Topo

Cada vez mais real, carro autônomo ainda assusta motoristas

Keith Naughton e Elisabeth Behrmann

Da Bloomberg, em Southfield (EUA) e Munique (Alemanha)

07/05/2015 19h01

Quando a empresa de pesquisas Harris Poll perguntou aos norte-americanos se eles confiariam em um carro que anda sozinho, a maioria respondeu: "é muito perigoso". Quando explicou que agora eles podem comprar um carro que assume o controle dos freios e o volante para evitar uma colisão, a maioria disse: "quero um agora".

A pesquisa realizada para o site Autotrader.com é um lembrete de que uma tecnologia capaz de mudar paradigmas é menos assustadora quando chega aos poucos, incorporando-se à vida cotidiana até se transformar em algo normal. As montadoras estão apostando que o gradualismo diminuirá os medos do consumidor em relação a automóveis com sensores, câmeras e chips para condução autônoma -- veja série especial de UOL Carros sobre o tema.

A cada ano, pouco a pouco, os carros se tornarão mais plenamente autônomos à medida que o setor unir a tecnologia de "assistência ao motorista" aos pacotes de opcionais de segurança. Equipamentos que há cinco anos pareciam saídos de um filme de ficção científica estão silenciosamente se tornando lugar-comum em uma série de modelos -- desde os luxuosos carros da Audi, Volvo e até modelos de preço médio da Subaru.

Ty Hendrickson, 40, trocou uma velha minivan por um Subaru Outback depois de conhecer uma pessoa que fraturou a coluna em um acidente de trânsito ao receber uma batida na traseira. O Outback de US$ 27.000 (nos Estados Unidos) freia automaticamente ou reduz a aceleração se sente uma colisão iminente; pode também acionar um alarme caso Hendrickson cruze faixas sem usar a seta ou saia fora da pista.

"As pessoas não percebem como os carros ficaram inteligentes", disse Hendrickson, um executivo do ramo de qualidade da água de Fort Collins, Colorado, EUA. "Há uma revolução em andamento".

E ela está ganhando velocidade rapidamente. No próximo trimestre, quem for comprar carro poderá optar por modelos com recursos de piloto automático real -- que permitem que os motoristas tirem as mãos do volante e os pés dos pedais.

Volvo Drive Me, carro autônomo - Divulgação - Divulgação
Enquanto carro autônomo enfrenta o trânsito, "motorista" pode se distrair ou trabalhar
Imagem: Divulgação

Seu amigo no congestionamento

"A ascensão da máquina já está realmente acontecendo", disse Thilo Koslowski, vice-presidente de prática automotiva da empresa de pesquisas Gartner. "Mas muitos consumidores não confiam na tecnologia. Esse é o maior problema enfrentado por essas máquinas inteligentes".

A Tesla Motors planeja lançar um carro com "direção autônoma" no próximo trimestre. A Cadillac, linha de luxo da General Motors, prometeu estrear no ano que vem um modelo que dispensa o motorista de conduzir o volante em alguns momentos. Também no ano que vem, a Audi, a Mercedes-Benz e a BMW oferecerão carros que assumem o controle em um congestionamento, permitindo que o motorista relaxe e alivie o estresse.

Dentro de dois anos, o A8 da próxima geração da Audi apresentará um "cérebro computadorizado central" que analisa instantaneamente dados provenientes de vários sensores e câmeras do carro e que pode tomar decisões rápidas na direção durante congestionamentos e viagens longas.

"Com isso, você devolve tempo ao indivíduo para ele fazer suas reflexões enquanto está atrás do volante ou simplesmente sentar no banco de trás, enquanto toma seu café", disse Anupam Malhotra, gerente sênior de veículos conectados da Audi.

É possível que haja um grande número de veículos capazes de trafegar sozinhos pelas ruas ou atravessar engarrafamentos nas estradas em 2017 e os carros autônomos poderiam criar um mercado de US$ 42 bilhões para a tecnologia até 2025, disse o Boston Consulting Group em janeiro. Antes disso, alguns modelos Audi, BMW e Mercedes trafegarão com mãos livres em velocidades próprias para rodovias, mudarão de pista por conta própria e estacionarão sozinhos em uma garagem vertical. A Volvo tem projetos semelhantes. 

Audi A7 piloted driving - Reprodução - Reprodução
Audi prevê modelos que estacionam sozinhos para muito em breve
Imagem: Reprodução

Questão moral

A maior questão, no entanto, é como os carros sem motorista conseguirão decidir entre a vida e a morte. Um ser humano pode tomar uma decisão espontânea em uma situação perigosa, mas um carro sem motorista terá que ser programado para reagir. O que um BMW Série 7 faria ao se deparar com a "opção" de atropelar uma criança ou bater em outro carro? A BMW afirma que questões abertas como essa significam que ainda faltam muitos anos para poder cochilar ou ler atrás da direção.

"A condução totalmente automatizada, na minha opinião, ainda tem um longo caminho pela frente", disse Ian Robertson, diretor de vendas da empresa com sede em Munique. "A tecnologia será brecada pela questão moral final de quem é o responsável".

"A tecnologia pode fazer essas coisas de forma muito mais segura do que um ser humano", disse Robertson. "No entanto, um algoritmo tomará uma decisão que talvez não seja aceitável do ponto de vista cultural ou social".

Por enquanto, só auxílio

As tecnologias de auxílio de pista e freio automático podem ser encontradas em modelos comuns de empresas como Honda, Ford e Hyundai, entre outras. Os pacotes de assistência ao motorista, que há alguns anos eram vendidos por US$ 4.000 ou mais, agora podem ser obtidos por menos da metade disso. O pacote de segurança do Subaru de Hendrickson custou US$ 1.200. A linha Lexus, da Toyota, disse que oferecerá um conjunto de recursos de segurança semiautônomos no próximo SUV RX por menos de US$ 650.

O próximo grande salto: radar e câmeras operando em conjunto para permitir que os carros pilotem a si mesmos. "A câmera são os olhos do carro e o radar, os ouvidos", disse Bart Herring, gerente-geral de gestão de produto da Mercedes-Benz.

A Mercedes já vende um sistema que conduz um carro na rodovia a velocidades de até 190 quilômetros por hora, desde que o motorista mantenha uma mão no volante. Até 2016, a marca oferecerá um sistema de mãos livres, segundo a BCG.