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Chery QQ muda paradigma custando R$ 22 mil e fazendo 20 km/l

Chery QQ chega em março mais barato que Fiat Mille (R$ 24 mil) e Effa M100 (R$ 26 mil) - Murilo Góes/UOL
Chery QQ chega em março mais barato que Fiat Mille (R$ 24 mil) e Effa M100 (R$ 26 mil) Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/01/2011 14h42

Atenção ao pacote: direção hidráulica; ar-condicionado; rádio com CD/Player e entrada (mini-)USB; bancos traseiros rebatíveis; limpador do vidro traseiro; luzes de neblina; faróis com regulagem de altura; vidros, travas e espelhos retrovisores elétricos; alarme e travas de porta; duplo airbag frontal; cintos de segurança dianteiros com pré-tensionador; freios dianteiros a disco com ABS (antiblocante) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem); sensor de ré com aviso sonoro e gráfico. Quanto custa um carro com essa extensa lista de série?

A chinesa Chery, por ora instalada em Salto, interior de São Paulo, diz que custará cerca de R$ 22 mil. Isso acontecerá em março, quando o subcompacto QQ for oficialmente lançado no Brasil.

Mesmo completo, o QQ vai brigar pelo posto de carro mais barato do país (e obtê-lo, se cumprir todas as promessas). Atualmente, a disputa fica entre o rodado (atravessa sua quarta década de existência) e espartano (em matéria de equipamento) Fiat Mille, fabricado no Brasil, e um outro chinês, o Effa M100, que chega ao Brasil via Uruguai e é mais famoso por uma dupla falta de estrutura: de segurança e da rede pós-venda. Na Europa, o QQ desbancou os modelos da romena Dacia (que aqui no Brasil é mãe da Logan/Sandero da Renault) da posição de veículos mais em conta.

Oficialmente chamado de QQ 3 (há diversos QQ na China), o carrinho já foi mostrado ao público brasileiro durante do Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro passado. No Brasil, deve ser conhecido mesmo como QQ, embora a importadora ainda esteja definindo qual emblema adornará sua lataria (há ainda a chance de ele ostentar o 1.1, alusivo à motorização). Mas o que é, e o que representa, o QQ?

UOL Carros testou uma unidade do modelo -- justamente a que ainda passa pelo processo de homologação pré-venda -- por uma semana para responder a esta e outras questões.  

Já no retorno de Salto, onde buscamos o carro, o QQ chamou a atenção pela primeira vez. Foi num dos zilhões de pedágios da rodovia Castelo Branco. O motivo pode ter sido a cor amarela cítrica da carroceria, apenas umas das opções do modelo, que também contará com uma paleta padrão por aqui (no salão, uma unidade vermelha dava o tom no estande da marca). Ou talvez a frente arredondada, que lembra um "bicho de mangá" (não tem como não lembrar de personagens de Pokémon ou, localmente, do Bugu da Turma da Mônica), ou mesmo pelo  tamanho "cuticuti" do QQ, de 3,5 metros de comprimento, 1,48 m de largura e 1,49 m de altura, com 2,34 m de entre-eixos. Comparando, o QQ é menor, mais estreito e menos espaçoso que Ford Ka e Mille: 3,83 m, 1,64 m e 2,45 m para o Ford, e 3,69 m, 1,54 m e 2,36 m para o Fiat. "Já está à venda? Quanto custa? Gostei!", aprovou a moça que trabalha numa das cabines do pedágio.

O fato é que o QQ tem tudo para agradar não só a mulheres em busca de carros práticos e fáceis de manobrar, mas também a qualquer um que queira uma opção barata de primeiro ou segundo carro, que não pese no orçamento e que possa levar até quatro pessoas e alguma bagagem. Atualmente, a opção é buscar um modelo "pelado", sem qualquer conforto ou diferencial. Com o QQ, a Chery quer repetir a estratégia traçada para o SUV Tiggo, o médio Cielo e o "altinho" Face, mas com mais ímpeto no "mais por menos".

O QUE A CHERY OFERECE NO BRASIL

  • Murilo Góes/UOL

    Primeiro lançamento foi o SUV Tiggo, com jeito de mini-RAV4 e Ford EcoSport como alvo

  • Murilo Góes/UOL

    Depois veio o Cielo, com carrocerias médias de hatch (foto) e sedã e design Pininfarina

  • Murilo Góes/UOL

    O mais recente lançamento foi o Face, um hatch "altinho" com jeitão de monovolume

O objetivo é duplicar o nível de vendas da marca agora em 2011 e, no futuro, brigar forte no segmento de entrada -- tudo por conta do QQ. O carro é um dos cotados para ser fabricado no Brasil a partir de 2013, ganhando motor flex antes disso.

