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Como o acaso revelou a fraude que lançou Volks em sua pior crise

25/09/2015 12h43Atualizada em 28/09/2015 10h29

A revelação de que a Volkswagen instalou um software para enganar agências reguladoras e usuários sobre a emissão de gases poluentes em pelo menos 11 milhões de automóveis de seus veículos a diesel colocou a empresa alemã na pior crise de sua história. E a descoberta aconteceu por uma casualidade.

O responsável por ela foi o ambientalista Peter Mock, diretor do grupo International Council for Clean Transportation (ICCT, na sigla em inglês).

O grupo tentava pôr em prática seu objetivo, que era mostrar que os controles de emissão de gases poluentes na Europa são bem menos exigentes que os dos Estados Unidos.

Mock queria provar que os mesmos modelos de automóvel de uma mesma marca emitiam menos gases poluentes nos Estados Unidos do que na Europa -- tudo porque o controle das agências reguladoras em solo americano era mais rígido do que no continente europeu. Mas ele não imaginava o que iria encontrar.

Peter Mock, ativista do International Council for Clean Transportation - Thomas Trutschel/Getty Images - Thomas Trutschel/Getty Images
Peter Mock, diretor do ICCT, conduziu teste que desmascarou fraude alemã
Imagem: Thomas Trutschel/Getty Images

Método simples

No ano passado, uma equipe liderada por Mock se dispôs a estudar as emissões de poluentes de três modelos: Jetta e Passat, da Volkswagen, e BMW X5.

Por meio de um sistema portátil de medição de emissões de gases poluentes (PEMS), que pode ser colocado no porta-malas dos carros, eles fizeram o teste em parceria com a Universidade de West Virgínia, nos Estados Unidos.

E foi esse sistema que revelou a fraude da Volkswagen. Ele analisa diretamente toda a fumaça que sai do escapamento em tempo real enquanto o carro anda pela estrada.

A equipe testou vários veículos com o medidor de gases, em viagens de até 2.100 km, de San Diego a Seattle.

Enquanto o BMW X5 passou no teste, o Jetta, fabricado em 2012, registrou emissões de óxido de nitrogênio 35 vezes maiores que o limite por lei. Já o Passat, que era de 2013, registrou emissões 20 vezes acima do permitido.

"Esperávamos exatamente o contrário. Achávamos que os carros iriam passar no teste com as melhores taxas de emissões porque nos Estados Unidos há um controle rigoroso disso", disse à imprensa dos EUA Drew Kodjak, diretor-executivo do ICCT.

Os resultados do estudo alertaram a as autoridades ambientais da Califórnia, que iniciaram sua própria investigação.

E quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) foi envolvida no caso, a Volkswagen acabou tendo que reconhecer que havia instalado deliberadamente um software em até 11 milhões de veículos a diesel, que era utilizado para enganar agências reguladoras e usuários quanto às emissões de gases poluentes.

Instalou-se assim aquela que provavelmente é a pior crise da história da Volkswagen, justamente quando a marca havia conquistado o posto de maior fabricante de automóveis a nível mundial.

Presidente-executivo do Grupo Volkswagen, Martin Winterkorn - Jochen luebke/EFE - Jochen luebke/EFE
Presidente da VW desde 2007, Martin Winterkorn renunciou em meio ao escândalo
Imagem: Jochen luebke/EFE

Escândalo

O escândalo ganhou uma nova dimensão quando o executivo-chefe da empresa, Martin Winterkorn, pediu demissão na quarta-feira. Na Alemanha, país conhecido pela indústria automobilística e onde o ativismo ambiental é uma força política, a revelação causou choque e indignação.

Um jornal alemão chamou o caso de "o ato de estupidez mais caro da história da indústria automobilística".

Estúpido, segundo a publicação, porque manipular os dados de contaminação para melhorar as vendas só pode ser visto como uma bofetada na cara dos clientes que pagaram a mais pelo que pensavam que seria um carro menos poluente. E caro porque desde que a Volkswagen aceitou a responsabilidade pelo caso, suas ações caíram drasticamente.

A empresa também pode enfrentar multas de US$ 18 bilhões das autoridades americanas e o mais provável é que sofra um enorme prejuízo nas vendas futuras.

A empresa disse que reservará cerca de US$ 7,2 bilhões em suas contas do último trimestre do ano para cobrir parte dos custos do escândalo, assim como "outros esforços para conquistar novamente a confiança de nossos consumidores".