Nem sempre o carro mais barato vende mais. Principalmente entre as chamadas marcas premium. Um exemplo é o Volvo XC60. Seus preços vão de R$ 138.500, na versão de entrada Comfort, até R$ 165.900 na configuração mais completa, batizada apropriadamente de Top. Valores acima de outros modelos da marca sueca, como o hatch C30 - entre R$ 86 mil e R$ 120 mil - e o sedã S40 - entre R$ 100 mil e R$ 135 mil. Desde que foi lançado, em fevereiro deste ano, o crossover médio mantém a surpreendente média mensal de 160 unidades vendidas - o dobro do que a Volvo imaginava na época do lançamento.
Tal desempenho fez a marca aumentar em quase 170% suas vendas no mercado brasileiro. Em julho desse ano, a Volvo comercializou no país um total de 215 unidades, contra uma média de 80 vendas mensais do ano passado. Desta forma, ultrapassou a alemã Audi - que em 2008 vendeu 109 unidades mensais e em julho desse ano comercializou 135 veículos - e assumiu o terceiro lugar na briga particular das marcas premium, atrás de Mercedes-Benz e BMW.O impacto mercadológico do XC60 também se faz valer pela imagem da montadora.

Afinal, a Volvo é uma marca premium e teoricamente o crossover brigaria com rivais de outras marcas premium. Só que o utilitário esportivo sueco tem preços que o distanciam dos concorrentes BMW X3, que começa em R$ 251 mil, Mercedes-Benz GLK, com preços iniciais de R$ 225 mil, e Audi Q5, que parte dos R$ 201 mil.

Pelos iniciais R$ 138.500, o modelo oferece uma lista de equipamentos bem fornida, que o torna competitivo para disputar consumidores de utilitários esportivos e crossovers de marcas generalistas. Desde o Chevrolet Captiva V6 AWD, com R$ 105 mil, passando por Mitsubishi Pajero Sport 3.5 V6 Flex - R$ 109.900 -, Kia Sorento EX 3.8 V6 - R$ 121.900 -, Toyota Hilux 2.7 4X2 aut. - R$ 124.900 -, Volkswagen Tiguan - R$ 124.190 -, Hyundai Santa Fe - R$ 129.900 -, Land Rover Freelander 2 - a partir de R$ 132 mil -, até o Ford Edge, que custa R$ 149 mil.

TECNOLOGIA OBSESSIVA
Só que o XC60 oferece, além da imagem de requinte, vasta tecnologia embarcada para a faixa de preço onde se situa. A começar pelos itens de segurança, uma espécie de obsessão dentro da Volvo. Em todas as versões, o modelo sai de fábrica com oito airbags, controles eletrônicos de estabilidade, de tração, de descidas e anticapotamento, sistema de prevenção ao efeito chicote - que desloca o encosto do banco para a frente em caso de colisão traseira -, freios com ABS e EBD, janelas laterais laminadas e repelentes à água, sensor de obstáculos traseiro, entre outros. Há também o Idis, um sensor em cada espelho externo que detecta quando um veículo passa no chamado "ponto cego" e emite um sinal luminoso.

O mais curioso, porém, é o City Safety, um dispositivo que atua em conjunto com o controle de cruzeiro. Em velocidades de até 30 km/h, ele monitora a distância para o carro à frente e aciona os freios sozinho caso haja o risco de colisão - a até 15 km/h, o sistema para o carro totalmente. A versão Top testada ainda conta com faróis bixênon autodirecionais e sensor de obstáculos - também disponível na versão intermediária Dynamic, que custa R$ 156.500. A Top também tem a mais, por R$ 165.900, teto-solar elétrico, sistema de qualidade do ar interior e descansa-braços traseiro.
Na configuração mais completa, esses itens se somam aos previsíveis ar automático, direção hidráulica, trio, controle de cruzeiro, computador de bordo, rádio/CD/MP3 com entrada USB, ajustes elétricos dos bancos dianteiros, revestimento em couro, retrovisores rebatíveis eletricamente, entre outros.

