roubar os clientes de Ford e Renault; depois ter uma dupla imbatível de SUVs, tentando fazer primeiro e segundo lugar no ranking. Por fim, se possível, fazer do WR-V líder por conta dos preços mais em conta.

"Padrão Honda" é a chave para o sucesso do WR-V. É forte entre o brasileiro o imaginário do "carro japonês", que significa ser mais bem acabado, com mecânica tida "inquebrável" e bom atendimento nas lojas e oficinas. Isso contra um Ecosport que já foi líder, mas que agora sofre com os próprios erros da Ford. 

 

De resto, a Honda usa uma base muito interessante -- a do Fit -- com mudanças mecânicas acertadas. Nada de novo no trem-de-força: o 1.5 flex de 116 cv e 15,23 kgfm com etanol empurra o WR-V com folga e faz o câmbio CVT padrão (sem simulação de marchas) atuar redondinho.

Novidades surgem no "assoalho": são mudanças nos subframes do monobloco (bandejas dianteiras e traseira), nas bitolas, nas suspensões (amortecedores reforçados, barra estabilizadora mais densa e eixo traseiro mais robusto), na angulação de rodas e também na caixa da direção elétrica (mais complexa, resistente e atualizada que a do Fit), que fazem o carro aguentar o tranco do uso como SUV.

Por conta das diferenças, a Honda não engole o apelido de "Fitão" dado ao modelo. Argumenta que as mudanças são complexas, não apenas estéticas, e elaboradas pela área de Pesquisa e Desenvolvimento de Sumaré (SP) ao longo de quatro anos.

De quebra, afirma que o WR-V é mais espaçoso que o Fit e, ainda segundo os engenheiros e executivos, maior que o Ecosport (2,55 m contra 2,52 m), com mais facilidade de uso do porta-malas (363 l contra 362 l) -- dependendo da versão, o Eco tem mais itens de segurança (ESP, tração, hill assist), mas também fica caro.

Será interessante ver o desenrolar dessa briga nas lojas.

Honda WR-V - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
"Padrão Honda" é pacote feito para desbancar o Ecosport: essa é a receita do WR-V
Imagem: Murilo Góes/UOL

Como anda

Nada adiantaria, porém, se a direção do WR-V fosse insossa -- ou mesmo similar ao do Fit, que é mais pacífico. Com as mudanças mecânicas, a Honda consegue entregar um rodar robusto, típico de SUV, mas sem os vícios do segmento.

Existe uma posição elevada para o motorista, mas não de modo artificial. O vão livre de 20 cm para o solo garante o "sentimento" de se estar a bordo de um SUV, ao mesmo tempo em que suspensão e direção revisadas impedem que o carro escorregue demais, tombe demais, em curvas. Quem vai de passageiro não viaja apertado e isso é fundamental para viagens de final de semana com mais malas ou mais ocupantes.

Com a sensação de se ter um carro na mão e sem aperto, o WR-V acaba sendo até mais divertido e interessante de se guiar que o HR-V, um achado (claro, estamos levando em conta a carroceria mais leve e menos abaulada -- na potência, ampla vantagem do modelo maior, que usa motor 1.8 de 140 cv).

Falta um tempero ao câmbio CVT, que não tem emulação de marchas e, por isso, mantém aquele ritmo monocórdico tão incômodo em viagens mais longas. Mas, levando em conta o tipo de público esperado pela Honda, vai falar mais alto o conforto e a praticidade de não ter de trocar marchas com embreagem. 

Fala alto, também, na versão EXL testada a boa qualidade do acabamento, com efeitos coloridos de painéis e bancos, seis airbags e sistema de entretenimento com tela sensível ao toque e apps que usam a internet do celular.

É o SUV dos sonhos de todo mundo? Não é (e alguns ainda dirão que nem SUV é). Mas o importante é que o WR-V tem bons predicados, preço competitivo e ousadia o bastante para mexer de novo com a situação do segmento.