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Motos de luxo vendem como nunca no Brasil e desafiam pessimistas

Ícone da nova onda premium, Triumph já superou expectativa de venda em 20% - Infomoto
Ícone da nova onda premium, Triumph já superou expectativa de venda em 20% Imagem: Infomoto

Cicero Lima

Colunista do UOL

19/09/2014 18h34

Quem para num sábado qualquer no posto do quilômetro 29 da Rodovia Ayrton Senna, saída de São Paulo (SP) com destino ao literal norte do Estado, pode achar que está na Europa. As chamadas motos premium -- modelos de cilindrada mais alta, geralmente a partir de 500 cc, de marcas de luxo -- passam por ali com surpreendente frequência. São máquinas com preço inicial na faixa de R$ 23 mil, mas que podem chegar a exorbitantes R$ 275 mil, caso da Ducati 1199 Superleggera.

Mais do que indicar que muita gente gosta de viajar sobre duas rodas no fim de semana, o cenário mostra na prática aquilo que já aparece nos índices de venda: o segmento premium rema contra a maré e só faz crescer no Brasil, atraindo consumidores ávidos pelo prazer e status que só uma moto de maior porte consegue oferecer.

"Ou os compradores desse tipo de máquina têm muito dinheiro, ou encaram qualquer tipo de financiamento. Só não passam vontade", contou um vendedor do ramo, que não quis se identificar. Nessa lista dos desejos estão modelos pouco conhecidos dos brasileiros, como o maxiscooter BMW C 600 Sport.

É outro caso emblemático: vendido por R$ 52 mil, o modelo alemão já teve até fila de espera pela aquisição.

QUAL É A REALIDADE?
Diante de um cenário aparente de pessimismo sobre a economia brasileira, causa estranheza essa movimentação. Enquanto parte da sociedade insiste em bradar a "quebra" do país, parte da classe média aproveita para aumentar a lista dos que procuram uma motocicleta premium ao seu gosto nas lojas. Não importa se a compra será à vista, por financiamento ou consórcio: máquinas novinhas, grandes e reluzentes recheiam garagens.

À luz da razão, ninguém precisa de uma moto acima de 500 cc na sua garagem. Se levarmos em conta que o limite máximo de velocidade nas estradas brasileiras é de 120 km/h, qualquer 250 cc seria o bastante para uma viagem nesse ritmo. Ter um modelo maior, porém, envolve emoções além dessa visão pragmática: é algo ligado a desempenho, mas também a status, palavras às quais dos departamentos de marketing das fabricantes do segmento estão cada vez mais apegadas.

Ao contrário do alardeado, tudo isso só é possível graças, não à derrocada, mas ao crescimento da economia brasileira na última década, que atraiu as atenções de montadoras como a italiana Ducati, a americana Harley-Davidson e a britânica Triumph. Todas desembarcaram aqui e se deram bem rapidamente. A Triumph, por exemplo, chegou em 2012 com a meta de vender 2 mil unidades por ano, mas já superou esse número em mais de 20% no ano passado, emplacando 2.449.

Os índices mostram, portanto, que investir no Brasil está sendo um bom negócio: em 2009, os brasileiros compraram 34.786 motocicletas consideradas premium; no ano seguinte, foram 39.737. A linha de crescimento manteve-se apontando para cima em 2011, 2012 e 2013, e deve chegar ao patamar de 60 mil unidades em 2014, segundo a Abraciclo (associação das fabricantes de motocicleta). É recorde absoluto.

QUEM COMPRA
Esqueça seu preconceito: ninguém troca alimentação por duas rodas. Em sua maioria, o segmento premium é alimentado por empresários ou profissionais liberais -- gente que não tem problema para comprovar renda ou ter ficha aprovada. Para eles, as instituições financeiras estão de portas e cofres sempre abertos. 

Embora os economistas e parte da mídia enxerguem um horizonte negro pela frente, o que vemos nas ruas e estradas não condiz com o discurso. Se os números de vendas não impressionam, podem ser traduzidos em cifras: numa conta simples, as 1.497 unidades da aventureira BMW R 1200 GS vendidas em 2013, a partir de R$ 70 mil na versão básica, movimentaram perto de R$ 105 milhões. E estamos falando apenas de um modelo.

Pode até ser que os especialistas estejam certos quanto aos efeitos catastróficos do atual momento econômico brasileiro. Entretanto, o que se vê nas ruas e estradas do país são milhares de motos caras nas mãos de consumidores que não passam vontade. Nem têm medo do futuro. 

Cícero Lima, jornalista, é especialista em motos e no mercado de duas rodas