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"Blindagem rápida" ganha força no Brasil, mas pode ter armadilhas

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

01/06/2015 08h00

O mercado de blindagem automotiva segue em alta no Brasil. Segundo dados da Abrablin (Associação Brasileira de Blindadores), cerca de 1.700 veículos de uso civil foram blindados por mês no país desde janeiro. Na projeção para todo o ano de 2015,serão mais de 20 mil unidades, um recorde mundial.

UOL Carros já tratou do assunto em 2014: o fenômeno é um reflexo da "neurose" que se criou em relação à sensação de insegurança nas grandes cidades do país. De lá para cá, houve evolução no serviço para atender à enorme demanda. Algumas empresas adotaram soluções específicas para nosso mercado, para tornar o processo mais rápido e acessível.

É o caso da "blindagem unidirecional", lançada há duas semanas pela fabricante Udura. Há ainda o processo Armura, da multinacional DuPont. Ambos prometem proteção com baixo tempo de preparação e menor impacto à estrutura original do carro. Mas há armadilhas nos dois casos, alerta especialista.

Kevlar no lugar do aço

Em vez da manta balística convencional, a blindagem unidirecional usa tecido formado por várias camadas de aramida (também conhecida como Kevlar), dotadas de fios paralelos e sobrepostos de forma perpendicular. "Essa malha dissipa melhor a energia e é mais maleável, dispensando lâminas de aço nas extremidades", argumenta Antônio Bertagnoli, diretor geral da empresa.

Segundo o executivo, o procedimento permite reduzir o peso da blindagem para um modelo de médio porte em mais de 50 quilos (o processo tradicional acrescenta de 150 a 200 kg ao peso do carro) e ainda demanda menos tempo para ser finalizado. "Como não precisamos soldar as chapas de aço, podemos blindar um SUV médio em apenas um dia", disse.

O nível de proteção é o III-A, máximo permitido por lei para uso civil, que deve suportar disparos de submetralhadoras 9mm e pistolas Magnum de calibre 44.

A Udura não quis revelar o valor médio do serviço, mas estima-se que ele seja mais caro que a blindagem III-A convencional, que varia entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.

Blindagem de veículo com tecnologia unidirecional, da empresa Udura - Divulgação - Divulgação
Blindagem unidirecional dispensa uso de chapas de aço nas extremidades
Imagem: Divulgação

Opção mais leve

Já a DuPont, multinacional do setor químico, desenvolveu especificamente para o Brasil a blindagem com partes pré-moldadas, processo chamado de "Armura". Ele é homologado com nível I -- o mínimo exigido pelas normas nacionais --, capaz de aguentar balas de calibre 38. "É o suficiente para um cenário de violência urbana como o nosso", defende Allan Gorham, gerente de blindagens da empresa.

A blindagem Armura funciona assim (confira os detalhes em álbum nesta reportagem): kits chegam às blindadoras com tecidos de aramida e vidros já prontos para instalação. Basta aplicar as peças sob a forração original, operação que dura cerca de cinco dias úteis. Atualmente, 25 modelos zero-quilômetro em linha no mercado podem ser blindados por esse processo -- entre eles estão Volkswagen Tiguan, Toyota Corolla e Honda Fit, por exemplo.

"Estamos saindo de um processo artesanal para o semi-industrial, o que permite poupar tempo e cortar custos", acrescenta Gorham. De acordo com a companhia, o uso da Armura aumenta em "apenas" 90 quilos o peso do carro, o que dispensaria, segundo a DuPont, até a aplicação de reforço nas molas da suspensão. O preço varia entre R$ 20 mil e R$ 40 mil.

Veículo com marcas de tiro - Folhapress - Folhapress
Blindagem pré-moldada tem proteção nível I: aguenta tiros até de armas calibre 38
Imagem: Folhapress

Armadilha

As promessas de uma blindagem rápida, eficiente e até mais barata podem atrair clientes, mas é preciso ter cuidado com armadilhas. "O mercado extrapolou as expectativas e estimulou a concorrência desenfreada. Muita gente tenta mostrar algo diferente para chamar a atenção, mas isso não garante qualidade. E o Exército [órgão que controla o setor] ainda não tem estrutura para fiscalizar de maneira adequada", advertiu Laudenir Braccialli, presidente da Abrablin.

"A Armura, por exemplo, não oferece proteção suficiente para uma arma 9mm, bastante usada por criminosos. O cliente precisa estar muito ciente disso antes de contratar o serviço", ressaltou. Em relação à Udura, o executivo fez alerta mais grave. "Essa empresa foi suspensa de nossa associação após ser reprovada em testes balísticos de proteção nos vidros", denunciou.

Questionado por UOL Carros, o diretor-geral da Udura defendeu que seus produtos se adequam aos padrões de segurança exigidos. "Passamos dois anos e meio em processo de homologação. Nosso produto oferece tecnologia que não existe em nenhum outro lugar do mundo", enfatizou.

A saída para escapar de problemas é pesquisar: "É importante descobrir procedência da empresa e se certificar de que o nível de blindagem oferecido é mesmo o que o consumidor quer", frisou o presidente da Abrablin.