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Aposentada, Kombi pode parar de "brincar com fogo"

Kombi pega fogo em Ipanema, Zona Sul do Rio; cena é muito comum e projeto defasado a explica - Edson Teofilo/Photo Rio News
Kombi pega fogo em Ipanema, Zona Sul do Rio; cena é muito comum e projeto defasado a explica Imagem: Edson Teofilo/Photo Rio News

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

23/08/2013 19h42

A perua da Volkswagen deu adeus às ruas e estradas brasileiras. Na última semana, postei nas redes sociais a foto de uma Kombi em chamas e comemorei a aposentadoria do veterano veículo. Tudo pela segurança. Alguns fãs da "velha senhora", porém, a defenderam: relataram que os incêndios estão ligados à falta de manutenção e, de coração partido, afirmaram que nenhum veículo está livre do fogo, nem mesmo as motocicletas, minhas conhecidas.

Para o mecânico Cássio Yassaka, da oficina Cássio Serviços Automotivos, na cidade de São Paulo (SP), a explicação para a "pirotecnia" -- e a insegurança decorrente -- está no projeto ultrapassado da Kombi.

"Ela nasceu na década de 1950 e, claro, seu tempo passou", justifica o mecânico, alegando que o tanque de combustível sobre o motor é um convite ao incêndio. "Em caso de vazamentos existem diversas fontes de calor e fagulhas, que podem ocasionar um incêndio".

Como em qualquer "tragédia", porém, o problema ocorre pela mescla de fatores, aponta Yassaka: "Um projeto ultrapassado e um dono desleixado constituem a fórmula para uma bomba relógio".

A velha e amada Kombi é inegavelmente o ganha-pão de muitos brasileiros, mas o fogo é um inimigo silencioso que sempre está à espreita. Basta um deslize na manutenção, um erro técnico -- ou, algo comum em motos -- um espasmo de exibicionismo, para a "bomba" explodir.

Muita gente já presenciou uma Kombi em combustão, ou assistiu a vídeos na TV ou na internet. É algo mais comum do que se imagina -- muito mais, até, do que incêndio envolvendo motos, ainda que vários casos também possam ser achados na web.


NA PELE
Sobre uma moto, senti isso quase que literalmente na pele. Estava próximo ao pedágio de Itapema (SC), na volta de uma viagem-teste com a BMW G 650 GS, que pilotei em 2011, quando a moto morreu. Achei estranho, tentei dar partida e não consegui. Um cheiro forte de algo queimando, seguido por fumaça preta e, em instantes, labaredas começaram quase do nada. Por sorte, uma soldado do corpo de bombeiros passava com seu carro e usou o extintor do veículo para apagar as chamas.

Como saber que uma moto nova, pertencente à frota de imprensa da própria BMW, poderia pegar fogo? O fato foi publicado na revista "Duas Rodas" e soube, depois, que um erro de montagem nos cabos da bateria foi o responsável pelo curto-circuito e consequente incêndio.

O QUE RESTOU DA BMW

  • Mário Villaescusa/Duas Rodas

    Mesmo com o fogo debelado, foi preciso desconectar os cabos da bateria da G 650 GS

Segundo o mecânico José Luiz "Dentinho", da oficina Solo Motos, é muito difícil ver uma moto pegar fogo. "Sendo bem cuidadas, são raros os casos, mas pode acontecer um curto-circuito". Com mais de 32 anos de experiência, Dentinho relata que um dos seus clientes aqueceu o motor da moto na garagem do prédio e imediatamente cobriu o veículo com uma capa. Foi chamado pelo zelador, quando sua moto ardeu em chamas. "A capa encostou na ponteira do escape e se incendiou".

Os incêndios também são comuns nas quedas, quando o tanque da moto é danificado e a gasolina se esparrama pelo chão. Com uma fagulha, o fogo surge de imediato. Nas competições, também pode ocorrer durante o abastecimento, lembra Dentinho.

Há casos de incêndios, que não são simples fatalidades. Quem já frequentou encontros de motociclistas viu donos acelerando a moto parada, tracionando o pneu contra o asfalto a ponto de gerar fumaça. Essa manobra, conhecida como "zerinho", é uma das preferidas dos pilotos, mas nem sempre fica só na diversão. Por falta de refrigeração, o motor pode travar, uma biela pode perfurar o cárter e provocar vazamento óleo. Em contato com o escapamento, o lubrificante em alta temperatura pode provocar o incêndio.

Há ainda a "caça ao fogo" -- uma forma de se diferenciar. Pilotos de acrobacia procuram efeitos pirotécnicos -- como o "lança-chamas" e a "moto-bomba". Mas diversos equipamentos de segurança, como válvulas solenoides, controlam o combustível usado na explosão controlada nestes casos. Bem diferente de casos espontâneos e inesperados, frutos da defasagem.