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Quer viajar com a moto na altitude? Fomos ao Himalaia e damos as dicas

Aventurar-se na altitude com rodas exige preparação física, equipamentos adequados e disposição para superar obstáculos - Leo Lucarelli/Divulgação
Aventurar-se na altitude com rodas exige preparação física, equipamentos adequados e disposição para superar obstáculos
Imagem: Leo Lucarelli/Divulgação

Arthur Caldeira

Da Infomoto, em colaboração para o UOL

05/12/2017 04h00

Como rodar de moto nas estradas mais altas do mundo

A aventura começou assim que recebi o convite da Royal Enfield para rodar de moto no Himalaia indiano. A região abriga as estradas mais elevadas do mundo, com altitudes que variavam de 3.500 a mais de 5.600 metros acima do nível do mar.

A maior parte do Himalaia indiano localiza-se na região de Ladakh, no estado de Jammu e Caxemira, norte da Índia. A cordilheira abriga mais de 50 picos acima dos 7.200 metros, incluindo o Monte Everest (com 8.848 m, a montanha mais alta do mundo), estende-se por cerca de 2.500 km e vai do Paquistão, ao Butão, passando pela Índia, Tibete e Nepal. Ladakh tem-se tornado o sonho dos moto-aventureiros de todo o mundo nos últimos anos, mas há décadas é o destino de muitos motociclistas indianos em suas Royal Enfield.

Mas além das grandiosas paisagens propiciadas do Himalaia, dos lagos de degelo de azul intenso e monastérios seculares, a região é cortada por perigosas estradas que serpenteiam as montanhas. Além disso, enfrentar o ar rarefeito e as temperaturas extremas. Tudo isso exige planejamento e preparo. Quer saber como planejar sua viagem sobre duas rodas nessas condições? Confira.

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1. Programa a viagem

Se você pretende se aventurar de moto no Himalaia indiano não há muita opção: só é possível percorrer as estradas da região no verão do hemisfério norte, ou seja, entre o final de junho e o início de setembro. Nas outras estações, as temperaturas podem cair a 40° C negativos e a neve fecha a maioria das estradas.

Em julho, alguns passos -- nome dado às estradas que atravessam picos, como Khardung La, a 5.602 m -- ainda correm o risco de estar fechados. O ideal mesmo é programar a viagem para agosto, quando o clima é mais agradável e as temperaturas variam entre 0° e 25° C. Não por acaso, época preferida dos motociclistas indianos para viajar em Ladakh e também a escolhida pela Royal Enfield para organizar o Moto Himalaya, que acontece entre 12 e 21 de agosto de 2018.

Nos Alpes europeus, muitos passos são verdadeiros parque de diversões para motociclistas, pelas inúmeras curvas e paisagens deslumbrantes. Embora as altitudes não cheguem perto do Himalaia, o clima também é frio no inverno e só é possível cruzar algumas estradas entre junho e setembro, o verão do hemisfério norte. Em alguns países, como a Suíça, por exemplo, é preciso também ficar atento aos limites de velocidade: há diversos radares e a fiscalização é rigorosa.

Na Cordilheira dos Andes, outro destino comum de motociclistas, muitas estradas chegam aos 3.000 m de altitude -- como o trecho entre Mendoza (Argentina) e Los Andes (Chile) --, podendo beirar os 5.000 -- o Passo Pirhuayani, no Peru, vai a 4.725 m acima do nível do mar. A melhor época para cruzar os Andes é entre setembro a março, por conta das temperaturas mais elevadas. "Andar de moto por lá no inverno [junho a setembro] implica em risco de estradas fechadas, por conta das nevascas, e piso escorregadio em função do gelo no asfalto", afirma o aventureiro paulista Diego Rosa, que já cruzou a Cordilheira dos Andes pelo menos 20 vezes de moto.

Antes de qualquer viagem é fundamental fazer uma revisão completa na moto: injeção eletrônica (carburação), lubrificação, arrefecimento e parte elétrica, além, é claro, de pneus novos.

2. Como definir o traje

Mesmo no verão, a amplitude térmica é elevada em regiões montanhosas. A cidade de Leh, capital de Ladakh, por exemplo, fica a 3.500 m acima do nível do mar e as temperaturas vão de 5°C durante à noite a 25°C de dia. Mas em locais mais altos, os termômetros chegaram a bater 0°C de dia, inclusive com a formação de flocos de neve. Os fortes ventos também influenciam na sensação térmica.

Por isso mesmo é importante escolher um equipamento de pilotagem versátil: traje ideal precisa ter ue tenha forro térmico removível para aguentar o frio e tecido externo respirável para quando o calor aumentar. Optei pelo conjunto "Dainese Tempest D-Dry", que tem uma membrana impermeável, pois, durante o verão, a neve do topo das montanhas derrete e forma diversos "rios" de água de degelo que cortam as estradas e você terá que atravessá-los.

Botas impermeáveis, dois pares de luvas (calor e frio), capa de chuva também são fundamentais para pilotar com conforto e segurança nessas condições. E não se esqueça do capacete: ideal é ser integral e ter a viseira interna escura, já que o sol pode brilhar forte durante o dia.

