Topo

Moto também deve evitar enchente; água no meio da roda já é risco

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

17/01/2014 16h29

O paulistano já sabe: fim de tarde no verão é sinônimo de muita água caindo do céu e, com ela, vêm as "democráticas" enchentes. Os alagamentos não são "privilégios" de quem mora em São Paulo; na verdade, estão na categoria das calamidades mundiais que não escolhem vítimas. Acontecem igualmente na sofisticada Los Angeles, nos Estados Unidos, e na populosa Nova Delhi, na Índia.

Em São Paulo, alagamento é previsível: basta interpretar os sinais. Tempo abafado, vento forte, nuvens negras -- e motociclistas atônitos entre os carros.

  • Cícero Lima/UOL

    Os carros hesitam, mas os motoboys precisam desafiar as águas na 23 de Maio

Quem trafega próximo dos rios Tietê e Pinheiros e de seus afluentes deve ficar atento. Sim: nossos rios foram mortos por esgoto e poluição, mas têm afluentes que, unidos, "vingam-se" da cidade no verão. Sem dó, transbordam e inundam as ruas. Não importa a classe social, se sobre a moto ou dentro de um carro: patrão e empregado dividem a mesma enchente.

Neste verão, a Prefeitura de São Paulo implantou um sistema que pode ser chamado de "Quem avisa, amigo é". Dezenas de faixas espalhadas pela cidade alertam os motoristas sobre o risco de alagamentos nas vias daquele ponto. Quem passa de Honda CG 125 pela avenida Aricanduva, uma das mais movimentadas da zona leste, pode vê-las, assim como as madames que dirigem SUVs na nobre região do Ibirapuera (zona sul).

Valentes, os motociclistas geralmente não se intimidam com as águas: vão à luta e encaram os "lagos urbanos". Porém, um pouco de medo seria bem-vindo, pois evitaria prejuízos e acidentes. Veja alguns riscos e as dicas de especialista:

OLHA O NÍVEL
Mecânicos aconselham o piloto a estar atento à altura da água ao atravessar uma enchente. Se passar do meio da roda, é preciso tomar cuidado. Isso porque as partes mais vulneráveis da motocicleta são a entrada de ar e a saída de escapamento.

MOTOR CONDENADO
O primeiro caso é o mais grave: caso a caixa do filtro de ar ou o duto de admissão estejam alojados na parte baixa da moto (como é na maioria dos scooters), é bom ficar longe das enchentes, pelo risco de sérios danos ao motor. Se a água for sugada para dentro da câmara de combustão, já era!

COM GÁS
Proteger o escapamento é mais simples: como num carro, deve-se usar uma marcha baixa (primeira ou segunda) e manter o giro do motor elevado. Dessa forma, o fluxo de gás expelido pelo escapamento é forte o suficiente para barrar a entrada de água no motor.

DESLIGADO
As motos mais altas, como as aventureiras, convivem melhor com as enchentes, mas há restrições. Se o nível de água estiver próximo ao cabeçote, ela pode atingir componentes elétricos como vela de ignição, bobina, modulo de injeção etc. Nos modelos mais modernos, o módulo de injeção é protegido, mas não vale a pena arriscar.

MAROLA
Além dos problemas mecânicos, ao cruzar enchentes o motociclista pode cair em buracos, bater nas guias, colidir com placas sinalização... Mas, se ainda assim o motociclista resolver encarar as águas, deve ficar atento às ondas provocadas por caminhões ou ônibus (que encaram melhor os alagamentos), que podem desequilibrar a moto e causar quedas.

MOTOCICLETA OU BARCO?

  • Motociclista tailandês mostra como se faz para passear num "rio" numa boa

Há quem desafie a razão para mostrar como submergir sua moto sem problemas. No vídeo acima, um piloto supera uma enchente na Tailândia, que cobre sua moto inteira, usando uma "gambiarra" (mangueiras na saída do escapamento e na entrada do ar) e isolando as partes elétricas. A cena é quase hilária, e mostra a capacidade do ser humano em superar calamidades. Já no vídeo abaixo, um piloto experiente perde sua moto (mas salva a sua vida) ao desafiar uma enchente que parecia inofensiva.

ACHOU QUE ERA FÁCIL...

Cícero Lima é especialista em motociclismo