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Para vender 10 mil carros, Mercedes muda cara e mantém 'coração' 1.8 na Classe C

<b>Mercedes-Benz Classe C: à esquerda, visual do C 180 e 200; à direita, o invocado C 250</b> - Divulgação
<b>Mercedes-Benz Classe C: à esquerda, visual do C 180 e 200; à direita, o invocado C 250</b> Imagem: Divulgação

Claudio de Souza

Do UOL, em Campinas (SP)

25/05/2011 10h22

A Mercedes-Benz lança no Brasil a nova geração da Classe C, apenas alguns meses depois de começar a vender por aqui o modelo antigo com o motor novo, o 1.8 CGI turbocomprimido. O propulsor, exemplo de downsizing -- já que entrega potência e torque de unidades maiores --, traz a grife BlueEfficiency e também está sob o capô da fornada 2012 do sedã, agora aliado a a transmissão mais moderna e embalado em carroceria com retoques estéticos.

Por ora, a nova Classe C está disponível em três versões. O motor 1.8 CGI (de Charged Gasoline Injection, referência ao sistema de injeção direta de combustível) é o mesmo, mas diferentes acertos proporcionam diferentes resultados. Veja os preços, quase os mesmos de antes; entre parênteses, a potência:

Mercedes-Benz C 180 Classic (156 cv) -- R$ 116.900
Mercedes-Benz C 200 Avantgarde (184 cv) -- R$ 150.900
Mercedes-Benz C 250 Sport (204 cv) -- R$ 191.900


Durante o evento de lançamento do carro, na semana passada, em Campinas (SP), a Mercedes disse que a reforma em seu modelo mais vendido (12 mil unidades no Brasil desde 2007, quando a geração anterior foi lançada) constitui uma espécie de "megafacelift", mas afirmou que outras fabricantes não hesitariam em chamá-la de "mudança de geração", já que a Classe C oferecida a partir de agora incorpora cerca de 2.000 alterações de projeto. Fica a dúvida sobre o que impede a Mercedes de nomear o procedimento como achar melhor...

A alteração mais perceptível no visual da Classe C deu-se, como de hábito, no conjunto óptico. Para além dos LEDs, chama a atenção o formato dos faróis, que ganharam uma "puxadinha" arredondada na extremidade externa e ficaram parecidos com os do roadster SL -- ou com os da Classe E, se estes fossem em peça única. A versão top C 250 Sport -- que, aliás, ganhou o novo motor no modelo antigo há menos de três meses -- conta com um pacote de estilo inspirado pela AMG, a preparadora esportiva da Mercedes, e por isso tem um parachoque diferente, com grades e entradas de ar dispostas em X, em vez do U (mais pacífico) das demais versões. No geral, a aparência da gama ficou menos comportada. Mas ainda é conservadora.

Como as carrocerias cupê e station wagon ficaram para o segundo semestre, por enquanto o sedã da Classe C está sozinho na missão de ajudar no içamento da Mercedes-Benz ao patamar de vendas de cinco dígitos no Brasil. A marca de Sttutgart quer emplacar mais de 10 mil carros de passeio no país, feito inédito (foram 7.300 em 2010) que a reforçaria contra a rival e compatriota BMW (6.450 em 2010). A outra alemã da troica, a Audi, ainda espera chegar a 6.500 carros em 2011. A Classe C deverá responder por 60% da meta -- ou seja, 6.000 emplacamentos até 31 de dezembro.

RECHEIO
Excetuando a Classe B, cujo preço inicial fica abaixo de R$ 100 mil, a Classe C é o primeiro degrau do que poderíamos chamar de "gama executiva" da Mercedes-Benz, e concorre diretamente com BMW Série 3 e Audi A4. No fio da navalha que é ser um carro premium relativamente barato, o sedã traz um pacote de equipamentos de série que pode ser descrito como bastante forte -- ainda mais ao considerar que cerca de 40% dos compradores do modelo são ex-donos de Toyota Corolla, Honda Civic ou Ford Fusion (dado de pesquisa da própria Mercedes).

Entre outros itens de conforto e estilo, o C 180 Classic oferece ar-condicionado automático, assentos dianteiros com ajuste elétrico de altura, coluna de direção ajustável manualmente, Bluetooth para celular, estofamento em couro sintético, vidros elétricos nas quatro portas, volante multifuncional com 12 botões e rodas de liga leve de 17 polegadas.

