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UOL Carros mostra a diferença entre freios comuns e freios com ABS; assista

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

28/05/2014 14h50

Após pelo menos cinco anos de argumentos e decisões e uma tentativa de adiamento na reta final, desde janeiro deste ano, carros zero-quilômetro nacionais e importados vendidos no Brasil precisam obrigatoriamente sair de fábrica equipados com bolsas frontais duplas (airbags para motorista e passageiro) e freios com sistema ABS (antitravamento).

UOL Carros foi ao autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), participar de uma sessão de testes de frenagens com instrutores do Centro Pilotagem Roberto Manzini para descobrir o quanto freios equipados com ABS são mais eficientes que freios comuns. O resultado pode ser visto em vídeo e comprova os números citados por Rubens Manzini.

Na videorreportagem, usamos um carro modificado, que tem freios com ABS, mas que permite desativar o sistema eletrônico para simular a ação de um carro com freios convencionais. Como o carro é o mesmo, as situações de comparação são menos díspares.

Vídeo de frenagem com e sem ABS, UOL Carros - Reprodução - Reprodução
Freios comuns: rodas travam, motorista perde controle e distância percorrida é maior
Imagem: Reprodução

SEGURANÇA NA PRÁTICA
Segundo especialistas, os freios com ABS têm importância fundamental no pacote de segurança. Os airbags são "apenas" equipamentos de restrição secundária: ou seja, agem após o acidente para conter o movimento involuntário dos ocupantes contra partes do carro (volante, painel, para-brisa e colunas, por exemplo), evitando maiores ferimentos; além disso, são ineficientes se os ocupantes não usarem cintos de segurança. Freios com ABS, porém, são equipamentos de ação primária, ou seja, podem evitar acidentes.

O sistema antitravamento (também chamado popularmente de "antiblocante", embora o termo seja evitado por técnicos) impede que as rodas travem durante a frenagem. Com isso, o motorista mantém o controle da direção do carro, podendo fazer movimentos para escapar do obstáculo. Além disso, como as rodas não derrapam, aproveita-se melhor a força da frenagem tornando o processo mais eficiente. Resultado: o espaço percorrido até que o carro pare é menor.

"Na velocidade padrão em pistas rápidas de centros urbanos, com o carro até 70 km/h, ao se acionar totalmente o freio de um carro comum, as rodas serão travadas e você vai levar 45 metros ou mais até parar completamente", afirma o instrutor Rubens Manzini, especialista em direção defensiva e ofensiva. "Quando o carro está equipado com ABS, este tempo até a parada pode cair em um terço, talvez mais, dependendo das condições".

No registro do teste de frenagem retilínea -- feita com o carro lançado em velocidade de 70 km/h, com acionamento do pedal de freio após o fechamento do semáforo --, a distância percorrida até a parada total do carro, sem ABS, foi de 48 metros. Usando o sistema ABS, a distância caiu para 30 metros -- tudo bem próximo do que previu Manzini.

Além disso, foi possível mudar a trajetória do carro ao usar o ABS, algo impossível de se fazer com as rodas travadas.

Freio sem ABS e com ABS - Reprodução - Reprodução
Freio ABS (à direita) mantém carro sob controle mesmo em frenagens bruscas; sem ABS (à esquerda) as rodas travam e continuam deslizando mesmo esterçadas
Imagem: Reprodução
MUDANÇA DE HÁBITO
É preciso notar que ter uma lei determinando o uso mandatório de equipamentos de segurança não basta. O consumidor precisa exigir seus direitos e cobrar soluções e novos movimentos das montadoras, exercendo seu maior poder: a decisão de comprar ou não comprar.

UOL Carros mostrou em reportagem de abril que ainda há carros novos à venda sem equipamentos de segurança. Eles não burlam a lei: são sobras de produção de 2013 e podem ser encontrados com descontos. Cabe ao comprador decidir o que importa mais: o orçamento doméstico ou sua segurança.

Além disso, também é preciso saber usar corretamente os equipamentos. "É preciso sentar direito no carro, se posicionar corretamente no banco, com os joelhos levemente arqueados e nada de perna estendida, senão o motorista não consegue fazer a alavanca correta com o pé direito no freio, caso preciso", aponta o instrutor de pilotagem. "Além do freio, é preciso acionar também a embreagem com força", avisa.

Ao volante, o motorista tem de se acostumar com outra característica comum do freio com ABS: como o sistema aciona e libera o freio do carro diversas vezes em frações de segundo (e é este movimento automático que impede as rodas de travarem), acaba sendo normal que o motorista perceba um tremor no pedal, seguido por um som característico, quase um clique repetido. "Se sentir o pedal tremendo, não tire o pé", alerta Manzini. "Não alivie e siga freando totalmente, até o carro parar".

TRÂNSITO AINDA MATA
De acordo com dados do Sistema de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, divulgados esta semana e relativos à última década, o número de mortos em acidentes de trânsito no país cresceu quase 40% no período de 2002 a 2012. Com a podenração feita pelo aumento populacional no período, o crescimento foi de 24,5%, ainda expressivo demais.

A conta é bem lógica: mais montadoras ofereceram seus carros no mercado, que estão mais potentes; e, com renda maior, mais brasileiros puderam comprar carros a cada ano. Se demanda e oferta cresceram, o mesmo não pode ser dito da segurança, porém: segundo especialistas, apenas 23% dos carros novos vendidos no Brasil em 2010 -- último ano com dados disponíveis -- estavam equipados com ABS (freios antiblocantes), sendo que só 4% destes eram dos chamados "carros populares", mais baratos.

A obrigatoriedade do uso de freios com ABS e airbags deve ajudar a mudar um pouco o quadro nos próximos anos. Mas é preciso cobrar, agir e também dirigir com mais segurança.