Topo

Lista de consumo mostra que carro híbrido é campeão de economia também no Brasil

O novo Ford Fusion Hybrid nem chegou às lojas, mas é o carro que menos consome no Brasil - AFP Photo
O novo Ford Fusion Hybrid nem chegou às lojas, mas é o carro que menos consome no Brasil Imagem: AFP Photo

Eugênio Augusto Brito<br>André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/01/2013 17h19

O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) divulgou a lista de 2013 do Programa Brasileiro de Etiquetagem Automotiva, no jargão popular, o "ranking de consumo" dos carros já à venda (ou que ainda estarão) no Brasil este ano. Com maior número de participantes, o programa finalmente ganha relevância e mostra uma realidade que parece óbvia, mas ainda é ignorada pelo governo e por boa parte dos consumidores: os carros híbridos, que combinam um motor a combustão e um elétrico, são os indiscutíveis campeões de eficiência energética -- sobretudo nas cidades, onde a baixa velocidade média aciona apenas o propulsor elétrico, com gasto zero (literalmente) de gasolina.

De acordo com os dados laboratoriais do Inmetro, o carro mais econômico de 2013 é o Ford Fusion Hybrid, com consumo de 16,8 km/l de gasolina na cidade (16,9 km/l na estrada). Nota A, claro.

Um adendo é necessário: trata-se da nova geração do modelo, que só chegará às lojas no decorrer do ano, e que troca o motor 2.5 Duratec do modelo vendido atualmente por um 2.0 a gasolina que se alia a um motor elétrico para gerar 190 cavalos. Ainda sem preço, o novo Fusion híbrido deve custar bem mais que os R$ 113 mil pedidos pelo novo Fusion Titanium AWD com motor Ecoboost, sendo tão ou mais tecnológico que este. 

O pódio de eficiência do Brasil tem outro híbrido, na verdade uma dupla que usa a mesma base: o Toyota Prius, que custa R$ 120 mil e roda apenas como táxi na cidade de São Paulo, e o Lexus CT200h, hatch cujos planos para o Brasil sequer haviam sido anunciados pela marca "diferenciada" da Toyota. Ambos unem o motor 1.8 a gasolina a um conjunto elétrico para gerar um total de 135 cavalos com consumo de 15,7 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada.

Nenhum desses carros tende a se massificar no país (o Prius já virou táxi em São Paulo, mas comprar um custa R$ 120 mil, e o Lexus virá como modelo de luxo). Não há qualquer aceno do governo para incentivo a híbridos ou elétricos no país, em parte devido aos interesses que cercam a produção de biocombustíveis.

CLIO FAZ BONITO
Entre o caso do Fusion híbrido e da dupla da Toyota, há um único carro "real" no pódio da economia. É o Renault Clio básico, com motor 1.0 e sem itens como direção hidráulica e ar condicionado. Pelado e bem menor que os três modelos anteriores, o Clio faz 10,7 km/l na cidade e com 15,8 km/l na estrada, sempre com gasolina -- UOL Carros deu preferência à leitura do combustível fóssil para poder relacionar os três carros. Único a fazer parte da realidade do consumidor brasileiro padrão, o Clio é também o único deste pódio com motor flex: com etanol no tanque, o Clio vê seu consumo cair para 9,5/14,3 km/l.

O resultado do ranking pode, é verdade, servir de argumento para a turma defensora dos carros verdes e, claro, para as montadoras: o próprio Inmetro aponta que o governo pode utilizar tanto os dados de consumo quanto o índice de emissões -- que também passa a ser divulgado -- como contrapartida para reduzir a cobrança de impostos das fabricantes instaladas por aqui.

LISTA GANHA RELEVÂNCIA
A nova medição do Inmetro organiza o ranking de consumo dos carros vendidos no país e inscritos de forma voluntária pelas fabricantes. Conforme UOL Carros antecipou em novembro de 2011, a lista segue tendo uma ordenação confusa -- criada pelo próprio Inmetro e bem diferente da utilizada habitualmente pela indústria automotiva --, mas melhora em alguns pontos e cresce em tamanho e em importância. Pelas contas do instituto, foram avaliados "327 modelos/versões". Passando a limpo, temos 106 modelos diferentes de 25 marcas (contra 52 de dez marcas no final de 2012).

Agora, o Inmetro indica não apenas o consumo, mas também a emissão de gás CO2 produzida pelos carros avaliados. Somente a nota de consumo, porém, serve para a classificação dos modelos entre "mais eficientes" (nota A) até "menos eficientes" (com nota E), a exemplo do que ocorre com eletrodomésticos como geladeiras, fogões e liquidificadores. É esta nota que deve ser exibida de forma clara, no para-brisa ou vidros laterais dos carros expostos nas concessionárias, para que o consumidor possa escolher o carro mais eficiente.

Na contagem feita por UOL Carros, 39 diferentes modelos (com 53 versões) receberam a nota A dentro de suas respectivas categorias. Mas esse total cai drasticamente, para 11 modelos (em 16 versões), num cotejo geral, outra novidade da lista de 2013. A lista completa do Inmetro pode ser conferida clicando aqui.

