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Palio Weekend elétrica é real, mas alto custo ainda deixa perua perto da ficção

Ricardo Panessa

Especial para o UOL<br>Em Foz do Iguaçu (PR)

02/07/2009 16h44

Para ligar, basta fazer o contato da chave. Não é preciso girar. O ruído do motor é praticamente inaudível e lembra algum dispositivo funcionando bem distante. Para um motorista comum, a impressão é que o carro ainda está desligado, mas o mostrador no painel indica carga total da bateria e dá informações complementares de tensão, temperatura e corrente. A Palio Weekend elétrica, versão alternativa da perua da Fiat, está pronta para partir.

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    Com potência máxima imediata de 20 cv e torque de 5,1 kgfm já nos primeiros instantes,
    station wagon elétrica anda bem, mas preço de R$ 145 mil ainda distancia da realidade

UOL Carros avaliou o carro num percurso urbano, de cerca de 30 quilômetros. Não fosse pelos adesivos indicando tratar-se de um veículo em teste, a Palio Weekend elétrica passaria despercebida no trânsito. O carro responde prontamente as solicitações do acelerador, sai rápido nos faróis e ganha velocidade adequada ao fluxo do tráfego, além de não poluir e ser quase totalmente silencioso.
 

VISÃO DO FUTURO
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A alavanca de câmbio foi substituída por outra do tipo "joystick", com manopla comum mas atuando como a de um carro automático, com três modos: para frente, neutro e para trás. O motor elétrico dispensa o uso da caixa de câmbio tradicional e a transmissão do carro tem apenas um redutor de engrenagens e o diferencial, que leva a força para as rodas dianteiras. A suspensão e o conjunto de freios foram recalibrados e a parte elétrica compatibilizada com o novo conjunto de alimentação.

Ao primeiro toque no acelerador o carro responde prontamente, como um veículo normal, só que em silêncio quase absoluto. Em movimento, o ruído que se destaca é apenas o de rolagem, do contato dos pneus com o solo. O zunido do motor lembra os desenhos dos Jetsons, com seus carros voadores.
 

MUNDO ALTERNATIVO

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    Acima, o Tiguan HyMotion, elétrico com pilha a hidrogênio da Volks; abaixo, o híbrido Toyota Prius

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    No Brasil, o projeto de um veículo alimentado por energia alternativa aos combustíveis derivados do petróleo e ao álcool ainda está distante dos pátios das concessionárias, sobretudo pelo alto custo de desenvolvimento. Apenas recentemente, o governo federal anunciou a criação de um programa para acelerar a produção em massa do primeiro carro elétrico nacional, conforme noticiou o site parceiro AutoEstrada. A própria Fiat pode ser beneficiada pelo fomento público, caso vingue, uma vez que tem o projeto em avançado desenvolvimento -- para quem não lembra, a montadora mineira já mostrou os protótipos Palio elétrico e FCC2, espécie de bugue futurista apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, em 2008.

    A Volkswagen é outra montadora com fábrica no país a testar alternativas, mas o modelo escolhido é um SUV, o Tiguan. A aposta também é elétrica, mas com geração de energia feita por pilha de hidrogênio. A questão com o Tiguan HyMotion, como é chamado, é que ele é um projeto da matriz alemã da Volks, não da filial brasileira, que apenas recebeu uma unidade para testes.

    Ainda em 2008, no período pré-crise, a GM mostrou duas opções da marca Chevrolet com tecnologia híbrida (motor a combustão menor aliado a motor elétrico). Rodando para jornalistas no autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), o sedã Malibu e o utilitário Tahoe vinham dos Estados Unidos, onde custavam entre US$ 24.290 e US$ 50.490. Não havia previsão de comercialização dos modelos no Brasil, embora se cogitasse trazer o sedã movido a gasolina. Até que veio a crise e o abandono dos projetos.

    LÁ FORA
    Elétricos e híbridos já são realidade e brigam pela preferência dos consumidores. O mais famoso é o híbrido japonês Toyota Prius, em sua terceira geração, a preços entre US$ 22 mil e US$ 27 mil.

