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Novo e moderno Clio circulando em SP dá pistas sobre a Renault do futuro

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/03/2014 07h00

Quando a 4ª geração do Clio foi apresentada ao mundo no Salão de Paris de 2012, a chance de ela ser lançada no Brasil era nenhuma.

A Renault, deitada no berço esplêndido do quinto lugar no mercado nacional, só queria saber de vender Sandero, Logan e Duster, extraindo o máximo da gama de baixo custo criada pela subsidiária Dacia, da Romênia. Para que investir centenas de milhões numa carro novo, como era o Clio IV? O Brasil que continuasse com o velho Cliozinho argentino...

  • Paulo Cícero Martins/UOL

    Clio IV pode ser apenas a ponta de um iceberg em formação na aliança Renault-Nissan

Pouco antes daquele salão parisiense a Hyundai lançou o HB20, compacto fabricado em Piracicaba (SP) que forçaria uma elevação geral no nível dos carros situados na ampla faixa de R$ 30 mil a R$ 50 mil. Quando nacionalizado, em 2013, o Ford New Fiesta deu continuidade a essa revolução -- sentida também em segmentos mais caros, como o de médios (com Volkswagen Golf 7 e Ford Focus, entre outros).

Em outras palavras: não dá mais para fabricar carro "mais ou menos" no Brasil e achar que o público vai aderir; e, principalmente, não dá mais para trabalhar em grande escala sem focar em carros globais.

Tudo isso para dizer que a estratégia da Renault para o Brasil pode estar mudando drasticamente. Um flagrante precioso (e pioneiro) enviado a UOL Carros pelo leitor Paulo Cícero Martins, de São Paulo (SP), mostra nada menos que um Clio IV fortemente camuflado, com placas verdes de São José dos Pinhais (PR), cidade-sede de fábrica da aliança Renault-Nissan. O veículo transitava pela avenida dos Bandeirantes, perto do Aeroporto de Congonhas, na zona sul paulistana.

MUDANDO TUDO
Essa primeira aparição do Clio IV rodando pelo Brasil pode ser um eco do passo inicial na atualização da gama sul-americana da marca, já insinuada em documento vazado de convenção da Renault e publicado há algumas semanas pelo site iG Carros. Entre cerca de dez novos modelos planejados, constam um hatch e um crossover/SUV urbano compactos. Clio IV e seu duplo aventureiro, o Captur, são dois candidatos.

  • Murilo Góes/UOL

    Clio IV no lançamento, em Paris 2012; naquela ocasião, ele jamais viria ao Brasil...

Do outro lado da aliança, a Nissan se prepara para lançar March (maio) e Versa (outubro) nacionais, ambos construídos sobre a plataforma V, atualização da base compacta (denominada B) de Clio IV e Captur -- e que, em versões adaptadas ou estendidas, estruturam também os Nissan Juke e Note e todos os carros Dacia aqui fabricados.

Não é difícil vislumbrar um futuro em que a aliança Renault-Nissan concentre no Brasil a produção de forte e atualizada gama compacta, formada por um quase subcompacto (March), hatches (Sandero, Clio IV), sedãs (Logan, Versa), SUVs (Duster, Captur, Juke) e minivan (Note). Segmentos de menor volume e/ou margem de lucro continuariam sendo importados -- Clio (carro de entrada), Fluence/sucessor e Sentra (sedãs médios), Altima (sedã executivo), Mégane R.S (esportivo). E nem falamos ainda da eventual chegada da marca low cost Datsun.

Vale lembrar que a nova fábrica da Nissan, que será inaugurada em Resende (RJ) em 15 de abril, terá em 2016 capacidade de produzir 200 mil carros/ano; e a fábrica paranaense utilizada pela aliança já pode entregar 380 mil carros/ano. No total, são 580 mil carros a partir de 2016, um número 84% maior que as vendas somadas de Renault e Nissan (236.337 e 77.830 unidades; total de 314.167) em 2013. Prova de que não faltarão meios para produzir cada um dos carros citados acima.

OUTRO LADO
Consultada por UOL Carros, a Renault admite a "coerência" de parte dos prognósticos aqui publicados, mas afirma que o Clio IV flagrado pelo internauta está no Brasil apenas para "testes de motor", e que a vinda de modelos como o Captur depende da variação no câmbio (no caso, por importação).

A Nissan já disse repetidas vezes que seu foco atual é apenas em March e Versa -- mas jamais negou terminantemente a chance de fabricação local de modelos como o Note. Por trás desse habitual "nada a declarar" das assessorias, podem estar os detalhes de uma radical modernização das duas montadoras. A ver.