Mas o destaque -- praxe na Mercedes -- é a preocupação com a segurança. Nesse quesito, a nova Classe C traz já em sua versão mais em conta itens como suspensão ativa (denominada Agility Control), acendimento automático dos faróis, freios adaptativos com auxílio em aclive, airbags dianteiros e laterais para condutor e passageiro e de cortina para condutor, passageiro dianteiro e passageiros do banco traseiro, apoios de cabeça dianteiros com proteção anticolisão e três apoios traseiros, assistência de frenagem (BAS) e antitravamento (ABS), sistema Attention Assist (herdado da Classe E, ele percebe quando o motorista está cansado e lhe sugere uma pausa), monitor de pressão dos pneus, piloto automático com limitador de velocidade variável, controle eletrônico de estabilidade (ESP) e de tração (ASR) e sensor de chuva.

A versão C 200 Avantgarde oferece o mesmo pacote acrescido de itens de estilo, mas seu principal equipamento extra é o teto solar elétrico.

Por fim, a C 250 beneficia-se da assinatura AMG nos discos de freio dianteiros perfurados e na suspensão esportiva rebaixada, além de possuir acabamentos em alumínio e volante esportivo (com base ligeiramente achatada). Mas o que vale mesmo a grana a mais pedida pela versão -- além do acerto nervoso do motor -- são itens como o ar-condicionado de três zonas, assentos dianteiros com ajuste elétrico e memória, couro legítimo no estofamento, sistema de luzes inteligente (direcional, acompanhando o esterçamento) com faróis bixenônio e limpadores, sistema de auxílio a estacionamento (que não chega a "guiar" o carro, mas orienta o motorista nas manobras), paddle shift para trocas sequenciais, navegação por GPS e possibilidade de conexão à internet (via celular) na tela multimídia de 7 polegadas. O teto solar é de série também.

Em junho deve ser lançada no Brasil a versão C 350, com motor V6 e preço bem mais salgado, na faixa dos R$ 250 mil. 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Experimentamos o C 250 Sport ao volante e no banco do passageiro, num roteiro quase somente rodoviário no interior de São Paulo. Por dentro, o modelo esbanja conforto para quem vai à frente, e atrás acolhe duas pessoas com bastante espaço. A posição de dirigir fica ao gosto do cliente, já que nesta versão todos os comandos para determiná-la são elétricos, inclusive no volante. O acabamento é muito bom, na tradição alemã de unir sobriedade à excelência de materiais e montagem.

Dois pontos fracos, a nosso ver, são o posicionamento inconveniente da alavanca do piloto automático logo abaixo do comando da seta, no lado esquerdo do volante, gerando desnecessária confusão; e o inamistoso sistema multimídia e de som -- nem um pouco intuitivo, rivaliza em dificuldade de uso com os de Audi e BMW. Parece piada, mas nenhuma das três marcas premium consegue resolver uma questão básica como essa.

Com o motor ligado e o C 250 em marcha, fica logo evidente como seu trem de força é avançado. A mesma cilindrada usual em carros com um quarto do valor e um milésimo da mística consegue, nele, gerar cavalaria equivalente à de um 2.5 e torque de V6 -- são 31 kgfm a partir de baixos 2.000 giros. A proposta (resumida no nome BlueEfficiency) é cortar consumo e emissões de gases sem perda de performance.

Esse é o resultado da injeção direta e pressurizada de gasolina na câmara de combustão, processo que evita dispersão de energia; do turbo de geometria variável (que aposentou o compressor mecânico); e também do escalonamento quase perfeito da transmissão automatizada 7G-Tronic Plus de sete velocidades, duas a mais que o câmbio da geração anterior. Não há buracos entre as marchas, e nenhuma delas jamais precisa ser esticada (em modo Drive) para embalar o sedã.

Assim, a condução do C 250 só poderia mesmo ser prazerosa. Segundo a Mercedes, ele pode chegar a 240 km/h, o que significa, entre outras coisas, que a 120 km/h, velocidade máxima nas estradas, o carro desliza com suavidade e pede mais (muito mais) do seu pé direito. A suspensão ativa entrega extremo conforto em pistas de boa qualidade; infelizmente, não pudemos testá-la em asfalto vagabundo e mais condizente com o de nossas cidades. A estabilidade nos pareceu boa, mesmo em curvas fortes, açulando a vontade de provocar mais esse carro dotado de tração traseira.

Mas é bom frisar que, apesar da disposição de sobra, capaz de cravar um 0 a 100 km/h em pouco mais de 7 segundos (de acordo com a fábrica), o motorista de um Mercedes-Benz Classe C nunca deixa de se sentir mais "circunspecto", mais "sisudo", mais... "tiozão", que seja, do que o sujeito que vai ao seu lado, faceiro condutor de Audi ou BMW. Mesmo rejunevescida nessa nova geração, a Classe C não tira da marca de Sttutgart a imagem de "clássica".

Afinal, quem sempre faz questão de lembrar que inventou o automóvel, há 125 anos, é ela mesma...

Viagem a convite da Mercedes-Benz