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Fiat faz 40 anos, e operários contam como faziam carros nos anos 1970

Reportagem: Eugênio Augusto Brito e Leonardo Felix. Imagens: Murilo Góes e Rodrigo Ferreira

Do UOL, em Betim (MG)

09/07/2016 10h00

Em acordo amarrado com o governo estadual de Minas Gerais, a Fiat decidiu, em 1971, construir sua primeira fábrica brasileira em Betim, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Em 9 de julho de 1976, há 40 anos, a unidade foi inaugurada, numa área que hoje equivale a 2,25 milhões de metros quadrados -- é a maior unidade fabril do Brasil em área construída e instalada.

Estamos falando de uma cidade, praticamente: lá há restaurantes, caixas eletrônicos, transporte coletivo interno (com diversas linhas circulares), restaurantes e até padaria (a maior de Minas Gerais, reza o causo...).

Por si, a instalação em MG já foi uma vitória para a novata: longe do ABC Paulista -- onde estavam as fabricantes da época, Volkswagen, General Motors, Ford e Mercedes-Benz (caminhões) --, a Fiat levava vantagem pela falta de concorrência local e pelos custos menores.

"Foi uma grande vitória, pois permitiu à empresa se aperfeiçoar se valendo de mão-de-obra mais barata, com sindicato menos atuante maior e também pelos méritos da própria fabricante", afirma Fernando Calmon, especialista do setor automotivo e colunista de UOL Carros.

"Enquanto o ABC enfrentava movimentos sindicais fortes, a Fiat nunca enfrentou uma grande greve em Minas. Também é preciso dizer que a Fiat sempre cercou seus funcionários de vantagens e agrados adicionais que não existiam em outras montadoras", concluiu Calmon. 

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Quem fez a Fiat

É exatamente um misto desta história de "mineirzação automotiva" e "agrados" aos operários que UOL Carros ouviu dos funcionários mais antigos da fábrica de Betim: Dalmiro Alberto, hoje responsável pela área de prensas em toda a divisão latino-americana do grupo FCA (Fiat-Chryler Automobile), e Antônio Fonseca, atualmente supervisor da área de funilaria em Betim.

Ambos têm mais experiência que a própria Fiat do Brasil, já que começaram o treinamento há mais de 40 anos, antes da própria fábrica existir, com viagens à Itália. Também narram histórias de crescimento pessoal e profissional, dificuldades do início da produção ("a Fiat era desacreditada, ninguém conhecia", foi algo ouvido da boca de ambos) e também de momentos curiosos (o brinde com champanhe após a construção dos primeiros carros) vividas juntos a outros empregados.  

Do primeiro 147 ao Mobi (passando por Uno, Palio, Tempra, Tipo, Marea...), Dalmiro e Fonseca -- nomes que constam dos crachás -- contam como fazer um carro nos anos 1970 de forma quase artesanal se transformou em pura técnica e aplicação de fórmulas matemáticas no computador. E de como a Fiat passou de "zé ninguém" a líder do cenário automotivo brasileiro.

Do artesanal ao robótico

Dalmiro já passou por diversas divisões da fábrica, mas encontrou nas prensas o setor onde tinha mais afinidade. As prensas são as máquinas responsáveis por moldar as chapas de aço sem precisar levá-las ao estado de fusão.

"Nos anos 70, para operar a prensa o operador tinha que ter um livrinho com as especificações de cada modelo, e parar o trabalho para fazer as alterações manualmente. Para trocar as chapas com os moldes, então demorava de uma hora a uma hora e meia. Hoje é só selecionar o modelo no computador e a troca é feita em até quatro minutos", comparou.

Já Fonseca sempre atuou na funilaria, que é a etapa responsável por receber as chapas prensadas e soldá-las, dando a forma definitiva da carroceria.

"Quando eu entrei a gente fazia um carro na mão e na raça, mesmo, né? Tanto que, quando terminava, a gente até estourava champanhe para comemorar. Hoje tem muito mais equipamento [robótico] e é muito mais matematizado", disse.

No total, mais de 15 milhões de veículos de 50 diferentes modelos, produzidos numa cadeia que conta com cerca de 19 mil funcionários compõem a história da Fiat em 40 anos.