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Peugeot corrige rota e fica premium com 208, 2008 e 308 europeu

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/11/2014 23h13

Salão do Automóvel de São Paulo, outubro de 2012. Há dois anos, a Peugeot fazia uma apresentação totalmente voltada ao 208, modelo que estreava com a missão de salvar a marca, nada menos: havia versão limitada de lançamento (a Premiére), versão comum e até um vislumbre do esportivo GTi (até hoje inédito por aqui). Novembro de 2014: a marca que entregou 72 mil carros em 2012 e 57.500 em 2013, amarga queda na participação de 2% para 1,28% (até agora, são 34.500 unidades vendidas no ano) e decide mudar de rumo no Salão de SP. A partir de agora, a marca quer se firmar como premium. São três passos: rechear o 208, lançar o 2008 e bombar o 308, mas não o nacional.

Até então, aqui no Brasil, a função de marca premium cabia à Citroën, algo diferente do que ocorre no resto do mundo. Com as vendas da marca irmã estabilizadas em bom patamar, o grupo PSA resolveu inverter tudo e adotar a mesma postura vista no exterior. A Peugeot vai apostar em modelos mais requintados -- e mais caros -- para ter mais dinheiro em caixa, ainda que as vendas sejam menores. Há alguma lógica, já que o mercado brasileiro (a exemplo do global) está aquecido para carros premium e de luxo.

É isso que enxergamos no estande da Peugeot no Anhembi, neste momento. O conceito 208 Quicksilver mostra um pacote mais recheado e até certo ponto esportivo para o hatch e vai voltar a ser uma série real em 2015 (o 308 já recebe uma série Quicksilver neste momento, limitada a 600 unidades, além do retorno da série Roland Garros). Também protótipo, o 208 Natural mostra o poder da marca para construir veículos diferenciados com recursos brasileiros.

Como explicar esta mudança de rumo ao brasileiro? "A Peugeot é topo de uma marca generalista, que pode concorrer com a Volkswagen. Seus carros têm mecânica e pegada com aquele rigor germânico que agrada a quem gosta de carros", afirmou Carlos Gomes, presidente da PSA para Brasil e América Latina, em entrevista a UOL Carros.

O executivo promete ainda ampliar o número de concessionários e admite que a marca deve investir na melhoria do atendimento.

HOLOFOTE SOBRE O 2008
Aguardado no Brasil desde 2012, o crossover 2008 é o astro do estande. Astro tímido, é verdade: quem for ao Anhembi só verá diferentes showcars, unidades de demonstração do modelo derivado do 208. Uma delas está, inclusive, aberta ao meio e serve para demonstrar a tecnologia híbrida da PSA, que mistura motor a gasolina e compressor de ar -- e que sequer estreou na Europa ainda. Também serve para mostrar ao brasileiro como poderá ser o interior do 2008, já que as outras unidades no estande estão fechadas.

"Ainda estamos no meio do processo de homologação do 2008, enfrentamos alguns atrasos e decidimos focar nesta questão de termos modelos mais requintados e bem acabados, então o carro ainda não está pronto", justificou outro executivo da marca.

Assim, o 2008 só vai estrear "no final do primeiro trimestre, início do segundo trimestre de 2015". A Peugeot deixa claro que, apesar da timidez inicial, não haverá fraqueza no modelo construído em Porto Real (RJ): "Não tem essa de ter versão pelada e com motor fraco, nada de colocar o 1.5 flex, que gera apenas 89 cavalos com gasolina". Ou seja, espere pelo poderoso 1.6 THP, com turbo e injeção direta, certamente em sua configuração flex de 165/173 cv (gasolina/etanol), que está sendo lançada aqui no Anhembi.

Depois, é possível haver uma opção mais "acessível", com motor 1.6 aspirado (115/122 cv). Espere também por preços que o deixarão bem distante do Ford EcoSport e mais próximo de modelos como o Chevrolet Tracker ou do futuro Honda HR-V.

Peugeot 308 GT - Newspress - Newspress
Finalmente veremos a nova geração do 308? Peugeot diz que sim, em 2015
Imagem: Newspress
EUROPEU DIFERENCIADO
Por fim, a Peugeot vai apostar em um movimento arriscado para melhorar a participação no segmento de médios: fazer as gerações argentina e europeias do 308 conviverem.

Primeiro é preciso ampliar o conteúdo do 308 fabricado em El Palomar, que chega ao Brasil pelo corredor livre do Mercosul. Para isso servem as séries Roland Garros e Quicksilver citadas acima. Depois, algo mais complicado e até polêmico: complementar a oferta do 308 local com o 308 europeu, que apesar do nome idêntico é um carro de nova geração, feito sobre a novíssima plataforma modular EMP2. É uma estratégia similar àquela que Volkswagen pensa em adotar com o Golf 7: nacionalizar a versão de entrada e manter a importação da esportiva GTI.

Menor (4,25 m contra 4,28 m), mas mais espaçoso (2,62 m contra 2,61 m), o 308 europeu poderia usar o mesmo THP flex de 165/173 cv, em configuração padrão, ou ainda calibrado para oferecer até 205 cv, apenas com gasolina, na configuração GT, ao ser vendido aqui.

Tal fórmula já havia sido anunciado durante o Salão de Paris e foi confirmada agora por Miguel Figari, diretor geral da Peugeot do Brasil: "O terceiro passo para a Peugeot atrair o cliente mais exigente é esse estudo de uniformização, com a importação do 308 europeu para complementar o local, que segue atrativo e atraente".

Em dois anos, talvez menos, saberemos se a Peugeot finalmente acertou -- ou se haverá tempo para uma nova correção.