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Toyota quer dobrar vendas no Brasil em dois anos e ser gigante em dez

A caráter, Geraldo Alckmin, Akio Toyoda e Fernando Pimentel na inauguração da fábrica da Toyota; os quimonos vestidos pelos três trazem o nome do novo carro da marca, o Etios - Jorge Araujo/Folhapress
A caráter, Geraldo Alckmin, Akio Toyoda e Fernando Pimentel na inauguração da fábrica da Toyota; os quimonos vestidos pelos três trazem o nome do novo carro da marca, o Etios Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Sorocaba (SP)

09/08/2012 13h10Atualizada em 09/08/2012 13h54

A fabricante japonesa Toyota quer dobrar suas vendas no Brasil nos próximos dois anos; em dez, quer um lugar entre os líderes do mercado.

O ambicioso anúncio da marca, atualmente a 8ª colocada em participação no Brasil (2,78% das vendas de automóveis, SUVs e picapes), foi feito nesta quinta-feira (9) durante a cerimônia de inauguração da fábrica de Sorocaba, a 100 quilômetros da capital paulista, em evento com a presença do presidente mundial da Toyota, Akio Toyoda, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que representou a presidente Dilma Rousseff. O ex-jogador Zico, ex-técnico da seleção de futebol do Japão, também participou.

O anúncio foi marcado pela tradicional cerimônia japonesa da abertura do barril de saquê, da qual os convidados participaram trajando quimonos com o nome do novo carros da marca, o Etios, bordado. Tonel aberto, bebida saboreada, foi a vez de analisar os números e as propostas da marca para o Brasil. 

RUMO AO TOPO
A última colocada entre as chamadas "quatro grandes", a Ford, tem hoje fatia de 9,29% do mercado automotivo nacional. Em 2011, segundo dados da Fenabrave (associação das revendas), a Toyota vendeu pouco mais de 99 mil veículos no Brasil. 

A chave para a Toyota alcançar a meta esta na produção local da nova família Etios, compactos que começam em R$ 35 mil (preço ainda provisório) e chegam nas configurações hatch, com motores flex de 1.3 e 1.5 litro, e sedã, apenas com o 1.5 e no começo de 2013. Também no ano que vem, ganha versão aventureira. É desta linha a missão de encarar Volkswagen Gol, Fiat Uno, Nissan March, os futuros Chevrolet Onix e Hyundai HB20, e também Fiat Siena, Renault Logan, entre outros modelos do filão mais lucrativo do mercado nacional.

"Esta família de compactos será responsável pelo plano da Toyota de se alinhar aos líderes no Brasil, pois levará o padrão de qualidade da marca a mais pessoas", afirmou o presidente da marca no país, Sunichi Nakanishi.

CASA CHEIA
Orçada em US$ 600 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão), a fábrica de Sorocaba já emprega 1.500 trabalhadores e tem capacidade produtiva inicial prevista de 70 mil unidades anuais -- equivalente à produção da unidade de Indaiatuba (SP), onde é feito o sedã médio Corolla. Portanto, só esta conta já dobra a capacidade atual da marca no país.

Esta acertada, porém, a contratação de novos funcionários para o segundo turno de produção, elevando o total de empregos direitos para 2.000. Há ainda 12 empresas sistemistas, que acrescentam outros 3.000 operários ao total do complexo e que também garantem a maior capacidade produtiva.

A Toyota, porém, condiciona uma produção ampliada do novo compacto ao começo de suas vendas, em outubro, e consequente alta da demanda.

4ª UNIDADE
O evento de abertura da terceira unidade da Toyota no país -- além de Sorocaba, lar do Etios a partir de agora, e de Indaiatuba, de onde sai o Corolla, há ainda a fábrica de autopeças em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo -- foi antecipado pela confirmação, feita na quarta-feira (8) por Toyoda em Brasília (DF), num encontro com a presidente Dilma, de outra instalação brasileira: a fábrica de motores que será erguida em Porto Feliz (SP), terá 700 operários e a partir de 2015 produzirá 200 mil motores para o Etios (1.3 e 1.5) e para o Corolla (1.8 e 2.0), atualmente importados do Japão.

TOYOTA EM TRANSE

+ A fábrica de Sorocaba começa com 70 mil unidades, mas deve expandir a produção em breve para 100 mil carros
+ A capacidade pode chegar a 400 mil unidades, se houver demanda
+ A unidade é a primeira ecofabrica do país e reduz níveis de emissoes habituais em 60%
+ Fábrica de motores de Porto Feliz deve elevar o índice de nacionalização da Toyota de 65% para 85%
+ O primeiro modelo da Toyota no Brasil foi o utilitário Bandeirantes, de 1958; o Corolla chegou em 1997; Hilux e SW4, em 2005

Segundo Toyoda, a unidade de motores possibilitará fazer os componentes do trem-de-força localmente e permitirá ao Etios ser "o verdadeiro carro brasileiro, feito por brasileiros".

É bom notar que o "carro brasileiro" da marca japonesa apareceu primeiro no nada exigente mercado indiano. Todo executivo da Toyota é rápido em afirmar, no entanto, que o projeto teve "espírito brasileiro" em sua concepção. Pode ser, mas ainda assim a qualidade do acabamento do Etios teve de aumentar em seu desembarque no país e ainda assim há coisas que não devem agradar a todos -- o esquisito painel centralizado deve ser uma delas.

O GIGANTE ACORDA?
Além do Etios, imediatamente, e da fábrica de motores, em três anos, a Toyota planeja expandir sua presença no mercado com a chegada do híbrido Prius, já adaptado ao padrão E25 da gasolina nacional, em outubro, durante o Salão do Automóvel de São Paulo.

Há uma semana, em conversa com UOL Carros, o diretor de estratégia global da marca, Mark Hogan, afirmou que a "Toyota estava adormecida no país, sobretudo pelos efeitos da crise de 2008-09, mas acordou e vai começar a mostrar novidades importantes".

Na briga para voltar à liderança absoluta mundial, atualmente pretendida também por General Motors (ex-líder por décadas) e Volkswagen (que almeja o topo para 2018), a Toyota se esforça para tirar seu braço nacional dessa inércia; hoje a operação se baseia apenas nas venda de Corolla, RAV4, Hilux, SW4 e Camry.

A Toyota acredita que a economia brasileira deve permitir que o país ultrapasse a marca automotiva japonesa (atualmente oscilando entre terceiro e quarto mercado) até 2015 e vê a possibilidade de utilizar o país como pólo ativo na estratégia da marca para mercados emergentes -- como exportador de carros para a América do Sul e de peças para a América do Norte.

O grande passo, no entanto vem com a participação direta no lucrativo e ainda crescente segmento de compactos, já dominado pelas "quatro grandes" no Brasil (Fiat, GM, VW e Ford), mas também ambicionado por Renault, Nissan, pela coreana Hyundai e também pelos chineses. O tempo dirá se os japoneses despertaram a tempo.