Royal Enfield Himalaia moto montanha 2 - Leo Lucarelli/Divulgação - Leo Lucarelli/Divulgação
Cuidados envolvem preparação física e definição do traje ideal
Imagem: Leo Lucarelli/Divulgação

3. O que mais é essencial

Depois de muito pesquisar e conversar com os poucos brasileiros que já viajaram à região de Ladakh, consegui dicas importantes sobre o que levar na mala, fora o equipamento da moto.

Roupas térmicas (segunda-pele), um saco de dormir para o frio, principalmente nos lagos, como o Pangong Tso e Tso Moriri, são fundamentais para enfrentar o frio.

Itens como papel higiênico (ou lenços umedecidos) e álcool gel também são essenciais. Em viagens como essa você nem sempre terá acesso fácil à rede de saneamento básico, além de encontrar pessoas de hábitos de higiene diferentes. Intoxicação alimentar e diarreias são frequentes entre os viajantes, portanto evite alimentos crus. É recomendável carregar barras de cereais, de energia e de proteínas na mala.

Na estrada, podem surgir imprevistos, ainda mais em estradas de terra e cheias de pedra como as do Himalaia indiano. Durante a aventura, contávamos com uma picape de apoio, mas se você estiver viajando sozinho, o ideal é levar uma caixa de ferramentas com algumas chaves do tipo fenda, Philips e fixas nas medidas utilizadas na moto. Não se esqueça da lanterna de cabeça, porque os problemas mecânicos não têm hora para acontecer.

Peças sobressalentes, como, manetes e pedais de câmbio e freio, podem ser a diferença entre ficar parado na estrada ou seguir viagem. Câmara de ar extra, remendos rápidos ou os populares "macarrões" podem resolver o problema no caso de um pneu furado. Você também vai precisar de espátulas para desmontar o pneu e uma bomba de ar para enchê-lo depois do conserto.

4. Preparo físico e pilotagem

Em nove dias de aventura no Himalaia, rodei pouco mais de 1.000 km. Neste tipo de aventura, mesmo quando a distância não é grande, o tempo que você irá passar sobre a moto é elevado.

Antes de encarar uma viagem assim -- seja no Himalaia, ou na Cordilheira dos Andes -- é importante estar acostumado a pilotar por muitas horas. Traduzindo: é importante ter o mínimo de preparo físico. É, mais ou menos, a mesma carga necessária para conseguir correr 5 quilômetros, por exemplo.

Antes da viagem, fiz um treino pedalando três vezes por semana por 1h30, intercalando com caminhadas e depois corrida leve por 1 h durante um mês.

Apesar de muitas estradas do Himalaia indiano estarem asfaltadas, é preciso ter familiaridade com técnicas de pilotagem off-road. Isso vale para outras regiões mintanhosas, também. Primeiro porque o clima variável (frio, que pode incluir neve; chuva; vento; sol forte...) destrói o asfalto. Depois há a chance de cruzar com muitos locais onde, simplesmente, não há estradas. Prepare-se para enfrentar trechos com muita pedra, alguns com areia e além de lama e até água nos rios de degelo.

Royal Enfield Himalaia moto montanha 3 - Divulgação - Divulgação
Não é só o frio: você pode ter de encarar ventos, sol forte e até rios formados por água de degelo
Imagem: Divulgação

5. Mal de altitude

Mas o que difere este tipo de aventura de qualquer outra viagem é, claro, a altitude. Assim, a dica essencial para viajar ao Himalaia -- ou a qualquer outra cordilheira -- é se aclimatar.

Ideal é subir aos poucos e, de preferência, chegar antes do momento da subida. Chegamos um dia antes em Leh, a 3.500 m (imagine que o ponto mais alto do Brasil é o Pico da Neblina a 2.995 m). No primeiro dia, a ordem de Tsering Wangchuk, médico local que acompanhava nossa aventura, era não fazer nenhum esforço físico, caminhar vagarosamente, beber muito líquido (água) e não ingerir álcool.

Mesmo assim, todos do grupo de 22 motociclistas tiveram algum sintoma durante a viagem: dor de cabeça, tontura, falta de ar, enjoos, insônia e até desmaios. Como não poderia desmaiar ao guidão da moto, consultei um médico que me receitou acetazolamida (vendido como "Diamox"), diurético que reduz a retenção de fluidos e evita o mal-estar. O principal efeito colateral é um formigamento na ponta dos dedos, além de que você terá que beber ainda mais água, pois irá urinar mais. Na altitude, como em qualquer aventura, manter-se hidratado é fundamental.

O grande perigo é o "mal de altitude agudo" que pode causar edemas cerebrais e pulmonares, e em casos extremos até a morte. Segundo o médico, "até mesmo os mais bem preparados fisicamente podem sofrer com isso". Caso apresente sintomas acentuados, o ideal é descansar ou descer para uma altitude menor.

Com tudo isso definido e a preparação feita, é aproveitar o percurso, curtir a paisagem e trazer boas lembranças na bagagem de volta.

* Viagem a convite da Royal Enfield