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Carro de leilão custa 30% mais barato, mas há riscos

Consumidores garimpam modelos antes de leilão; vendas para pessoa física já são 20% - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Consumidores garimpam modelos antes de leilão; vendas para pessoa física já são 20% Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Ricardo Ribeiro

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

13/09/2013 16h00Atualizada em 13/09/2013 19h08

Antes frequentado apenas por empresas, os leilões de carros estão recebendo mais consumidores comuns. Segundo leiloeiros ouvidos por UOL Carros, cerca de 20% dos arremates são feitos por pessoas físicas -- quatro vezes mais do que há cinco anos. Também de acordo com eles, o veículo de leilão tem preço, em média, 30% menor que o de tabela.

Mas a compra requer cuidados, e antes de bater o martelo o consumidor precisa ficar atento a alguns aspectos. “Há depreciação no preço para compensar o risco que a pessoa corre. O carro é vendido no estado em que se encontra e não há garantia”, explica o leiloeiro Moacir de Santi, da Sodré Santoro Leiloeiro Oficial.

ANTES DE COMPRAR

Leia com atenção o edital e o descritivo de venda
Compareça à vistoria física e avalie o estado do carro; é possível levar um mecânico de confiança
A idoneidade do leiloeiro é crucial; se tiver dúvidas, verifique o histórico da empresa na junta comercial
Calcule quanto gastará com reparos e documentação do veículo; o desconto em relação ao preço de tabela pode não compensar

O carro pode ter problemas mecânicos, e nesse caso os reparos são por conta do comprador. Custos com documentação e eventual transporte (como guincho), também não estão incluídos. E ainda podem haver débitos, como multas ou impostos atrasados. "Por isso é importante ler o descritivo da venda no edital do leilão, que tem essas informações. O interessado também deve comparecer na vistoria física, feita pouco antes do leilão, para ver o estado do veículo", alerta Santi.

Em São Paulo, o Detran divulga em seu site os editais de leilões de carros apreendidos.

Há pechinchas, como modelos superesportivos apreendidos pela polícia. "Já vendemos uma Ferrari pela metade do preço, um desconto de R$ 1 milhão, e que não tinha nem 1.000 km rodados. Mas aí é 'carro de bandido'. Não é todo mundo que topa usar um modelo com esse histórico", revela um leiloeiro que pede para não ser identificado.

Outros casos curiosos são de veículos roubados e depois recuperados, que podem ter sido usados na prática de crimes -- apresentando até marcas de tiros na lataria. 

Mas a maioria dos carros leiloados é de carros financiados que foram apreendidos por falta de pagamento, ou então "sinistrados" -- ou seja, acidentados. Carros que tiveram perda total, após o recebimento da indenização pelo proprietário, são levados a leilão pelas seguradoras.

"O carro muito batido, ou atingido numa enchente, é mau negócio, mas há carros que sofreram danos pequenos no caminhão-cegonha, no transporte entre o fabricante e o concessionário. A seguradora paga ao fabricante, mas o carro está quase novo", orienta o leiloeiro. Além do risco e do histórico do carro, outra desvantagem da compra em leilão é que o veículo precisa ser pago à vista.

Lojistas tradicionais, é claro, desaconselham a compra de carros em leilão.

SÓ COM LAUDO

A única maneira de descobrir se o carro oferecido numa loja foi comprado em leilão é pedir laudo em empresa especializada, que mostra histórico do carro, como proprietários anteriores e batidas por cerca de R$ 150; muitas lojas anunciam carros "periciados", como prova de que não são de leilão

"O proprietário que está com o financiamento muito atrasado sabe que terá o veículo apreendido e já não cuida mais dele. Alguns até depenam, tirando rodas originais e equipamentos. São carros muito maltratados", afirma Nasser Salloum Filho, diretor comercial da Caltabiano e responsável pela área de seminovos.

Ele ressalta que a concessionária não trabalha com veículos arrematados em leilão.

Para Salloum Filho, outros problemas são a dificuldade para avaliar o real estado do carro antes do leilão e a baixa aceitação depois. "O carro de leilão ainda é discriminado no mercado. Há uma depreciação de até 40% na revenda e a maioria das seguradoras recusa cobrir o modelo", diz.

Há lojas menores que compram carros de leilão -- 80% dos arremates ainda são por pessoas jurídicas. Nem sempre a "procedência" menos nobre é revelada ao consumidor.

Por ora, a única maneira de saber se um carro à venda numa loja -- cuja documentação geralmente vai estar em nome da própria loja -- passou por um leilão, independentemente do motivo, é solicitar laudo em empresa especializada. Esses relatórios mostram toda a "vida" do veículo, incluindo acidentes e proprietários anteriores. O serviço custa entre R$ 150 e R$ 180.