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Entenda o que é a placa preta automotiva e para que ela serve

Na imagem, Kombi 1958 que se acredita ser a mais antiga do Brasil ainda existente - Murilo Góes/UOL - 24.8.2013
Na imagem, Kombi 1958 que se acredita ser a mais antiga do Brasil ainda existente Imagem: Murilo Góes/UOL - 24.8.2013

Rodrigo Mora*

Colaboração para o UOL

08/02/2017 08h00Atualizada em 31/05/2022 14h38

Carros com 80% de originalidade e feitos de 1987 para trás podem pleitear identificação atualmente

Na garagem do prédio, uma Kombi Luxo 1968, pintada de "verde Caribe", tem placa preta. Há sinais de que jamais fora restaurada: as calotas um pouco desgastadas, as lanternas simpaticamente descoloridas e os bancos com discretos indícios de cansaço.

Mais do que admirar sua integridade e elegância, me perco entre os pensamentos quanto à missão que tem sido para seu proprietário (ou seus proprietários) mantê-la altiva, original e funcionando.

Quantos programas cancelados por causa da chuva, peças repostas, dinheiro e tempo investidos, "não encosta, por favor" pronunciados? Quantos desafios impostos pela vida e superados pela determinação em seguir com a companheira de tantas histórias e viagens?

Dificuldades financeiras, mudanças de casa, de Estado ou país; tempo para curti-la cada vez mais escasso; baterias arriadas porque o tempo para curti-la está cada vez mais escasso; "despejos" de garagens alugadas. Eventos que, a bordo dela, certamente renderam boas histórias. Quanto amor. E não é fácil manter a dignidade de um carro antigo.

A placa preta é a consagração dessa jornada por vezes ingrata, mas quase sempre gratificante. É uma espécie de "troféu" dado aos carros que sustentaram ao menos 80% de originalidade e conservação por 30 anos — ou seja, tem que ter sido fabricado de 1987 para trás.

No caminho, menos R$ 700...

A primeira coisa é se filiar a um clube de autos antigos que seja associado à FBVA (Federação Brasileira de Veículos Antigos). O procedimento inclui o pagamento de uma taxa, que gira em torno de R$ 120, e uma inspeção.

Agendada, um especialista do auto-clube avaliará no seu carro: mecânica, elétrica, visual externo e interior. A cada item mal conservado ou não original, pontos são ceifados.

Se baixar de 80 pontos, tente outra vez. Se o veículo for aprovado, um certificado de originalidade será emitido.

Com ele, siga até o Detran do seu Estado para atualizar o documento, no qual a categoria "Passageiro" (PAS/Automóvel) será mudada para "Coleção" (COL/Automóvel). É preciso abrir a carteira novamente.

Pagar a taxa de registro do novo CRV no valor de R$ 193,04 (se o licenciamento do ano já tiver sido feito) ou R$ 278,28 (se o licenciamento não tiver sido feito), além da taxa de lacração da placa preta de R$ 125,53. São cerca de R$ 716 nesse processo, e tudo é feito na rede bancária por meio do número do Renavam.

Também é preciso quitar débitos existentes de multas, IPVA ou DPVAT (seguro obrigatório), claro.

Fora a questão das taxas, é bom notar que, na prática, há poucos benefícios. De fato, os veículos com a placa preta são isentos de inspeção veicular, mas ninguém busca esse reconhecimento apenas para burlar a inspeção — cada vez mais em desuso, aliás.

Corre-se atrás da chapa preta para dizer a si mesmo: "Você conseguiu! Valeu a pena, parabéns". E, claro, para que seu vizinho fique babando na garagem, imaginando o quanto foi difícil — e ao mesmo tempo mágica — essa viagem.

* Jornalista especializado, tem passagem por Programa Auto+, G1, Folha de S. Paulo, iG Carros e mantém paixão por carros antigos e o Instagram: @moranoscarros