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Cegos também querem "dirigir" e garantir uso de carros autônomos

A revolução dos autônomos é promissora para uma parte da população que pensava que nunca mais iria dirigir: os cegos - Reprodução/Youtube
A revolução dos autônomos é promissora para uma parte da população que pensava que nunca mais iria dirigir: os cegos Imagem: Reprodução/Youtube

Ryan Beene

Em Washington (EUA)

19/07/2017 19h36

Deficientes visuais dos EUA também querem que sua acessibilidade seja incorporada ao design do carro; projeto de lei chega à câmara

Anil Lewis estava dirigindo seu Ford Mustang conversível em um dia ensolarado em Atlanta (EUA), em 1988, quando quase atropelou uma pessoa que apareceu na faixa de pedestres em sua frente, aparentemente oriunda do "nada".

Foi nesse momento que Lewis percebeu que sua visão, já deteriorada, logo o impediria de dirigir. Agora, aos 53 anos e legalmente cego, a perspectiva de criação de veículos totalmente autônomos dá a ele esperanças de voltar a "dirigir" por conta própria.

"Isso se os veículos forem projetados corretamente e forem acessíveis", disse Lewis, que é diretor-executivo da Federação Nacional de Cegos Instituto Jernigan, que trabalha para desenvolver tecnologias e serviços que ajudam os deficientes visuais. "Eles criarão uma capacidade de locomoção que atualmente não existe", completou.

O futuro chegou

A revolução dos carros autônomos é promissora para uma parcela da população que pensava que nunca mais conseguiria dirigir um veículo: os cegos. Defensores do total estimado de 1,3 milhão de pessoas legalmente cegas dos EUA, e outros milhões de pessoas com outras deficiências, se uniram a fabricantes de automóveis e empresas de tecnologia para fazer lobby no Congresso para ajudar a estimular os autônomos.

Nesta quarta-feira (19), uma comissão na Câmara dos Representantes dos EUA analisa a primeira legislação sobre carros autônomos e os defensores dos cegos têm preocupações especiais: eles querem que a acessibilidade seja incorporada ao design do carro e que os estados evitem a aprovação de leis que proibiriam os cegos de um dia sentarem no banco do motorista.

Eles se posicionam contra o paradigma regulatório e setorial que pressupõe que motoristas enxergam a rua à sua frente. As autoridades e as empresas que trabalham em veículos totalmente autônomos -- que ainda estão longe de serem disponibilizados de forma generalizada -- estão só começando a enfrentar os novos desafios de garantir que os cegos possam se beneficiar da tecnologia... E já surgem alguns obstáculos.

Carro autônomo sem volante - Eric Risberg/AP - Eric Risberg/AP
Cegos norte-americanos querem que sua acessibilidade seja incorporada ao design dos carros autônomos e que os estados evitem a aprovação de leis que os proibiriam de um dia sentarem no banco do motorista
Imagem: Eric Risberg/AP

Não é bem assim

Alex Epstein, diretor sênior de estratégia digital no Conselho de Segurança Nacional, afirma que a tecnologia dos veículos autônomos ainda tem um longo caminho a percorrer para chegar aos veículos sem volante ou pedal de freio e à remoção do motorista da equação.

"Em teoria, o conceito é uma ideia maravilhosa", afirmou Epstein. "A questão é como a indústria automotiva e a indústria tecnológica chegarão a isso", alertou.

A visão das indústrias automotiva e tecnológica sobre as frotas de "táxis-robôs" poderia melhorar o acesso ao emprego e à educação, há muito tempo uma das prioridades políticas da Federação dos Cegos, disse o porta-voz da entidade, Chris Danielsen. O grupo está preocupado com políticas estaduais que poderiam limitar o acesso dos cegos aos veículos autônomos.

Os veículos autônomos que não exigem intervenção de humano apresentarão novos desafios em termos de política nos estados, que devem ser resolvidos para garantir que cegos e demais deficientes possam tirar o proveito máximo da tecnologia, disse David Strickland, conselheiro da Coalizão de Carros Autônomos para Ruas Mais Seguras e ex-diretor do NHTSA (sigla em inglês para Administração Nacional de Segurança Rodoviária dos EUA).

"Nós vamos passar de um modelo no qual as pessoas são motoristas para um modelo no qual as pessoas serão passageiros. Acabaremos segregando os deficientes no que diz respeito ao uso dessa tecnologia se as leis não forem alteradas", avisou.