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Citroën estreia motor turboflex em sedãs médios por R$ 78.790; leia análise

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/12/2014 11h49Atualizada em 08/12/2014 18h07

Conforme antecipado pelo conceito C4 Lounge Sport White, no Salão de São Paulo 2014, a Citroën lançou nesta segunda-feira (8) o primeiro sedã médio com motor turboflex do mercado brasileiro. A tecnologia foi implantada nas versões THP Tendance e Exclusive do C4 Lounge, e cobrará pelo menos R$ 78.790, R$ 2.100 mais do que custava o antigo C4 Lounge Tendance com propulsor turbo movido só a gasolina.

A justificativa para o aumento vai além do novo motor: a Citroën também incluiu no modelo a terceira geração da transmissão AT6, automática de seis velocidades, e controle de estabilidade (ESP) na versão intermediária, item cobrado por UOL Carros em sua avaliação do modelo.

Já o C4 Lounge THP Flex Exclusive, topo de gama, sai da concessionária por R$ 85.490 e inclui teto solar, airbags laterais e de cortina (seis no total), partida por botão e câmera de ré. Além das versões com turboflex, a Citroën continuará a vender o sedã com o velho propulsor 2.0 aspirado de 151 cv (com etanol), também flexível, nas versões Origine (R$ 63.390), Tendance Manual (R$ 67.890) e Tendance Automático (R$ 72.890). O THP somente a gasolina deixa de ser fabricado.

TURBINAR AS VENDAS
Adotar o motor turboflex é uma cartada ambiciosa da Citroën para deixar o C4 Lounge mais atraente no segmento de sedãs médios. Desde outubro de 2013, quando o modelo chegou ao mercado, foram vendidas 11,7 mil unidades, número que o líder Toyota Corolla consegue alcançar, sem dificuldades, em um bimestre. É OK para uma fabricante acomodada, mas pouco para quem, tem um bom produto na mão e capacidade de entregá-lo conforme a demanda. 

Citroën C4 Lounge 2015 THP Flex - Divulgação - Divulgação
Não há alterações visuais no C4 Lounge; além do motor, versão THP Tendance ganhou nova geração do câmbio automático de seis marchas e controle de estabilidade
Imagem: Divulgação
Embora a marca francesa não aspire crescimento muito grande para 2015 (atualmente detém 1,7% do mercado nacional, e espera manter-se no patamar), ser a segunda montadora do mundo a ter um propulsor bicombustível turbo (atrás só da BMW) é um trunfo importante para garantir um futuro saudável no Brasil -- também para a Peugeot, parceira no grupo PSA e que beneficiária das mesmas tecnologias.

As duas marcas se encontram em dificuldades no país (a Peugeot, no mundo todo), e precisam recuperar prestígio em meio à concorrência cada vez mais acirrada.

O motor 1.6 turboflex projeta resultados em médio e longo prazo. Vem sendo desenvolvido desde novembro de 2011, em parceria com a Bosch -- quase dois anos antes de o C4 Lounge ser lançado, portanto. Segundo a Citroën, no mix de vendas do C4 Lounge o motor turbo responde por 40% das vendas atuais, e pode chegar a 60%. Mas essa preferência tão acentuada do consumidor, diz um porta-voz da marca, foi inesperada.

COMO FICOU
Com a adoção do sistema bicombustível, o propulsor THP de 1,6 litro passou a render 1 cavalo a mais com gasolina (166 cv), chegando ao pico de 173 cv de potência quando abastecido 100% com etanol (são 19 cv de vantagem sobre o 2.0 flexív.el do Corolla, e 18 cv ante o do Honda Civic, as duas referências do segmento). O torque foi mantido em 24,5 kgfm, gerados precocemente, entre 1.400 e 4.00 rpm.

