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Bebê da família Range Rover, Evoque diverte o motorista

<b>Visual futurista o Range Rover Evoque tem; se faltava ele voar, não falta mais</b> - Murilo Góes/UOL
<b>Visual futurista o Range Rover Evoque tem; se faltava ele voar, não falta mais</b> Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo

09/01/2012 07h31

Dois meses após a chegada oficial do modelo ao Brasil (releia os detalhes aqui), UOL Carros colocou as mãos no menor e mais novo integrante da família Range Rover, o Evoque. Rodamos com o SUV compacto nas últimas semanas do ano que passou e podemos afirmar sem cometer qualquer injustiça: foi o carro mais divertido da temporada.

O bebê da gama premium da Land Rover veio ao mundo sob olhares de desconfiança: idêntico ao carro-conceito que o originou (o LRX), o Evoque não tem a cara sisuda e quadrada típica dos outros modelos, não ocupa espaço demais na pista e na garagem (com 4,36 m de comprimento, é menor que um sedã como o Toyota Corolla, por exemplo), não é espalhafatoso e, principalmente, tem "apenas" um motor 2.0 de 240 cavalos sob o capô, ignorando os predicados dos propulsores em V que equipam os demais Range Rover. O Evoque seria mesmo da família? Nosso período de convivência provou que sim.

Um Range Rover deve ser confortável e bem equipado? Por dentro, o Evoque é tão luxuoso e guarnecido como um Sport, mas o padrão de conforto veio de outro Land Rover, o Discovery 4: tudo o que a mão alcança é feito de material agradável ao toque. Bancos, revestimentos de portas e painel levam couro (flocado nestes últimos), apliques em metal escovado dão o toque arrojado, o isolamento revestido de tecido aveludado (e não de plástico) deixa o ambiente aconchegante,  enquanto a iluminação por LED -- tanto das lâmpadas de apoio e leitura, quanto da ambientação da cabine (com diferentes tonalidades) -- garante o toque de exclusividade.

Um Range Rover também prima pela tecnologia: acertos e configurações do Evoque são feitos por meio de comandos na tela de 7 polegadas sensível ao toque existente no console. Ela também comanda toda a central multimídia, com DVD/CD player e sistema de som premium (380 Watts e 11 falantes) que aceita conexões com aparelhos da Apple (com uma porta específica), demais tocadores de MP3 (em outra entrada) e equipamentos com Bluetooth.

Não se deu por satisfeito e quer subir um nível no inventário da aparelhagem, só para deixar os amigos com inveja? A partida do "Baby Rover" é feita por botão, sem o uso da chave. E o seletor do câmbio automático de seis marchas é semelhante ao do Jaguar XJ: o botão circular e giratório fica escamoteado na base do console, de onde é ejetado quando se liga o motor. Desligou o carro, mas esqueceu de colocar o câmbio na posição P? Sem problema. Ao se esconder, o câmbio seleciona a posição correta sozinho e aciona os freios, evitando problemas e/ou acidentes.

O "plus" vem de refletores instalados na base dos retrovisores, que se acendem quando o motorista destrava a porta do carro, emitindo um facho de luz sobre o chão, na região das portas. O mimo, convencional em alguns sedãs de luxo, evita que os ocupantes sujem os pés em algo estranho antes de entrar no carro, mas apenas no Evoque há uma projeção da logomarca do carro. Lembra do Bat-sinal? O efeito é semelhante, mas projetado no piso, não nas nuvens. De ficção também parece ser o acionamento da iluminação interna, feita apenas com a aproximação das mãos, sem necessidade de encostar os dedos.

E estamos falando da versão Pure, a mais simples da gama Evoque (cuidado, não fale a palavra "simples" perto de um vendedor da marca caso não queira aguentar cara feia). Nas outras duas, Prestige e Dynamic, telas extras de LCD para todos os ocupantes, navegador por GPS e sistema de som ainda mais potente (825 W e 17 alto-falantes) elevam a dupla conforto/tecnologia.

