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Citroën Aircross 2016 tem recheio para compensar mecânica limitada

Leonardo Felix

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/11/2015 08h00

Se 2015 foi um ano de grandes dificuldades para as fabricantes que não se prepararam adequadamente ao período de retração, também significou um importante amadurecimento do consumidor brasileiro. Ele está mais exigente: quer carro mais equipado, conectado e bem acabado, nem que tenha que pagar mais pelas versões de topo de gama.

Atenta a essa movimentação, a Citroën lançou esta semana a reestilização do Aircross, monovolume que mira famílias ou quem precisa de muito espaço, ocupando um meio-termo entre compactos e SUVs. Devido à forte queda nas vendas do modelo (de 9 mil unidades em 2012 para menos de 1.400 até outubro deste ano), a marca francesa decidiu matar o C3 Picasso, modelo que originou a família, e apostar tudo na variante aventureira.

Para a linha 2016, o sobrevivente Aircross parte de R$ 49.990 na configuração sem estepe externo (versão 1.5 Manual Start). Confira toda a lista de versões e equipamentos clicando aqui. De acordo com a fabricante, 70% das vendas continuarão a se concentrar nas três versões com pneu reserva pendurado à tampa do porta-malas. UOL Carros já testou duas delas: a 1.6 Manual Feel, de R$ 58.990, e a 1.6 Auto Shine, R$ 69.290, a mais cara de toda a gama.

Como é o Aircross manual

A versão 1.6 Manual Feel possui como principais itens de série: direção elétrica progressiva com regulagem manual de altura e profundidade; vidros, travas e retrovisores elétricos; bancos revestidos em tecido com ajuste manual de altura; alarme; ar-condicionado manual; rodas de liga leve aro 16; barra longitudinal de teto; sistema de rádio com Bluetooth, USB e entrada Auxiliar; e luz diurna em LED. Ela também é a primeira da nova gama com o estepe pendurado, item que sozinho identificava o Aircross anterior.

É um bom pacote, embora um tanto burocrático (seu único diferencial é o estepe aparente). Os acabamentos, embora corretos, continuam simples e quase totalmente predominados por tecido e plástico duro. Posição de dirigir e encaixe da mão são confortáveis, mas o desenho do volante não sofreu mudanças e já está obsoleto -- fora que a imitação de couro microperfurado na região da empunhadura é tosca. Ponto positivo para o isolamento acústico, bom tanto para ruídos externos quanto para motor e rolamento dos pneus.

O propulsor 1.6 flex, de 115/122 cv de potência (gasolina/etanol) e 15,5/16,4 kgfm de torque, continua fraco para levar os 1.395 quilos em ordem de marcha, mesmo com o carro vazio. Sua novidade mais positiva é permitir partidas a frio sem precisar de tanquinho. Apesar de oferecer relações corretas de marchas, o câmbio manual de cinco velocidades continua com engates um tanto folgados e imprecisos.

Para reduzir o consumo, a PSA alongou em 5% a relação do diferencial e adotou assistência elétrica progressiva à direção. Esta última teve papel preponderante para aumentar conforto e segurança durante a condução. Porém, foi preciso usar pouco mais de um tanque e um quarto (o tanque do modelo tem 55 litros) para rodar 400 quilômetros, entre rodovias e trechos urbanos, o que significa autonomia aproximada de 6 km/l de etanol.

Como é o Aircross automático  

Com a versão 1.6 Automática Shine foram mais 90 km de testes entre rodovia, estrada asfaltada e vias de chão batido. Aqui é preciso fazer um reconhecimento: a Citroën fez milagre ao recalibrar a transmissão de quatro velocidades, pois reduziu sensivelmente os trancos e berros do motor nas reduções e retomadas. Mas para por aí: com as relações limitadas pelo baixo número de marchas, o câmbio fica com "buracos" que prejudicam, por exemplo, o uso de freio-motor em rotação adequada.

O Aircross está mais alto em relação ao solo (12,9 cm), o que significa maiores ângulos de ataque (23 graus) e saída (29,3 graus). Com suspensões retrabalhadas, o conforto aumentou, inclusive para leves incursões fora-de-estrada. Por outro lado, aerodinâmica e rigidez contorsional em curvas seguem ruins, fraquezas acentuadas pela ausência do controle de estabilidade. Consumo aproximado (com gasolina) foi de um quarto de tanque para esse trecho, o que confere autonomia de 6,4 km/l.

A central multimídia com tela tátil de 7 polegadas e função de espelhamento de celulares -- item de série apenas nesta versão) agradou, tanto pelos comandos intuitivos quanto pelos gráficos, inclusive o do navegador GPS.

Dizer que o novo Aircross é ruim seria exagero. Em espaço, conforto, acabamento e conectividade ele está alinhado às novidades do mercado. Mas câmbio e conjunto de suspensão estão ultrapassados. Fica difícil imaginar que ele vá explodir em vendas com essas configurações. A verdade é que melhorar o recheio interno não vai camuflar essa defasagem por muito tempo. (Colaboração Murilo Góes).

Viagem a convite da PSA do Brasil