Para chegar a esse resultado, a fabricante teve de fazer diversas adaptações: novo sensor e calibragem específicos para uso de etanol; adequações em componentes como velas de ignição, cabeçote, válvulas, pistões e sistema de admissão e escape; e um novo sistema de injeção com bomba de alta pressão (200 bar), para dispensar o tanquinho para partida a frio. 
Citroën C4 Lounge 2015 THP Flex - Divulgação - Divulgação
Turboflex 1.6 do C4 Lounge rende 166 cv com gasolina e até 173 cv com etanol; são quase 20 cv a mais em relação aos líderes Corolla e Civic
Imagem: Divulgação
Acoplada ao turboflex está a nova geração do câmbio automático AISIN AT6, de seis velocidades, desenvolvido com relação de marchas 11% mais longa e a nova função RDT (Redução de Tração), que dimiui as vibrações em marchas mais baixas.

Com essas alterações, o C4 Lounge turboflex promete economizar até 7,5% no consumo de gasolina em relação à linha 2014 -- no teste de UOL Carros, o antigo THP fez média de 9 km/l; se o ganho se confirmar na prática, o índice chegaria perto dos 10 km/l. Visualmente e no acabamento, o C4 Lounge não sofreu alterações.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
O test-drive oferecido pela Citroën nesta segunda-feira (8) teve trechos de intenso tráfego urbano, estrada livre e bem pavimentada, e também uma "brincadeira" num aeroporto particular no interior de São Paulo (SP), cuja pista de pouso mede cerca de 1,5 km já está pronta. UOL Carros guiou, foi de passageiro dianteiro e também de "patrão", acomodado no banco traseiro de um C4 Lounge Exclusive.

Começando do fim: poucos sedãs oferecem tanto conforto para quem vai atrás como esse Citroën -- desde que leve uma ou, no máximo, duas pessoas. O entre-eixos de 2,71 m, generosidade herdada do C4 Pallas (pioneiro nisso entre os sedãs médios, mas detestável em quase todo o resto), garante bom espaço horizontal/longitudinal. Mesmo a caída mais acentuada do teto em direção ao porta-malas não prejudica a acomodação vertical. O apoio de braço permite o uso por dois adultos sem que se toquem. Há saída de ar-condicionado dedicada.

A sensação é a mesma para quem vai como passageiro: eis um carro que trata bem seus ocupantes.

Para o motorista, o conforto continua notável, mas aqui o sedã tem alguns pontos a corrigir. Mesmo sendo modelo mais "sênior" que o Honda Civic, o C4 Lounge é menos "idoso" que o Toyota Corolla, e por isso lhe cairia bem um volante de diâmetro menor e pegada mais esportiva. Uma boa ideia seria oferecer ajustes da firmeza da direção elétrica -- algo banal, presente em modelos mais baratos e de marcas menos pretensiosas.

Outra falha é o posicionamento do console/painel central. O C4 Lounge contraria a tendência das cabines em forma de "cockpit", com teclas, botões e telas em ângulo para que fiquem ligeiramente voltados ao motorista. Em vez disso, rádio/multimídia, navegador e controles do ar são retos, ficando de frente para um hipotético (e indesejável) 3º passageiro traseiro. Verdade que isso facilita manuseio e leitura por parte do passageiro dianteiro que precise utilizá-los -- mas o argumento é fraco num país em que se dirige sozinho a maior parte do tempo.

Em termos dinâmicos, nada a melhorar: o C4 Lounge THP é muito bom de guiar, com ótimo casamento motor/câmbio e fôlego em todas as situações. Em cruzeiro, a 100 km/h, o conta-giros marca apenas 2.000 rpm; aos 130 km/h, velocidade em que mesmo motores 2.0 (aspirados) urram de tanto trabalho, o ponteiro mal roça nas 2.500 rpm.

O principal resultado disso é o baixo nível de ruído a bordo. A suspensão de ajuste macio previne impactos grosseiros nas irregularidades do piso e ajuda no conforto a bordo.

Com a adição de controle de estabilidade (ESC) a partir da versão Tendance (que também oferece interior em couro e é, de longe, o melhor custo/benefício da gama), o C4 Lounge THP supera boa parte dos rivais no segmento. Se a rede Citroën oferecer um pós-venda digno da garantia de três anos e das revisões a preço fixo, não vai dar para comprar um sedã médio sem antes experimentar este carro.