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Uber já usa carros autônomos da Volvo na Califórnia... sem permissão

Volvo faz questão de exibir foto de seu XC90 autônomo com selo do Uber; startup esconde - Divulgação/Volvo Cars
Volvo faz questão de exibir foto de seu XC90 autônomo com selo do Uber; startup esconde Imagem: Divulgação/Volvo Cars

<br>Eric Newcomer

De Los Angeles (EUA), com Redação de UOL Carros

14/12/2016 20h23

App escolhe carro aleatoriamente; só não vai dizer que é "autônomo"

O Uber continua mergulhando de cabeça nos veículos autônomos. Mas não os chame dessa forma na Califórnia (EUA). A partir desta quarta-feira (14), o Uber permitirá que clientes em São Francisco peguem um carro autônomo, se tiverem essa sorte. A empresa passará a usar gradualmente modelos autônomos da Volvo, como o XC90, mas não revelou muitos detalhes sobre o lançamento, como, por exemplo, quantos veículos planeja usar.

Em anúncio feito inclusive no Brasil, a Volvo anunciou que ela e o Uber "estão investindo US$ 300 milhões no projeto". Além do SUV, que detém atualmente a tecnologia mais avançada da marca, está previsto o uso do sedã S90 e da perua V90, assim que os modelos forem lançados com a tecnologia autônoma.

Segundo a marca sueca, "os carros que serão utilizados em São Francisco são fabricados com base na plataforma modular SPA, uma das mais avançadas arquiteturas de veículos do mundo, utilizadas justamente nos modelos topo de gama". Mas essas são as declarações da Volvo, que também vai iniciar testes na Suécia, a partir de janeiro, com 100 carros autônomos entregues a clientes selecionados.

Atualmente, o Volvo XC90 já é vendido como modelo semi-autônomo -- quando a tecnologia apenas auxilia o motorista, sem eximi-lo do controle -- ao redor do mundo, até mesmo no Brasil. UOL Carros mostrou ao vivo um teste com o SUV na última semana, em vídeo que pode ser revisto aqui no Facebook de UOL Notícias. Durante o percurso, usou várias das funções semi-autônomas do modelo.

Mas não havia, ainda, qualquer uso do XC90 como modelo autônomo -- quando o carro pode abrir mão do controle do motorista. Até então...

Volvo XC90 autônomo do Uber 2 - Divulgação/Volvo Cars - Divulgação/Volvo Cars
Volvo XC90 autônomo do Uber é claramente um carro de teste: usa bloco com "gambiarra" de sensores e radares sobre o teto para enxergar outros carros e pessoas
Imagem: Divulgação/Volvo Cars

EUA querem registro

startup Uber, criada há sete anos, não possui permissão explícita do Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia (DMV, na sigla em inglês) para testar carros autônomos nas ruas. Por conta disso, a empresa colocou discretamente carros autônomos nas ruas de São Francisco há pelo menos algumas semanas sem tornar isso público, possivelmente violando a ordem do DMV. 

O Uber informou que tem compartilhado sua perspectiva de que seus carros não se qualificam como autônomos no DMV. Já a Volvo explicita o sistema autônomo em seu comunicado. Procurada por UOL Carros, porém, a marca ainda não se pronunciou sobre a licença para operar na Califórnia. 

O DMV da Califórnia exige que os provedores de veículos "autônomos" estejam registrados no Estado, algo que Google, Mercedes-Benz, Nissan, Cruise (serviço da da GM) e Baidu já fizeram. As empresas são obrigadas a emitir relatórios quando os motoristas intercedem ou quando seus carros se acidentam. 

A Tesla Motors é outra empresa a não apresentar nenhum desses relatórios e, de forma similar, acredita que não se enquadra nas regras válidas para os veículos autônomos.

O DMV informou que seu processo de permissão foi criado para garantir a segurança pública enquanto a tecnologia é testada: "Vinte fabricantes já obtiveram autorizações para testar centenas de carros nas ruas da Califórnia. O Uber deveria fazer o mesmo", informou a agência, em comunicado enviado por e-mail.

Autônomo em movimento

Embora os executivos do Uber utilizem a palavra "autodireção" e esbarrem pateticamente na palavra "autônomo", as definições aparentemente são motivo de debate. O DMV define um veículo autônomo como uma "tecnologia com a capacidade de conduzir um veículo sem controle físico ativo ou monitoramento de um operador humano".

Os carros autônomos do Uber terão dois humanos envolvidos, um pronto para segurar o volante e outro que irá monitorar os pedestres, direcionando o carro para mudar de faixa e ajudando a registrar incidentes.

Em uma dessas corridas, na terça-feira, um motorista assumiu o controle do veículo mais de 12 vezes em menos de 30 minutos. Os motivos: ele se preocupou quando o carro se aproximou demais de um pedestre, quando não deixou outro veículo passar para sua faixa e quando houve a possibilidade de travar o trânsito entrando em um cruzamento já repleto de veículos.

Outros motivos foram mais misteriosos. Às vezes o carro simplesmente entregava o controle ao motorista sem muita explicação. O motorista disse que o carro provavelmente estava ficando com os sensores sobrecarregados.

Nesse breve passeio pelo centro de São Francisco, quando outro carro buzinou para o veículo autônomo por tentar mudar de faixa, o motorista do Uber assumiu o controle do veículo.