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Nissan Grand Livina é versátil, mas leva apenas seis com conforto

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

15/07/2009 17h58

Há cerca de 20 dias, durante o lançamento do Grand Livina, a Nissan centrou suas forças no sentido de diferenciar ao máximo o novo modelo de seu monovolume Livina. Mais do que um simples "puxadinho", o Grand Livina foi apontado como um produto diferenciado: capaz de transportar sete pessoas (duas a mais que o irmão menor), com uma dose maior de requinte e conforto e ostentando um comportamento mais estradeiro, por utilizar apenas o motor mais forte da família, o quatro-cilindros de 1,8 litro, 16 válvulas, capaz de entregar 125/125 cavalos (com gasolina/álcool) e com 17,5 kgfm de torque máximo aos 4.800 giros.

  • Murilo Góes/UOL

    Grand Livina para até sete pessoas custa R$ 65.390 na versão mais cara: 1.8 SL automática

O objetivo foi apresentar o Grand Livina como opção para famílias unidas e ativas -- daquelas em que os membros saem juntos de casa a cada manhã, ficando cada um num diferente ponto do caminho, voltam juntos ao final do dia e ainda encontram tempo e disposição para viajar juntos nos finais de semana. E emparelhá-lo como opção ao modelo campeão de vendas no segmento, o monovolume da GM, Chevrolet Zafira (saiba mais sobre o concorrente ainda nesta reportagem).
 

VERSÕES E PREÇOS

1.8 M/TR$ 54.890
1.8 A/TR$ 59.490
1.8 SL M/TR$ 61.190
1.8 SL A/TR$ 65.390

Tomando estas informações como base, UOL Carros partiu para a avaliação do Grand Livina, em sua versão mais cara, a SL com câmbio automático de quatro marchas, que custa R$ 65.390. Colocamos o modelo fabricado em São José dos Pinhais (PR) para rodar cerca de 1.000 quilômetros, passando pelas principais rodovias do Estado de São Paulo, inicialmente rumo ao interior e depois enfrentando túneis e serra a caminho do litoral, reproduzindo alguns roteiros que podem muito bem ser feitos por famílias inteiras durante um fim de semana ou nas férias escolares.

O QUE É O GRAND LIVINA
Apesar de ostentar a grade sempre cromada, mais atraente que o padrão fosco utilizado em algumas versões do Livina, o Grand Livina é um modelo discreto, que pouco chama a atenção por seu visual, com rodas simples (aro 15), mesmo que de liga-leve e sem qualquer adorno "moderninho". Durante todo o teste, apenas um pessoa nos abordou para pedir mais informações sobre o veículo. Talvez uma mudança de abordagem, com foco no público mais jovem, modificasse a situação (a Nissan deve ter percebido o mesmo e já prepara a chegada da versão com aspecto "aventureiro" do Livina, a X-Gear)
 

Ainda assim, o primeiro contato com o Grand Livina pode provocar estranhamento a quem já conhece o Livina (que vendeu 577 unidades em junho e 1.160 no ano, de acordo com a Fenabrave). Leva um tempo até que o cérebro associe a imagem que recebe dos olhos a um carro novo e não, simplesmente, a um Livina que foi esticado em alguma funilaria. Embora, na parte técnica, não difira muito disso, uma vez que o novo modelo mantém a plataforma (com um prolongamento da balança traseira em 24 centímetros), mecânica (apenas a suspensão traseira e componentes responsáveis pelo isolamento acústico foram redefinidos) e até os 2,6 metros de entre-eixos do monovolume para cinco pessoas.

Dentro do carro, a tal diferenciação demora a se fazer notar, também. Sim, o painel em cor escura é mais classudo e os bancos e portas revestidos de couro parecem realmente mais bem acabados, embora a finalização propositalmente enrugada e em tons claros ("para lembrar o sofá da vovô e seu conforto", afirmam engenheiros e executivos da Nissan) tenha efeito controverso. Mas os mostradores (em três órbitas, com conta-giros, velocímetro e nível de combustível, além de hodômetro e luzes espias) e o console central são idênticos aos encontrados no Livina, em suas virtudes e defeitos. Sim, há um encosto para o braço entre os bancos dianteiros, de série apenas para a versão topo da gama, mas é pouco para evidenciar uma mudança de hábito.

Somente olhando para trás a ficha cai e o Grand Livina começa a mostrar seu potencial. Segundo a Nissan, o comprimento útil da cabine ("dos pés do motorista ao final do porta-malas") chega a 2,28 m. Na prática, a informação se traduz em mais duas fileiras de assentos e um pequeno espaço para carga (pequeno mesmo, pois haverá capacidade para apenas 123 litros se todos os bancos estiverem em uso). É com este espaço que a montadora promete transportar um total de sete pessoas, com conforto e requinte.

E é aí que está o problema também. O conforto neste caso é relativo e mesmo o total de passageiros transportados pode ser contestado. Tudo começa pela acomodação do motorista, que sofre para encontrar uma posição ideal: o volante tem somente o ajuste vertical, sem o acerto de profundidade; o banco tem os ajustes básicos, de deslocamento horizontal e inclinação do encosto, mas deixa o condutor sem o acerto de altura, nem apoio lombar (existentes no modelo da Chevrolet, por exemplo); e o cinto de segurança é fixo, sem variação de altura, o que segundo a fábrica não resultou em reclamação de nenhum dos compradores do Livina. Em nosso teste, porém, dores nas costas, joelhos e punhos se fizeram sentir ao final de cada condução.