Mas um Range Rover precisa, acima de tudo, ser aventureiro. Como 99,9% dos donos típicos de um SUV desses jamais o coloca na lama, o Evoque chegou com uma pegada mais urbana. Ainda assim, traz as credenciais para encarar alguns obstáculos mais leves -- como tração integral (no exterior, existe Evoque apenas com tração dianteira, mas ele não chega ao nosso país), capacidade para encarar trechos alagados em até 500 mm e linhas favoráveis (ângulo de ataque de 25º/19º, ângulo de saída de 33º/30º e de inclinação de 22º). O Evoque conta até com uma versão do Terrain Response, sistema da Land Rover que adapta suspensão e tração ao tipo de terreno.

Só não dá para abusar demais, já que o Evoque não conta com bloqueio de diferencial e vem calçado com pneus Pirelli Scorpion Verde de uso urbano apenas -- de toda forma, ressaltamos que o pneu foi o grande entrave em nosso teste off-road, e não a ausência de equipamento mecânico para encarar trilhas mais pesadas.

DE CAIR O QUEIXO
Vale repetir: apesar da aptidão lameira, o Evoque foi concebido para atrair novos clientes, consumidores urbanóides que ainda se sentiam acuados com o tamanho e a quantidade de funções de outros modelos Range Rover. Assim, a grande aventura para ele é tirar o fôlego de quem não estiver dentro de sua cabine.

O motor de 2 litros conta com injeção direta de combustível, mas no Brasil não temos direito ao sistema start/stop, que paralisa o motor quando a velocidade chega a zero e retoma suas operações com um toque no acelerador, poupando combustível. Em ação, há pouco do que reclamar. Os 240 cv de potência e quase 35 kgfm de torque são mais do que suficientes para empurrar com vigor os 1.640 quilos de carroceria, e o Evoque se "materializa" em qualquer brecha no trânsito, seguindo a vontade do motorista. Apesar do porte de SUV, o condutor tem a impressão de comandar um hatch esportivo. Pisou, apontou, foi. 

O visual futurista é de embasbacar adultos e deixar crianças ouriçadas. Estávamos parados no semáforo quando um menino e sua mãe, que haviam acabado de desembarcar de um sedã coreano prateado (sem graça, portanto), cruzaram a frente do Evoque. A criança passou o olhar de um farol a outro e sacudiu a mão da mãe, que não deu atenção. Foi a deixa para que o moleque esperneasse e a arrastasse ao redor de toda a lateral ascendente, até chegar à curta traseira. Pelo retrovisor externo, pudemos conferir o sorriso no rosto do menino, ao constatar que as lanternas brilhavam tanto quanto a as luzes da dianteira. Não há vexame aqui: muitos adultos, até mesmo aqueles que dirigiam outros carrões importados, tiveram reação semelhante.

  • Murilo Góes/UOL

    LEDs garantem visibilidade em virtualmente qualquer situação e atraem todos os olhares

Toda a iluminação externa do Evoque também é feita por LEDs (complementados por xênon nas versões mais caras), que dão um aspecto sinuoso, feminino até, aos faróis. As lanternas lembram turbinas acesas de aviões de guerra.

Nada de defeitos até aqui, certo? Pois além dos pneus inadequados à aventura prolongada, o lado arrojado do Evoque, com seu teto que parece cair em direção à traseira, prejudica tanto a visibilidade lateral, quanto o acesso de quem vai viajar de carona no banco traseiro. Uma vez instalados lá atrás, os dois ocupantes não terão muito do que reclamar.

Na estrada, o consumo ficou sempre acima da casa dos 10 km/l, mas caiu drasticamente na cidade, batendo em 5,8 km percorridos com um litro de gasolina. No momento da compra, como qualquer Range Rover o Evoque demanda que o futuro dono tenha um talão de cheques polpudo: antes da alta do IPI para importados, a versão testada custava R$ 164.900.

Como boa parte do lote existente nas lojas do país ainda é oriunda do carregamento inicial feito na Inglaterra, onde é fabricado, a assessoria da marca não soube informar qual será o preço reajustado para novas encomendas -- de um modo geral, espere por valores até 15% mais elevados.