    O desafio do novo Prius é mostrar que está mais ecológico, com menores índices de emissão de poluentes e retomar a liderança de vendas no Japão e no Reino Unido, que já ostentou e ainda mantém nos EUA, do rival criado pela Honda Insight. A Honda, aliás, também é responsável pelo modelo a hidrogênio FCX Clarity.

    Do Japão também vem o supercompacto Mitsubishi i-MiEV, elétrico estimado em US$ 47.580, que tem como foco o público europeu e americano pregando a bandeira da emissão zero. Custa o dobro dos híbridos, mas pode ser recarregado em tomadas, como a Palio Weekend.
    (EUGÊNIO AUGUSTO BRITO, da Redação)

A Palio Weekend elétrica não voa, mas roda bem. O motor, importado da Suíça, gera potência máxima imediata de 20 cavalos (são 15 Kw) e torque máximo de 5,1 kgfm já a partir dos primeiros instantes. No papel, parece pouco. Mas na prática, demonstrou ser suficiente para dar arrancadas junto -- ou até na frente -- dos veículos movidos a combustíveis líquidos ou gasosos. Em acelerações mais empolgadas, chegou até a cantar pneu.

Externamente idêntica às demais versões, a Weekend elétrica pesa apenas 56 kg a mais. Mesmo assim, segundo a Fiat, é capaz de acelerar de 0 a 60 km/h em 9 segundos e atingir velocidade máxima de 100 km/h. Números inferiores aos veículos com motorização 1.0 a álcool ou gasolina, mas suficiente para um bom desempenho em uso urbano. Seu trunfo é disponibilizar a potência e torque totais já a partir do primeiro toque no acelerador.

O propulsor é refrigerado a água, tem pequenas dimensões e pesa somente 41,5 kg, deixando espaço livre dentro do capô. No entanto, a bateria de níquel que o alimenta é enorme e pesa cerca de 165 kg, ocupando praticamente todo o espaço do porta-malas. Os principais componentes químicos que a compõem são sais (cloretos de sódio e níquel) e outros metais, o que a torna quase que 100% reciclável, além de não conter nenhuma substância tóxica ou nociva à saúde.

Com carga completa, oferece autonomia de 120 quilômetros e demora oito horas para ser recarregada em qualquer tomada de três pinos e 220V, comuns em boa parte das casas e garagens.

PARA O FUTURO
A perua Palio Weekend elétrica, projeto que teve início em 2006, já é uma realidade, mas não está sendo produzido em larga escala. Por enquanto, ainda é economicamente inviável. A Fiat desenvolveu e produziu 21 unidades do modelo em parceria com a hidrelétrica Itaipu Binacional e a empresa suíça KWO, utilizando todos os componentes do trem de força importados, com taxação de IPI de 25%. Cada unidade custa hoje cerca de R$ 145 mil.

"Mas com a nacionalização desses componentes e eventuais incentivos na arrecadação do IPI, esse carro poderia custar, atualmente, cerca de R$ 86 mil", afirma Leonardo Cavaliere, supervisor de inovações da montadora.

A linha de montagem do modelo está instalada dentro da própria usina de Itaipu. A carroceria chega direto da fábrica de automóveis da Fiat, em Betim (MG), para receber no Paraná os componentes específicos do carro elétrico, como motor, transmissão e baterias.

As 21 unidades já produzidas estão sendo utilizadas por empresas ligadas à área de produção de energia e parceiras do projeto, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Foz do Iguaçu, visando a troca de informações e aprimoramento do projeto.

Segundo Cavaliere, as atuais instalações da linha de montagem podem finalizar até uma unidade da Weekend elétrica por semana, mas o objetivo é produzir 50 veículos até o final do primeiro semestre de 2010.

"Além de não poluir, vale lembrar que um carro como esse apresenta muito menor custo por quilômetro rodado. Comparado a veículos movidos a motores alimentados por combustíveis convencionais, é como se o elétrico fizesse 60 km por litro de gasolina", ressalta Cavaliere.

*Viagem a convite da Fiat do Brasil