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Fórmula 1 reaprende a roncar alto com carro esportivo; assista

Leonardo Felix

Do UOL, em São Paulo (SP)

19/03/2016 08h00

Em tempos de esforço para fazer com que os carros de passeio rodem da maneira mais silenciosa possível, ainda existe quem queira ouvir muito barulho. Fabricantes de carros de passeio sabem disso. Sem essa preocupação, a F1 se deu mal

No caso de esportivos de rua, a adoção de motores menores e turbinados a partir de 2008 (o downsizing costuma oferecer mais potência com menor consumo) deixou puristas descontentes com o ruído.

Um V8 de 5 litros soa diferente de outro de 6 ou 8 litros; um V6 com turbo é menos borbulhante que um V8. E o que dizer do ruído de um 2.0 de quatro cilindros e turbinado comparado a um motor de V6, V8 ou V10?

Se você é purista, se arrepiou só de ler, não? 

Para evitar decepções (e redução de vendas), as fabricantes surgiram com soluções variadas para que seus supercarros continuem rugindo furiosos.

As alternativas são diversas: retirar abafadores e silenciadores do escapamento, controlar a pressão da saída dos gases com borboletas ativas (pequenas tampas no interior dos canos, que se movem segundo uma programação) ou até usar o chamado "ronco virtual" (o sistema de som amplifica o ruído do motor).

Marcas como Audi (do TT ao R8), BMW (família M), Ford (Mustang e GT), Jaguar (F-Type) e Mercedes-AMG (derivações de civic, além de SLS e GT) são exemplos de quem altera o padrão do som do escape pelo modo de condução selecionado.

É o que mostra, na prática, o vídeo feito com nova geração do Mustang preparado Roush, oficina de performance da Ford.

Modo de condução muda humor e ronco do Mustang

UOL Carros

F1 copia afinação do som

Desde a adoção das unidades motrizes híbridas -- formadas, em parte, por um propulsor V6 turbo de 1,6 litro --, em 2014, o encanto com o ronco dos carros da Fórmula 1 acabou.

O barulho, que antes se espalhava pelo autódromo e obrigava a usar protetores auriculares para não estourar os tímpanos, ficou bem mais tímido.

Dois anos depois, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) resolveu lidar com as críticas: os escapamentos mudam a partir desta temporada 2016.

Um ou até dois pequenos escapes extras, ligados diretamente à válvula de escape do turbocompressor, passarão a jogar os gases diretamente à atmosfera.

Por meio da assessoria da Mercedes-Benz do Brasil, um porta-voz da equipe Mercedes-AMG F1 detalhou a mudança, em vídeo, a UOL Carros.

"Nosso dinamômetro indicou que o ronco subiu de 124 para 128 decibéis. Os antigos V8 aspirados [usados de 2006 a 2013] chegavam a 129,5 dB", informou o assessor da atual bicampeã de Pilotos e Construtores da categoria.

Em outras palavras: a promessa é de fazer quase tanto barulho quanto antes (diferença de 1,5 dB).

Na prática, quem ouviu o novo barulho gostou: "Muitos que ouviram de perto dizem que o ronco aumentou [em relação a 2015]. É interessante notar que um acréscimo de apenas 4 dB no volume tenha levado a intensidade do som a quase dobrar".

Se empolgou? Calma: apesar da melhora, a F1 de 2016 não atingiu e talvez nunca mais alcance o nível de ruído que arrepiava os espectadores nas arquibancadas.

Há explicações técnicas: "Primeiro, os giros são mais baixos e não chegam aos 18.000 rpm dos V8; segundo, o próprio turbocompressor acaba sugando o máximo possível dos gases a fim de gerar mais energia", apontou a equipe.

O lado bom é que, com a tecnologia moderna, os carros de F1 começarão a temporada com potência já próxima aos 900 cv.

É algo que não se via desde a antiga era turbo, que perdurou de 1977 a 88: "Nosso atual motor é o mais forte que já fizemos na F1", cravou a Mercedes.

Shhhhhhh!

Enquanto isso, quem constrói automóveis para a sua garagem segue tentando deixá-los cada vez mais silenciosos.

Segundo Evandro Bastos, gerente de produto da Mercedes-Benz do Brasil, o sistema de escape é, mais uma vez, ponto crucial para isso.

"Os grandes esforços estão em: desenvolver materiais que melhorem o isolamento acústico da parte interna do cofre; novos conceitos de aerodinâmica da carroceria, para reduzir turbulências em altas velocidades; e trabalhar em soluções para vedar o escapamento, aumentando o conforto dos passageiros e reduzindo a poluição sonora externa", resumiu.