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Peugeot 207 Passion vive da exclusividade de ser sedãzinho automático de verdade

No 207 Passion que testamos, o que interessa não aparece na foto: a transmissão automática - Murilo Góes/UOL
No 207 Passion que testamos, o que interessa não aparece na foto: a transmissão automática Imagem: Murilo Góes/UOL

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/02/2011 13h42Atualizada em 15/08/2012 14h40

Nos últimos três anos, o mercado automotivo do Brasil conheceu três alternativas ao câmbio automático tradicional (com conversor de torque), sistema que costuma acrescentar ao menos R$ 4.000 ao preço de qualquer modelo na comparação com suas versões manuais.

A Chevrolet criou o malsucedido Easytronic, que ficou limitado a um único carro da gama (Meriva). Em seguida, a Fiat lançou o Dualogic, em princípio no finado Stilo, depois levando-o a todos os seus automóveis de passeio -- até mesmo ao importado Cinquecento. Por fim, a Volkswagen apresentou o I-Motion, instalando-o primeiro em sua habitual cobaia, o Polo, e depois na gama abaixo do Golf. Todos esses câmbios são automatizados, vale dizer, possuem atuadores eletrônicos sobre um câmbio comum. A principal vantagem é dar descanso ao pé esquerdo, já que não há pedal de embreagem. A principal desvantagem é a imprecisão do sistema, que geralmente não é bem escalonado e dá trancos nas passagens de marcha.  

Peugeot e Citroën também oferecem carros compactos com transmissão que dispensa o uso do pé esquerdo, mas seus câmbios são automáticos do tipo "antigo" -- no caso, são Tiptronic, marca licenciada pela Porsche. Não é exatamente o último grito em matéria de transmissões, mas certamente oferece uma condução mais suave nos modelos franceses que o utilizam.

Por isso o 207 Passion, variação três-volumes da gama compacta da Peugeot, tem uma justificativa a mais para sua existência. Hoje, em termos de vendas, o carro supera Volkswagen Polo Sedan (que tem I-Motion) e Renault Symbol (só manual), mas perde de longe do Volkswagen Voyage (tem I-Motion), do Fiat Siena (tem Dualogic) e do Renault Logan (só manual). Tudo isso num segmento que fica cada vez mais confuso (e disputado) devido à mistureba de sedãs com preços, tamanhos de carroceria e conteúdos que não conversam entre si, o que os torna difíceis de enquadrar -- mas note que, dos carros citados acima, o Passion é o único que tem versões com câmbio automático "de verdade".

Para relembrar o funcionamento do câmbio Tiptronic num carro compacto da Peugeot, experimentamos um 207 Passion ao longo de uma semana. O resultado foi o esperado: o modelo tem muitas virtudes e muitos defeitos, exatamente como ocorre com quase todos os carros cujo preço começa com menos de "5" na dezena de milhar -- mas é uma verdade absolutamente inegociável que ele é melhor de dirigir do que qualquer similar dotado de câmbio automatizado.

Considerações sobre estilo, ergonomia e outros detalhes do Passion 207 acompanham as fotos de Murilo Góes, que podem ser vistas logo abaixo: 

Como o restante da gama 207, o Passion é cheio de pequenos aborrecimentos para quem o dirige. Entre outros, podemos citar a ergonomia falha nos comandos de vidros e trava elétricos, a baixa legibilidade do display do ar-condicionado, a ultrapassada iluminação em tom de laranja, o display do computador de bordo que obriga a desviar o olhar. Etc. etc. etc.

Mas o carro também é pleno de prazeres. O motor 1.6 é valente e bastante adequado ao peso do Passion (1.117 kg). Apesar de "bundudo", com um balanço traseiro meio exagerado, seu comportamento em curvas mais abusadas é bastante previsível, sem saídas de traseira -- um mérito do bom acerto da suspensão dessa parte do carro. As rodas de aro 15 calçadas por pneus bojudos ajudam a garantir o conforto na rodagem. Um senão é a direção hidráulica, que se mostrou excessivamente dura mesmo com o Passion parado ou em baixa velocidade, tornando mais cansativas as manobras em espaços pequenos (como garagens). No entanto, essa mesma rigidez é muito bem-vinda em velocidades de cruzeiro, especialmente nas estradas. A 120 km/h, o Passion fica "na mão" do motorista. Freios a disco nas quatro rodas equipados com ABS (antitravamento) são de série, e o sistema se mostrou confiável.

BOM MESMO É O CÂMBIO
Tudo isso dito, o principal trunfo desse Passion é a transmissão Tiptronic. Ela entrega apenas quatro marchas e o trilho para os engates não é dos mais felizes, situando ré e ponto-morto em posições, digamos, instáveis. Mas as críticas param por aí.

O sistema é dotado das posições Sport, que estica cada marcha até uma faixa de giros mais alta, e de outra indicada para pistas escorregadias -- sinalizada por um floco de neve, no Brasil ela é útil para dias de chuva, deixando a rodagem do sedãzinho mais travada (no bom sentido). No entanto, a principal qualidade do câmbio é o fato de ele trocar marchas de forma quase imperceptível, especialmente nas ascensões. Não há trancos como nos automatizados -- que vêm evoluindo, mas sem eliminar totalmente esse desconforto. O motor do Passion raramente grita quando se está no modo Drive, porque a maioria das mudanças é feita no giro correto. Hesitações aconteceram, especialmente em aclives, quando a segunda marcha se mostrou insuficiente e o câmbio pareceu se recusar a descer para a primeira. Aí fica por conta do motorista -- deslocando a alavanca para a esquerda, o modo sequencial é acionado.

Alimentado com etanol, aos longo dos 380 km que percorremos com ele, o Passion teve uma média de consumo muito ruim, de 6 km/litro em ciclo misto (urbano e rodoviário). Não é um problema específico, nem tampouco do gerenciamento feito pelo Tiptronic: os motores do grupo PSA têm mesmo muita sede.

Moral da história: quem está cansado de usar braço direito e pé esquerdo para trocar marchas (especialmente no trânsito urbano) deve considerar o Passion como um dos remédios mais eficazes -- principalmente porque ele não tem o efeito colateral dos trancos que agridem pescoço e paciência dos usuários de automatizados das grandes marcas. Um 207 Passion XS A/T sai por R$ 46 mil, segundo a Tabela Fipe. O Polo Sedan Comfortline I-Motion custa R$ 55 mil, o Fiat Siena Sporting Dualogic (top do modelo, com motor 1.6 E-torq) sai por R$ 48.980 e o VW Voyage Comfortline por R$ 44.255. O primeiro é infinitamente mais carro, o segundo tem um belo motor, o terceiro é mais barato -- mas nenhum deles possui um câmbio automático como o do 207.