O XC60 Top não recebe opcionais, apenas acessórios de concessionária, que incluem desde câmara de vídeo para o sensor de estacionamento até DVD player, tela touch screen e detalhes externos como estribos em aço escovado. Um pacote que pode adicionar até R$ 20 mil ao preço final.

Mas de pouco adiantariam tantos requintes se o "powertrain" deixasse a desejar. Por isso, o modelo conta com um motor turbo com seis cilindros em linha, 3.0 litros, 289 cv a 5.600 rpm e um torque máximo de generosos 40,7 kgfm disponíveis entre 1.500 e 4.800 giros. A unidade de força trabalha com um câmbio Geartronic, de seis velocidades com opção de mudanças sequenciais e com uma tração 4X4 integral. Um conjunto mecânico que ajuda a Volvo a fortalecer o custo/benefício do XC60 em relação aos modelos rivais das marcas premium. E também a todos os outros que brigam na mesma faixa de preços.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
É bastante difícil sentir qualquer insegurança dentro do Volvo XC60. Só ao bater o olho na lista de itens do crossover médio, já se tem noção que ali está um típico veículo da marca escandinava. Além dos "previsíveis" controles eletrônicos de estabilidade e de tração, freios ABS e EBD e oito airbags, o modelo oferece controle de descida, faróis bixênon autodirecionais, sistema de proteção contra o efeito chicote e controle anticapotamento.

Só que nesse emaranhado de equipamentos, dois chamam a atenção: o controle de distância e o sensor de ponto cego.
Antes mesmo de prestar a atenção no desempenho do XC60, os dois dispositivos foram colocados à prova. O primeiro, que atua junto ao controle de cruzeiro e promete frear o carro na iminência de uma colisão, é, sem dúvida, o mais bacana. A 30 km/h - limite máximo de velocidade para o sistema funcionar -, um sensor monitora o trânsito à frente numa distância de até 10 metros. O dispositivo realiza 50 cálculos por segundo com base na diferença de velocidade entre o XC60 e o veículo da frente. Se o motorista se distrair e não pisar no freio, logo o sistema atua e freia o carro.

O sensor de ponto cego é outro bom aliado. Pontos luminosos nos retrovisores externos alertam que um automóvel ou uma moto estão passando por aquela parte do carro não captada pelo campo de visualização do motorista. Um equipamento bastante útil na hora de mudar de faixa ou de fazer ultrapassagens. E como o XC60 não é só uma parafernália de equipamentos de segurança, é na hora de ultrapassar que se descobre outras virtudes do utilitário esportivo. Até porque basta pisar no pedal direito do acelerador para se ter a pronta resposta do motor, que despeja seu torque por inteiro já a partir das 1.500 rpm.

Desempenho elogiável também graças ao motor seis cilindros turbinado que entrega com vontade seus 289 cv nas quatro rodas do XC60. Para completar, a transmissão automática de seis velocidades bem acertada não fica indecisa nem em retomadas, nem em trechos de subida - o 60 km/h a 100 km/h em quinta, por exemplo, foi feito em bons 6,2 segundos. Nas retas, as arrancadas também impressionam - zero a 100 km/h em 7,7 s - e foi possível levar o modelo aos 210 km/h. O melhor é que, nessa velocidade, o XC60 se mantém no chão, com uma comunicação precisa entre rodas e volante.

Seu equilíbrio dinâmico carrega vários dispositivos eletrônicos de segurança. Graças a isso, nas curvas o modelo não faz qualquer menção de adernar, ainda mais que a carroceria torce pouco. Nas freadas bruscas, o condutor sente o XC60 sempre na mão, mas o peso da traseira se faz notar e o modelo mergulha um pouco. Nada, porém, que desabone o crossover, que ainda se destaca tanto pela ergonomia quanto pelo bom nível de conforto. Só o consumo entrega a conta. A média foi de elevados 5,2 km/l com gasolina, em uso 2/3 urbano e 1/3 rodoviário. (por Fernando Miragaya)