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Sandero Stepway é a cara da nova Renault, goste você ou não

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

31/10/2014 17h05

Antes de falar sobre a nova cara da Renault, apresentada neste Salão de São Paulo 2014, convido você, internauta, a dar uma olhada nos comentários feitos à picape compacta-média Duster Oroch, conceito que é a principal atração do estande da marca no Anhembi.

Enquanto amantes e detratores do visual do protótipo se alternaram, alguns internautas traziam à tona uma questão de não cala: quando a Renault voltará a trazer modelos com cara francesa ao Brasil?

Representando UOL Carros, fiz esta esta pergunta ao presidente da Renault do Brasil, Olivier Murguet, durante entrevista privativa a três veículos especializados, na abertura do salão, na última segunda-feira (27). O executivo fechou o semblante, respirou e respondeu incisivamente:

"O que se vê aqui no salão é um design totalmente novo no mercado. Não está desatualizado e o público sabe disso, pois a primeira razão de venda do Logan no mercado é seu visual", afirmou.

Tentei novamente, por um caminho auxiliar: "Mas Logan, Sandero e Duster são criações da Dacia, que é romena...". Não tive tempo de concluir.

"Nós [a Renault] compramos uma marca há 15 anos, existia Dacia, existia Samsung, existia Autovaz. Hoje, a Renault é um grupo", concluiu, demonstrando que há uma política em comum, apesar das diferentes áreas de atuação. "Sandero, Duster e Logan fazem 80% das vendas no Brasil, considerando veículos de passeeio, enquanto Fluence e Clio [importados da Argentina] representam os outros 20%", completou.

Voltando a sorrir, Murguet explica que a "nova" Renault tem um objetivo claro no Brasil: passar dos atuais 6% de participação para 8% até 2016, num ciclo que nomeou de "terceira fase" da marca. A primeira teria sido a chegada ao Brasil, na virada nos anos 1990 para 2000; e a segunda, o crescimento iniciado com a exploração da trinca da Dacia, com o mote de espaço amplo e preço baixo.

Nesta nova fase, a Renault seguirá apostando na questão do benefício de preços atraentes, em relação à concorrência, espaço interno, mas com visual um pouco mais trabalhado. E, para tristeza de muitos, pode se manter distante de igualar a linha francesa.

Olivier Murguet, presidente da Renault do Brasil  - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
"Somos pragmáticos com plataformas e peças. Mas o design, a imagem da Renault, é uniformizado", diz Murguet
Imagem: Murilo Góes/UOL
MESMA ALMA, CARA DIFERENTE
Lançado oficialmente aqui no Salão de SP, embora já esteja à venda nas lojas há pelo menos duas semanas, com preço inicial "promocional" de R$ 47.800, o novo Sandero Stepway é prova da nova filosofia Renault para o Brasil.

Em sua nova geração, o modelo praticamente deixa de ser um aventureiro nos moldes em que o país se acostumou a ver. Ainda há altura elevada para o solo, mas os penduricalhos plásticos rústicos não existem mais -- sobraram dois borrachões no para-choque dianteiro, além de saias laterais e caixas-de-rodas com molduras plásticas. Mas o clima todo é mais... "descolado", na acepção moderninha do termo.

A Renault não usa o termo, mas é como se o Stepway fosse o "compacto premium" da casa. Vou traduzir: esqueça a vinda do francês Clio IV.

Renault Sandero Stepway 2015 - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Stepway deixa de ser um aventureiro comum para ser um modelo "descolado" da Renault, que não vai usar o rótulo "premium" (ainda que seja a mesma coisa)
Imagem: Murilo Góes/UOL
"Mercados locais opinam sobre o que precisam, mas nós somos pragmáticos: usamos plataformas e peças que temos, mas design e imagem são uniformizados, aqui ou na Europa", contemporiza Murguet.

Com esta frase, Murguet explica que não há espaço para o Clio europeu no Brasil. Se o carro francês parece maior e é mais bonito e arrojado que os vendidos por aqui, fica a cargo de quem olha dizer. O fato, para o executivo, é que internamente ambos oferecem o mesmo padrão de conforto e equipamentos e seria algo inútil trazer um carro que custaria caro demais para oferecer algo que o modelo nacional pode dar.

De fato, observando o Stepway do Salão com atenção é possível perceber que o nível de plásticos e itens de auxílio ao condutor são superiores ao do Sandero europeu e bem próximos ao do Clio francês: há piloto automático, ar digital, tela multimídia com funções do computador de bordo e o painel foi uniformizado. Mas não dá pra esquecer que modelos europeus podem sair de fábrica com controles de tração e estabilidade, entre outros diferenciais importantes.

Mas como expandir de 6% para 8% sem novos produtos? Murguet revela que com o desmembramento da Nissan, que abriu fábrica própria no Estado do Rio, há espaço para dois projetos da Renault no Brasil.

UOL Carros crava um deles: a picape Oroch foi sensação do Salão de SP, ao menos para a imprensa, e vai virar modelo de produção rapidinho. O outro projeto segue como incógnita, mas pode ser mesmo uma nacionalização/adaptação do europeu Captur, já que o Duster não tem fôlego para brigar com versões mais caras do EcoSport, nem com novos combatentes, como o Chevrolet Tracker e os novíssimos Jeep Renegade e Honda HR-V, entre outros. Há outra pista: o SUVinho Kicks, que a co-irmã Nissan fará no país usando a plataforma dos compactos March e Versa -- e que no fim é análoga à base de Clio IV/Captur.

Murguet não adiantou nada sobre esta possibilidade, apenas descartou Clio europeu e afirmou que o Captur viria, mas "foi fechado" por conta do disparate do câmbio real/dólar. Mas como diversos flagras mostraram não apenas Captur, como o Clio IV, rodando aqui no Brasil, supõe-se que a melhor solução seria ter algo feito localmente, com adaptações necessárias (custo de produção menor) e, claro, exibindo a nova cara dos modelos da marca. Toque local, DNA global. Acostume-se.

(P.S.: Se serve de consolação, o novo Mégane RS, com passaporte europeu e 265 cv, está no Salão e cada vez mais perto da rua.)