  • Murilo Góes/UOL

    Visão a partir da primeira fileira de bancos mostra disposição para demais ocupantes do Grand Livina: na segunda fileira, um pretenso ocupante do assento central terá de se espremer e usar
    o saliente apoio de braço como encosto; mais atrás, bom espaço para até mais dois adultos

Na segunda fileira de assentos, tudo bem para os ocupantes dos assentos laterais. Mas o escolhido para ficar no meio do banco enfrentará dificuldades, uma vez que o espaço entre os outros dois ocupantes é reduzido, apertado mesmo, e o encosto que se converte em apoio de braços com porta-copos, caso seja rebatido, se transforma numa saliência incômoda para as costas, quando levantado. Vale lembrar ainda que o cinto de segurança nesta posição é do tipo subabdominal. Na terceira fileira, que se abre sobre o porta-malas, há mais espaço do que se supõe a princípio -- de acordo com a fábrica, são 2,5 cm a mais em relação ao encontrado no Zafira, o suficiente para acomodar relativamente bem até dois adultos, mesmo que tenham mais de 1,80 m de altura. Assim, podemos dizer que o Grand Livina transporta, sim, sete pessoas. Mas se a opção for o transporte com conforto, o número terá de ser reduzido para seis, com dois ocupantes em cada fileira.
 

RIVALIDADE FAMILIAR

  • Murilo Góes/UOL

    O movolume Chevrolet Zafira (acima, à direita, e abaixo, à esquerda) foi apontado pela Nissan
    como principal rival do Grand Livina.

    O modelo da GM, no entanto, é mais largo (1,99 m), mais alto (1,62 m) e mais espaçoso para os sete ocupantes (2,7 m de entre-eixos), embora o Grand Livina seja mais comprido (4,42 m contra 4,33 m).

    A potência também é maior no modelo que ostenta a gravatinha na grade: em qualquer uma das quatro versões, o motor será sempre um 2.0 de quatro cilindros e oito válvulas de 133/140 cv (g/a).

    A estratégia da Nissan é vencer pelo menor preço, uma vez que os valores cobrados pela Chevrolet são pelo menos R$ 7 mil mais elevados: Zafira Comfort a R$ 62.501, Expression a R$ 66.467, Elegance a R$ 70.015 e Elite, top, a R$ 74.932.

  • Murilo Góes/UOL

Para quem não precisa ou não quer saber de levar tanta gente, uma boa notícia: com o rebatimento dos bancos, o espaço para carga aumenta -- são 589 litros sem o uso da última fileira, 607 l com a utilização deste espaço e de mais 18 l de um compartimento existente sob o assoalho (não repare muito no acabamento de baixo custo, feito de um tipo de plástico encontrado em pastas e fichários escolares), e um total de 964 litros com as duas fileiras abaixadas.

Durante nosso teste, transportamos alguns móveis neste espaço com tranquilidade: o acesso ao bagageiro é amplo o suficiente e o Grand Livina não mostrou qualquer variação de comportamento mesmo mais carregado (a carga útil pode chegar aos 544 kg na versão automática).

PÉ NA ESTRADA
E comportamento tranquilo foi o padrão do Grand Livina no teste rodoviário, com trechos delimitados sempre pelo final do combustível (solução tomada, também, para permitir a aferição do consumo, uma vez que a família Livina não conta com computador de bordo). Com ou sem carga, em nenhum momento foi sentido um maior deslizamento da traseira ou qualquer alteração das suspensões -- independente do tipo McPherson com barra estabilizadora e subchassi com sistema antivibração, na dianteira, e por eixo de torção com barra estabilizadora e molas helicoidais, na traseira.

O motor também se mostrou versátil o suficiente para agradar a diferentes perfis de condutores. Num primeiro trecho, de pouco mais de 320 quilômetros, mantivemos uma condução mais suave e com velocidade variando entre 110 e 120 km/h. A conversa entre bloco e câmbio se deu sem engasgos, numa tocada tranquila.

Em outra parte do roteiro, desta vez encarando fortes aclives, seguidos por descidas íngremes, ficou claro que o trem de força tem bom equilíbrio: o torque oferecido desde baixas rotações evita a "gritaria" do bloco, inibe incertezas da transmissão e facilita a vida do motorista.

Em matéria de segurança, agrada a presença de série de airbags frontais para motorista e carona, embora os demais passageiros fiquem desguarnecidos (vale lembrar ainda que, nas versões mais básicas, airbag só para o condutor). A versão SL conta ainda com sistema ABS com controle eletrônico de frenagem (EBD) e assistência hidráulica (BA) para os freios a disco dianteiros; atrás, como em todo e qualquer Grand Livina, os freios são a tambor. A ausência mais sentida é a do sensor de estacionamento, a nosso ver indispensável em um veículo deste porte.

O consumo, por sua vez, não agradou de forma alguma. Rodando até o esgotamento do tanque (sempre com álcool) e fazendo os cálculos, obtivemos médias entre 6,4 km/l e 7,2 km/l. Pelos dados da fábrica, a média relatada deveria ter sido feita em trajeto majoritariamente urbano -- em rodovias, deveria ter ficado em cerca de 10 km/l.

O grande senão, porém, vem do ruído percebido no interior cabine. Embora a Nissan tenha frisado os avanços feitos em termos de isolamento acústico, o Grand Livina se mostrou tão barulhento quanto o Livina, e isso é algo que incomoda bastante. Em alguns momentos, fica difícil escutar o som produzido pelo sistema de áudio e, quase sempre, é impossível conversar com os demais ocupantes do carro sem ter de elevar demais a voz. E quem viaja com a família quer, acima de tudo, paz e sossego.