 COMO ANDA O CUTICUTI?
Unidade de teste de fábrica é igual carro de corrida: cheira a graxa e combustível e traz manchas dos dois componentes na carroceria e estofamento. Você verá algo assim em algumas das fotos que ilustram esta REPORTAGEM, mas não se preocupe. O QQ comprado numa das lojas da Chery a partir de março será tão limpo e honesto quanto qualquer carro popular de uma das marcas grandes e conhecidas do público brasileiro. Até mais, talvez.

Ressalvas apenas para o revestimento claro, que é mais suscetível a sujeiras e manchas permanentes. Ou para a ausência de alguns ajustes num carro que tem até itens caros de segurança: os cintos dianteiros não têm regulagem de altura, por exemplo, assim como os bancos traseiros não trazem encosto apropriado de cabeça (há dois calombos, que cumprem mal a função). Há também o porta-malas extremamente reduzido.

Outro fato: UOL Carros, assim como outros meios da imprensa especializada, geralmente testa carros pouco ou nada rodados, mas desta vez encarou uma unidade com mais de 13 mil quilômetros, com folga no volante, alguns ruídos de suspensão, freios mais morosos e ar-condicionado com alguma condensação -- a "fumacinha" nos levou por vezes a deixá-lo desligado, mas depois isso se mostrou um temor desnecessário: foi quando o fluxo de ar gelado se mostrou mais forte e constante que o de qualquer outro representante nacional.

COISAS BOAS, COISAS RUINS
Rodando, o QQ oferece uma boa experiência. Seu motor de 1,1 litro a gasolina fornece 68 cavalos de potência a altos 6.000 giros, com torque de 9,17 kgfm entre 3.500 e 4.500 rpm. Os números parecem mirrados, mas o QQ só tem 890 quilos e, por isso, quase "voa" com o empurrão do propulsor austríaco. Na cidade, é ágil e certamente nos ajudou a fugir de diversas situações de trânsito carregado. Na hora de parar, porém, tivemos de tomar algum cuidado com o freio "elástico", apesar do ABS. Manobrar, porém, é a tarefa mais fácil do mundo. A direção hidráulica é bastante leve e o QQ ainda conta com sensor de ré e uma espécie de indicador gráfico/métrico para mostrar por meio de barras vermelhas e verdes e com décimos de metro o quanto falta para chegar ao obstáculo/carro atrás. Sim! Mais até que um Mercedes-Benz.

Só alegria, então? Que nada. Como ocorre com os outros Chery, a suspensão do QQ ainda está a quilômetros de distância do ideal para nosso piso. Mole, solta, instável demais, causa desconforto em lombadas, valetas, buracos (e o Brasil está cheio disso), e também sustos em curvas mais fechadas, dividindo a culpa com o centro de gravidade mais alto (o hatch QQ quase lembra uma minivan) e rodas e pneus de aro 13. Na estrada de pista simples e mão dupla, num determinado momento da avaliação, iniciamos uma curva mais fechada feita com maior velocidade do que o recomedável para um carro assim, e fomos escorregando até terminá-la na outra faixa -- ou seja, na contramão (por sorte, não havia trânsito no sentido oposto). Mantenha-se, ainda, longe de caminhões e veículos pesados em geral: a turbulência vai jogá-lo para um lado indefinido (algo que ocorre com qualquer carro pequeno, mas cujo perigo é ampliado pelas imperfeições do QQ). 

Por fim, deveríamos passar por um posto de combustível, acionar o mecanismo no assoalho para abrir o bocal de asbatecimento (mais um dos mimos do carro, ao lado da abertura do porta-malas) e conferir quanto gastaríamos para manter os 35 litros do tanque de combustível. Mas quem disse que o QQ "colaborou"? A unidade testada trazia um econômetro no painel digital mostrando o consumo instantâneo, mas na medida européia de litros por 100 quilômetros. Ao longo do teste, uma conta mental indicava que o apontamento deveria estar perto de incríveis 20 ou 22 km/l. Para nossa alegria, e quem sabe futuramente para a sua, rodamos 411 quilômetros e devolvemos o carro à fábrica com combustível suficiente para rodar outros 300 km.

A conta final mostra que o cálculo "de cabeça" estava correto, mas nem um salto de imaginação poderia prever uma média de 20 km/l, a qual, junto com o "precinho" do QQ (em termos de Brasil, claro), pode ser suficiente para fazer uma pequena revolução no mercado nacional. Em breve saberemos se isso é sonho ou realidade.