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Na contramão da crise, venda de motos grandes cresce

Guilherme Silveira

Folha de S.Paulo

09/09/2012 15h17

O mercado das motos vive um momento curioso. Enquanto os efeitos da crise mundial e o aperto no crédito travaram o segmento dos modelos pequenos, as opções de alta cilindrada (com motores acima de 500 cm³) têm crescido em vendas.

No primeiro semestre de 2012, foram emplacadas 27.741 motos grandes no Brasil. O número é bem superior às 17.935 unidades vendidas no ano passado inteiro. Os dados são da Abraciclo (associação dos fabricantes de ciclomotores).

"Os compradores desses produtos são homens acima de 35 anos, pertencentes às classes A e B. Eles são fiéis ás marcas e seus produtos. Muitos são filiados a algum motoclube e usam mais a moto em finais de semana. É o típico motociclista que não pergunta aonde ir porque está preocupado apenas em ir", afirma José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Abraciclo.

As marcas apostam em estratégias exclusivas para atingir esse público crescente.

O Honda Dream, por exemplo, é um programa de atendimento diferenciado para clientes de motos grandes -- a marca japonesa oferece dez produtos desse tipo em diferentes categorias, como a das estradeiras.

"O cliente de motos pensadas para viagens quer compartilhar uma verdadeira experiência com outros usuários apaixonados pelo motociclismo, além de ter a sensação de liberdade que o produto proporciona", diz Alexandre Cury, gerente comercial da Honda.

Honda GL 1.800 Goldwing tem rádio, pesa 400 kg e custa R$ 92 mil

CARDÁPIO VARIADO

Há muitas opções para quem pretende colocar as duas rodas na estrada. Uma delas é a big trail Suzuki V-Strom 650, que custa R$ 32,9 mil. O modelo agrada pelo motor potente (69 cv), tanque grande (22 litros), boa ergonomia e espaço para o garupa.

Outra na mesma categoria é a Honda XL 700V Transalp (R$ 29.990), uma opção ágil para o uso diário e eficaz em viagens mais longas com seu motor de 60 cv.

Há também os clássicos modelos custom, como a Harley-Davidson Softail Fat Boy (R$ 45,9 mil) e a Kawasaki Vulcan 900 (R$ 29.990).

Em uma faixa mais elevada de preço está a Honda GL 1800 Goldwing e seu enorme motor boxer de seis cilindros opostos (118 cv). Pesa quase 400 kg e tem marcha a ré, airbag, sistema de som e diversos porta-objetos. É vendida por R$ 92 mil.

A BMW K1600 GT é ainda mais cara: R$ 99,5 mil. O valor é justificado pelo motor seis cilindros (160 cv) e por detalhes como a carenagem capaz de aquecer piloto e garupa nas viagens.

CUSTO-BENEFÍCIO

As motocicletas de média cilindrada -com motores de 250 cm³, por exemplo- têm feito o mesmo sucesso que os modelos grandes. Somadas, as categorias cresceram mais de 40% entre 2010 e o acumulado de 2012 (veja quadro ao lado).

As médias atraem pelo custo-benefício, pois oferecem bom desempenho e seus preços começam em pouco mais de R$ 10 mil. Uma das opções é a Yamaha Fazer 250 BlueFlex (R$ 11.650).

Os responsáveis pelos resultados expressivos são compradores como o empresário Fabiano Godoy, 39. Após duas décadas de viagens sobre duas rodas pelo Brasil e pela Europa, ele aprendeu o que fazer para aproveitar os passeios sem sustos.

"Gosto das motos de 250 cm³ a 400 cm³. Por terem um porte razoável, chamam menos a atenção em locais considerados perigosos. E quando tenho que amarrar malas, as envolvo em sacos de lixo. Isso atrai menos os ladrões de plantão e protege a bagagem da chuva", diz Godoy.

Quem deseja seguir o exemplo do empresário e começar a fazer viagens longas de moto deve começar pelo planejamento detalhado da rota e das condições climáticas.

"Vale perder alguns dias estudando o percurso e a infraestrutura local. Pegar a estrada de moto é uma aventura e, por conta disso, sempre surgem imprevistos que geram atrasos. É necessário ter paciência e levar tudo da melhor maneira possível", aconselha.