Tiraram nota A: Fiat Mille Economy 1.0, Fiat Uno Economy 1.4, Nissan March 1.0 (sem ar condicionado), Renault Clio 1.0 (sem e com ar), Smart Fortwo (mhd e turbo), Citroën C3 1.5, Citroën DS3, Fiat Siena EL 1.0, Honda Fit 1.4 manual, Hyundai HB20 1.0, Peugeot 207 Blue Lion, Renault Sandero 1.0 (sem e com ar), Toyota Etios (hatch e sedã), Volkswagen Gol 1.0 (G4 e G5), Volkswagen Polo BlueMotion 1.6; Nissan Versa 1.6, Renault Logan 1.0 (sem e com ar), Toyota Prius, Volkswagen Voyage 1.0; Renault Fluence 2.0 manual, Toyota Corolla 1.8 (manual e automático); Fiat Palio Weekend Adventure (manual e Dualogic), Ford EcoSport (1.6 manual, 2.0 Powershift e 2.0 4WD manual); Mitsubishi ASX, Renault Duster 2.0 4WD manual, Suzuki Jimny; Fiat Doblò Cargo, Fiat Strada (1.4 e 1.6), Renault Kangoo Express, Volkswagen Saveiro 1.6. E também os inéditos Ford New Fiesta brasileiro 1.6 hatch e sedã (manual e Powershift), Lexus CT200h, Ford Fusion Hybrid 2.0, Honda Civic LXS 1.8 (com câmbio de seis marchas), Kia Cerato Flex e Nissan Altima.

CADÊ A GM?
A mudança de regras e o consequente aumento da "importância" do Programa de Etiquetagem -- como um dos requisitos obrigatórios para um fabricante conseguir o benefício do IPI menor -- explica a adesão massiva de marcas. O total de participantes quase triplicou desde a última publicação, em novembro de 2012. Participam as seguintes marcas: Audi, Changan, Citroën, Dodge, Fiat, Ford, Haima, Honda, Hyundai, Jeep, JAC, Kia, Lexus, Mercedes-Benz, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Rely, Renault, Smart, SsangYong, Suzuki, Toyota, Volkswagen e Volvo.

É notória a presença de marcas que sequer estrearam de fato no mercado -- caso das chinesas Haima e Rely -- ou com participação quase incipiente -- como a coreana SsangYong ou a Lexus (marca de luxo da Toyota). Mas chama mesmo a atenção a ausência inexplicável da GM, com a marca Chevrolet. A fabricante, que ficou de fora de todos os ciclos desde a criação da etiquetagem veicular, não aparece novamente este ano. É bom lembrar que a marca renovou todo o seu portfólio nos últimos dois anos, com sete lançamentos só em 2012. 

E, com a entrada das alemãs Audi e Mercedes-Benz, pesa também a não-participação da BMW, única a já ter anunciado oficialmente uma fábrica para o Brasil.

CONFUSÃO E SURPRESAS
A lista do Inmetro segue tendo critérios confusos em sua classificação de tipos de carros, divididos em subcompactos, compactos, médios, grandes, carga derivado, fora-de-estrada, SUV, minivan, comercial e carga/derivado.

Os nomes das categorias fazem sentido, mas a organização de modelos dentro delas, não: a perua aventureira Fiat Palio Weekend Adventure é classificada como um "utilitário esportivo", ao lado da picape Strada, também derivada do Palio; já um SUV real, como o Renault Duster, é listado pelo Inmetro como "fora de estrada".

Em outro exemplo, o compacto Ford New Fiesta é classificado como "compacto" na configuração hatch, mas vira "médio" em sua configuração sedã. 

Descontada a confusão, a lista do Inmetro mantém o hábito interessante de entregar lançamentos ainda não anunciados pelas fábricas -- em 2012, o sedã Peugeot 508 foi entregue de bandeja pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem. Desta vez, a lista de novidades está maior e o próprio New Fiesta, citado acima, é uma delas.

O modelo que deixa de ser importado do México para ser ser fabricado no Brasil recebe nota A quando equipado com o motor flex Sigma 1.6, tanto na versão manual quanto na ainda inédita automatizada com câmbio de seis marchas e dupla embreagem. Mas a surpresa do Inmetro está na nota B para este New Fiesta brasileiro equipado com motor 1.5, configuração que ainda não havia sido mas com eficiência de consumo menor (B).

Os casos do novo Fusion híbrido e do Lexus CT200h, citados no começo da reportagem, são exemplos de surpresas guardadas pelas fábricas e "vazadas" pelo Inmetro. Outros exemplos podem ser conferidos em reportagem do site parceiro MotorDream.

  • Murilo Góes/UOL

    Nova lista do Inmetro entrega que New Fiesta fabricado no Brasil, com sua frente de Fusion, terá não apenas o motor Sigma 1.6 (nota A), mas também um inédito 1.5, menos eficiente (nota B)

COMO O RANKING FUNCIONA
Segundo o Inmetro, são elegíveis ao ranking 50% de todos os modelos com média de vendas de pelo menos 2 mil unidades. Assim, se uma fabricante tiver 20 modelos à venda e dez deles entregarem ao menos 2 mil unidades, pelo menos cinco destes dez modelos deverão estar no teste, caso decida participar.

A fabricante apenas aponta quais modelos cederá ao teste, que é feito pelo Inmetro e suas entidades parceiras (Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Petróleo, Instituto de Pesos e Medidas, Cetesb, Conpet e Petrobrás) de forma aleatória. Os carros a serem analisados são recolhidos de concessionários, sem aviso prévio. 

Os resultados são apresentados à fabricante, que pode contestá-los. Neste caso, repete-se a prova e o novo resultado é definitivo -- a montadora pode até fazer uma contra-prova por conta, mas o dado final e oficial é sempre do Inmetro. A nota final deve ser divulgada em etiqueta de consumo de todas as unidades à venda, em todos as lojas. A etiqueta deve estar colada em um dos vidros do carro.

Se o comprador perceber que um carro avaliado pelo Inmetro está sendo vendido sem a etiqueta de consumo, basta fazer uma reclamação junto à entidade (clique aqui para saber como contatar o Inmetro).